Diante dos reflexos da pandemia do novo coronav�rus e de uma crise pol�tica agravada pela sa�da do ministro S�rgio Moro do governo, o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, v� como o principal risco a possibilidade de o Pa�s deixar de lado a agenda de equil�brio fiscal. Na vis�o do executivo, a covid-19 ressaltou a import�ncia do papel do Estado, mas mostrou que as crises vir�o e ser�o cada vez mais frequentes. "As na��es que v�o poder melhor enfrentar as crises s�o aquelas com maior equil�brio fiscal. O Brasil tem de recuperar capacidade fiscal para a pr�xima crise, que n�o vai levar 50 anos", afirmou Rial, em entrevista por videoconfer�ncia para comentar os resultados do primeiro trimestre.
O Santander conseguiu, pela primeira vez, ultrapassar a marca de R$ 1 trilh�o em ativos totais em sua opera��o brasileira, encostando, agora em tamanho, nos concorrentes privados. O motor veio do cr�dito a empresas, com o banco desembolsando mais de R$ 70 bilh�es para o segmento no per�odo, de acordo com Rial. A crise ainda n�o deixou marcas nos resultados do Santander Brasil, mas j� h� sinais de aumento dos calotes nos pr�ximos trimestres. O lucro l�quido do banco cresceu 10,5% no primeiro trimestre ante um ano, para R$ 3,853 bilh�es. Com tal desempenho, a participa��o do Brasil no resultado global do conglomerado espanhol voltou a subir para 29%.
Como o banco est� vendo o impacto da crise para os pr�ximos trimestres?
Abril foi um m�s desafiador. J� tivemos queda de volume de mais de 35% cart�o de d�bito e cr�dito, e isso vai ter um impacto importante na receita. No que diz respeito � inadimpl�ncia, tomamos a decis�o, como todo o sistema, da renova��o, reestrutura��o e prorroga��o porque acreditamos que a aus�ncia de fluxo de caixa em tr�s meses n�o necessariamente tem de levar � inadimpl�ncia. O que temos de esperar para responder � o impacto do n�vel de desemprego. Existiram v�rias medidas para amenizar isso. A primeira foi o financiamento das folhas de pagamento. Outra � a campanha N�o Demita, que ajudamos a liderar.
Quanto o banco j� emprestou nesta linha, na qual 85% dos recursos v�m do Tesouro?
Quando o governo e os bancos desenharam essa linha, ningu�m sabia o quanto seria tomado em recursos. A demanda fica a merc� da empresa querer ou n�o. Tivemos um desafio de comunica��o de algo que nunca foi feito na hist�ria do Brasil e dificuldade da pr�pria infraestrutura dos bancos de sermos claros em explicar como seria o acesso. A sinaliza��o que estamos vendo � que, para este intervalo de empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil a R$ 10 milh�es, parece ser um disp�ndio mais de R$ 7 bilh�es a R$ 10 bilh�es do que R$ 40 bilh�es. Muitas empresas talvez n�o queiram.
O que isso significa?
Que existem potencialmente R$ 30 bilh�es para fazermos coisas diferentes. Podemos alterar o intervalo (de faturamento) e em vez de R$ 10 milh�es, levarmos a R$ 30 milh�es ou R$ 50 milh�es. Podemos pensar juntamente com equipe econ�mica em um fundo garantidor e que permita uma abrang�ncia maior para empresas. O que � importante � que existe mobiliza��o dos setores privado e p�blico para dar liquidez �s pequenas e m�dias empresas.
Como o senhor v� a demanda por cr�dito na crise?
Vai se estabilizar. Tivemos um aumento importante. Existiam d�vidas de represamento. Os n�meros mostram que n�o: R$ 70 bilh�es a mais para empresas no nosso caso. Existe liquidez e h� desenhos que est�o sendo constru�dos pela equipe econ�mica e o setor privado para diversos setores. N�o tem nada mandat�rio. Algumas empresas, por exemplo, preferem n�o aderir ao financiamento da folha de pagamentos porque querem ter a flexibilidade se quiserem demitir. Estamos instruindo, mostrando que custa mais caro que outras linhas, mas tudo � um aprendizado.
Qual a grande diferen�a dessa crise para outras?
V�rias, mas esta tem uma muito diferente. N�s nunca tivemos Selic a 3,75% e propens�o a pagar a prazo. No Brasil, o prazo as crises passadas era de seis meses. Hoje, falamos em uma car�ncia de 6 meses. O Brasil conseguiu chegar a uma maturidade monet�ria que permite, de maneira correta e com prazo, dar capacidade a empresa e pessoas f�sicas de pagarem. S�o elementos novos de uma crise que nunca vivemos no Brasil.
Se n�o bastasse a crise de sa�de, o Brasil viu sua crise pol�tica acentuada na �ltima semana. Qual a sua leitura?
Acredito muito na lideran�a da equipe econ�mica. Tem sinaliza��o correta no sentido da ader�ncia de uma cultura de equil�brio fiscal. Acho que o grande risco do Brasil agora � a gente esquecer que n�o h� nada mais importante do que o equilibro fiscal. A covid-19 demonstrou algo que acredito que fique por bastante tempo: n�s vamos continuar enfrentando crises que n�o seremos capazes de prever. Tivemos a crise em 2008 que ningu�m necessariamente viu nos Estados Unidos e que se transportou para a Europa, em 2010. Em menos de dez anos, temos uma crise que jamais imaginamos que o planeta iria enfrentar. As na��es que v�o poder melhor enfrentar as crises s�o aquelas com maior equil�brio fiscal. E a gente v� exemplos ao lado do Brasil como Peru e Chile ou o pr�prio M�xico com uma capacidade fiscal muito maior. O Brasil tem de recuperar capacidade fiscal para a pr�xima crise, que n�o vai levar 50 anos.
E quanto ao papel do Estado na crise?
Outra quest�o importante para aqueles que ficam discutindo se � liberal ou n�o � a import�ncia do Estado. Em momentos dessa envergadura, espero que tenha ficado claro a import�ncia de termos um Estado porque o mercado sozinho jamais seria capaz. Ent�o, tamb�m, dentro desse contexto � a revaloriza��o do Estado, do Minist�rio da Sa�de e do SUS, que � um sistema com um trip� super bem organizado. O Brasil, sem o SUS, estaria numa situa��o muito mais ca�tica.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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