O pedido de demiss�o de Nelson Teich do cargo de ministro da Sa�de, na manh� da �ltima sexta-feira, 15, n�o chegou a ser uma surpresa. Ele n�o se mostrou disposto a ceder � press�o do presidente Jair Bolsonaro em dois aspectos importantes envolvendo a pandemia do coronav�rus: o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 e o relaxamento das medidas de isolamento social, que tentam conter a dissemina��o do v�rus.
"O mercado financeiro j� tomou isso como dado: o pr�ximo ministro da Sa�de ser� alinhado � vis�o de Bolsonaro, que ignora completamente a ci�ncia", afirma Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. "E isso vem no pior momento da pandemia no Pa�s, com expectativa de que o n�mero de mortos suba muito nos pr�ximos dias."
Na opini�o de Rafael Panonko, chefe de an�lises da Toro Investimentos, a instabilidade pol�tica � ainda mais preocupante para o mercado do que a posi��o adotada pelo pr�ximo ministro da Sa�de. Ele critica a falta de alinhamento e comunica��o do presidente com seus ministros, o Legislativo, os Estados e munic�pios. "Isso atrasa a recupera��o, as coisas ficam para o ano que vem. E isso tem um custo. O crescimento torna-se p�fio, muito abaixo do esperado", comenta ele.
Como consequ�ncia, o investidor reage com desconfian�a - sendo que o estrangeiro passa a preferir direcionar o seu dinheiro para outros pa�ses - e a Bolsa entra no que Panonko chama de "zona de congest�o".
A sa�da de Teich marca a nona baixa de um ministro no governo Bolsonaro e a terceira ap�s o in�cio da pandemia do coronav�rus. Antes dele, Luiz Henrique Mandetta, que tamb�m ocupava a cadeira da Sa�de, e S�rgio Moro, que estava no Minist�rio da Justi�a e da Seguran�a P�blica, divergiram do presidente e deixaram o cargo.
Agora, o que continua preocupando os principais agentes do mercado financeiro � o futuro de Paulo Guedes, ministro da Economia.
"N�o existe hoje outra pessoa ou entidade que possa fazer o trabalho dele: algu�m do Congresso mais alinhado com o presidente, ou um cara forte no Senado que puxasse votos para a aprova��o das reformas. Quem pode manter as reformas em pauta � apenas o Paulo Guedes", diz Rodrigo Franchini, s�cio da Monte Bravo. "Sem ele, Bolsonaro pode querer dar uma guinada populista para tentar se reeleger."
Fernando Borges, gestor de a��es da Garde Investimentos, compartilha a mesma opini�o. "Bolsonaro est� vivendo aquele 'momento Dilma', quando ela se viu obrigada a mudar o rumo do governo para permanecer no poder", compara ele. "Que ele fa�a um ajuste em menor escala, ent�o. Mas n�o v� em dire��o � expans�o fiscal."
Na cabe�a do gestor
Para sentir os temores dos principais gestores do Pa�s, o Bradesco BBI tem feito peri�dicas consultas neste per�odo de pandemia. Durante os dias 4 e 5 de maio, 101 representantes das principais casas de gest�o de recursos do Brasil avaliaram as perspectivas para os mercados e a economia do Pa�s. Esse foi o terceiro levantamento da institui��o desde que a pandemia come�ou. Os anteriores foram feitos em mar�o e abril.
Nesta nova pesquisa, o Bradesco BBI verificou que a sa�da de Paulo Guedes do governo � o principal risco que o Pa�s corre, na vis�o dos agentes do mercado financeiro. Al�m disso, houve uma n�tida piora na avalia��o sobre o tempo necess�rio para a volta � normalidade e, consequentemente, sobre o desempenho esperado da economia.
A reportagem listou as principais conclus�es que o Bradesco BBI fez com base nas respostas das gestoras:
Principal risco
Segundo o levantamento, o principal risco que os gestores enxergam para o Pa�s no momento � o ministro da Economia sair do governo (40,6%). Em seguida, est�o a segunda onda da covid-19 (34,7%) e a fal�ncia das empresas brasileiras (14,9%). Sobre a probabilidade de Guedes deixar o cargo, 41,6% acreditam que h� entre 10% e 30% de chances. Outros 24,8% responderam que essa possibilidade est� entre 30% e 50%, enquanto 14,9% apontaram entre 50% e 70%.
Demora na retomada
H� tamb�m uma nova avalia��o sobre a retomada da economia. No levantamento feito h� um m�s, 16% dos consultados acreditavam que as atividades voltariam ao normal at� o fim de maio e 56% somente de julho em diante. Agora, ningu�m espera que isso ocorra at� o fim de maio: 68% creem que ocorra no terceiro trimestre do ano e 24% somente depois de setembro.
D�lar alto
Na primeira enquete, 30,7% dos gestores acreditavam que o valor da moeda americana no final do ano seria entre R$ 4,91 e R$ 5,10 ou acima de R$ 5,10. Agora, 40% deles acreditam que a cota��o ser� acima de R$ 5,30 no final deste ano, 27% entre R$ 5,10 e R$ 5,30 e 23% entre R$ 4,91 e R$ 5,10. H� um m�s, o valor esperado para a moeda americana era de R$ 5 no final de 2020. A cota��o atual � de R$ 5,86.
Varejo em alta
Segundo dados da enquete de abril, o top 3 de setores que os gestores comprariam para adicionar ao seu portf�lio seriam o el�trico (20,2%), o de bancos (20,2%) e o do varejo (16%). Na pesquisa do m�s de maio, o top 3 continua o mesmo, mas em ordem diferente. Segundo os dados, agora os gestores t�m prefer�ncia para adicionar ao seus portf�lios a��es de empresas do setor de varejo (20,2%), bancos (18,2%) e el�trico (15,2%).
Fugindo do risco
Os dados do segundo levantamento mostraram que 65,3% dos gestores responderam "n�o" quando perguntados se pretendiam aumentar o beta (maior risco para buscar mais retorno) do seu portf�lio nos pr�ximos dez dias. J� na terceiro, 80,08% responderam que "n�o" t�m a inten��o de aumentar o beta do seu portf�lio nos pr�ximos 30 dias.
Ofertas secund�rias
Perguntados na pesquisa do Bradesco BBI se teriam interesse em participar de ofertas secund�rias de a��es e de quais setores, 40% dos gestores responderam que est�o de portas abertas para a �rea da sa�de. Na sequ�ncia, 37,9% indicaram prefer�ncia pelo varejo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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