Milh�es de flores est�o sendo transformadas em adubo ou indo para o lixo todos os dias no pa�s devido � pandemia do coronav�rus. Com o isolamento social determinado pela lei da quarentena, festas de anivers�rio, noivados, casamentos e at� vel�rios foram suspensos, deixando 8,3 mil produtores, a maioria no Estado de S�o Paulo, sem clientela. No Brasil, oitavo maior produtor global, as perdas chegaram a 90% no in�cio da pandemia e, nas �ltimas semanas, se estabilizaram em 60%.
O presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Kees Schoenmaker, afirma que as demiss�es j� come�aram. "No fim de mar�o, j� t�nhamos 1,5 mil colaboradores desligados. S� em Holambra (SP) foram 610 pessoas. O produtor ainda est� com esperan�a de que algo melhore at� o Dia das M�es (no pr�ximo domingo). Se isso n�o ocorrer, podemos ter a fal�ncia de at� 66% das empresas e chegar � perda de 120 mil empregos", disse.
A cadeia produtiva da flor movimenta R$ 8,27 bilh�es por ano e gera 210 mil empregos diretos e mais de 800 mil indiretos no Pa�s. S� em mar�o, o setor deixou de faturar R$ 297,7 milh�es, incluindo floricultores, atacado e varejo. Os mais atingidos s�o os produtores de flores e plantas de vaso, que s�o mais perec�veis. "A flor de corte representa 25% do mercado, e as vendas despencaram. A quantidade de produto que se joga fora � imensa. Hoje, nem para vel�rio e enterro estamos vendendo flor", diz Schoenmaker.
Ele conta que nem sempre � poss�vel reduzir a produ��o, pois as mudas, encomendadas h� um ano, est�o plantadas e produzindo. Entre as flores mais cultivadas para corte ou vaso est�o as rosas, ant�rios, violetas, cris�ntemos, cravos, beg�nias, l�rios e orqu�deas. Devido � oferta alta e � baixa demanda, o que se vende, segundo ele, sai a pre�os at� 50% menores.
Perdas
Em Holambra, cidade do interior paulista conhecida como a "capital nacional das flores", as duas principais cooperativas brasileiras descartam parte da produ��o desde o in�cio da pandemia. "Orientamos nossos cooperados a reduzirem a colheita. Calculamos que cerca de 60% da produ��o foi descartada na �ltima semana. Nas primeiras semanas da pandemia tivemos mais de 90% de descartes", disse o diretor geral da Cooperflora, Milton Hummel.
"No momento, estamos com faturamento em queda de 70% sobre o mesmo per�odo do ano passado", diz Hummel.
Na cidade de 15 mil habitantes, o clima � de funeral, como definiu o secret�rio de agricultura e meio ambiente Nilson Marconato. Dois eventos previstos para este m�s, foram adiados para junho, mas n�o devem acontecer. "Estamos tentando salvar a Explofora, o maior evento de flores do Pa�s, que atrai 300 mil pessoas, previsto para agosto", disse Marconato. Segundo ele, o impacto sobre a economia da cidade ainda n�o foi calculado. "Ser� grande, pois j� est� havendo demiss�o."
Abertura
O Brasil tem 60 centrais de atacado de flores e folhagens, incluindo as cooperativas, 680 grandes atacadistas e empresas de servi�os e 26 mil floriculturas. A �rea de cultivo se estende por 15,6 mil hectares. O Estado de S�o Paulo cultiva 6,9 mil hectares, principalmente nas regi�es de Holambra, Atibaia, Mogi das Cruzes e Ibi�na. S�o Paulo det�m a metade da produ��o nacional e 56% do valor da produ��o, j� que os valores m�dios recebidos s�o maiores que em outros Estados. Boa parte da produ��o � feita em estufas com temperatura, luz e umidade controladas.
O presidente da Ibraflor defende a reabertura das floriculturas. "Em todo o mundo atingido pela pandemia, inclusive nos EUA, as floriculturas funcionam. Nosso pleito � para que as todas as floriculturas do Pa�s possam abrir." Atualmente, apenas os Ceasas de S�o Paulo e Campinas e os supermercados continuam comercializando flores.
No caso dos mercados, as grandes redes imp�em pre�os baixos ao produtor. "� uma situa��o nova e horr�vel. As grandes redes � que s�o as mais insens�veis e, hoje, elas t�m a exclusividade do mercado", disse Schoenmaker.
Demandas
O comit� de crise criado pela Ibraflor e pelas duas maiores cooperativas calcula que, at� o fim de junho, os produtores v�o precisar de R$ 620 milh�es para capital de giro, pagamento de insumos e cobrir a folha de pessoal. O pleito � de que o aporte seja com juros fixos de 4% ao ano, com 12 meses de car�ncia e tr�s anos para pagar. O valor leva em conta que o Dia das M�es e o Dia dos Namorados, duas das datas mais importantes do setor, estar�o inseridas nesse per�odo.
Para as parcelas a vencer dos financiamentos de custeio agr�cola e investimentos, o setor pede uma prorroga��o de 12 meses. "Se n�o houver apoio financeiro, os produtores ter�o que fazer demiss�es", afirmou o diretor da Cooperflora.
O Minist�rio da Agricultura e Pecu�ria (Mapa) informou ter autorizado financiamento para estocagem e comercializa��o, em apoio a cooperativas, agroind�strias e cerealistas, com limite de R$ 65 milh�es por benefici�rio. Para as cooperativas familiares, a taxa de juros ser� de 6% ao ano e para as demais empresas, de 8%. O prazo para pagamento ser� de 240 dias.
Os pequenos produtores de flores ter�o ajuda de uma linha especial de cr�dito do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf) de R$ 20 mil por fam�lia, com juros de 4,6% ao ano, para pagar em 36 meses. Foi criada tamb�m uma linha de cr�dito para m�dios agricultores, com limite de R$ 40 mil e juros de 6% ao ano.
Alternativa
Entre as a��es em redes sociais para estimular o consumo de flores, as cooperativas e o Ibraflor lan�aram a campanha "Flor, Alimento para a Alma", incentivando a compra individual de flores para aliviar as ang�stias do isolamento social. J� o movimento "Eu Vivo das Flores" refor�ou que a natureza n�o para e os produtores tamb�m n�o conseguem parar. "Seguimos promovendo floriculturas que trabalham com delivery e incentivando compras em supermercados", disse Hummel.
Passado o impacto inicial, em que imagens de flores sendo processadas para virar adubo repercutiram em redes sociais, os produtores torcem pela supera��o crise. "N�o podemos parar. � nossa miss�o, enquanto cooperativa, ajudar a comercializar os produtos dos nossos associados. Vamos procurando alternativas para continuar levando a emo��o das nossas flores at� as pessoas", diz Thamara D'Angieri, gerente de marketing da atacadista Veiling, de Holambra. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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