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Estado de Minas ECONOMIA

Com crise, renda de microempreendedor cai para valor pr�ximo do sal�rio m�nimo


postado em 29/06/2020 12:05

Sete em cada dez microempreendedores est�o ganhando abaixo de U$ 200 por m�s no Brasil (R$ 1.088 considerando o d�lar de sexta-feira, 26, valor pr�ximo ao sal�rio m�nimo, de R$ 1.045). Antes da pandemia do coronav�rus, a situa��o era inversa: oito em cada dez profissionais ganhavam acima desse valor e apenas um tinha renda inferior ao sal�rio m�nimo, segundo levantamento feito pela fintech Neon e pelo fundo de venture capital Flourish, com apoio da empresa de pesquisa de impacto 60 Decibels.

Os pesquisadores entrevistaram, durante o m�s de maio, 1.600 microempreendedores individuais (MEIs) sobre os reflexos da pandemia no trabalho e nas finan�as. O resultado mostrou que quase 90% dos profissionais tiveram queda na renda, em maior ou menor grau. Se antes da pandemia mais da metade dos empreendedores ganhavam acima de US$ 400 (R$ 2,176) por m�s, agora apenas 10% est�o nessa faixa.

Os MEIs s�o um dos mais importantes instrumentos de formaliza��o da economia. Desde 2008, quando foi criado, o programa t�m sido respons�vel por tirar milh�es de trabalhadores da informalidade, diz o Sebrae. No total, s�o mais de 10 milh�es de microempreendedores individuais. "A preocupa��o � que esses profissionais, com as micro e pequenas empresas, representam entre 30% e 40% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro", afirma o diretor da �rea de pessoa jur�dica da Neon, Marcelo Moraes, um dos respons�veis pela pesquisa. Ou seja, o impacto desse grupo de trabalhadores na economia do Pa�s � grande.

Os profissionais que mais tiveram redu��o na renda, segundo a pesquisa, foram os motoristas de aplicativos, esteticistas e com�rcio de rua, como mercadinhos e lanchonetes. Segundo Moraes, metade dos entrevistados teve de usar a poupan�a ou reduzir despesas para se adequar � nova realidade. Al�m disso, 39% pegaram dinheiro emprestado para honrar compromissos (em muitos casos, o cheque especial) e 18% penhoraram ou venderam algum ativo durante a pandemia.

"Esses n�meros revelam uma trag�dia. Essa � a parte da popula��o que mais vai sofrer com os reflexos da crise do coronav�rus", diz o professor do Insper David K�llas. Para ele, as grandes e m�dias empresas t�m mais condi��es de caixa e acesso a cr�dito e ao mercado de capitais para atravessar esse momento complicado. Mas os microempreendedores n�o t�m essa sa�da.

Os MEIs, diz o professor, s�o a categoria mais vulner�vel, que n�o t�m reserva para enfrentar a falta de renda por muito tempo. "Como diz um colega, estamos na mesma tempestade, mas cada um no seu barco." Neste momento, � para esse pessoal que o governo precisa estender a m�o, uma vez que representa a maior for�a de trabalho do Pa�s, completa Kallas.

At� agora, o aux�lio e os programas de ajuda dos �rg�os p�blicos n�o t�m se mostrado eficientes para atender quem mais precisa. De acordo com a pesquisa da Neon e da Flourish, a maioria n�o se sente amparada pelo governo e entende que as propostas est�o distantes da realidade. Marcelo Moraes afirma que um dos dados mais impressionantes do levantamento � o �ndice de desesperan�a dos profissionais. "O sentimento de desamparo � grande: 42% deles n�o t�m esperan�a de sair da crise", diz o executivo.

Renda x pre�os

Na avalia��o do presidente da Trevisan, VanDick Silveira, a situa��o desse grupo de trabalhadores � muito delicada. A renda per capita do brasileiro, diz ele, recuou dez anos, mas o patamar de pre�os continua inalterado. "Apesar de a infla��o estar controlada, o �ndice de pre�os n�o recuou dez anos como a renda. Ou seja, � uma perda em dobro. Isso tem impacto direto no consumo."

Esse reflexo tamb�m foi detectado na pesquisa da Neon e da Flourish. Para conviver com a queda na renda provocada pela pandemia, os microempreendedores tiveram de cortar despesas. O surpreendente � que mais da metade cortou o consumo de comida para se adequar � nova realidade. Muitos disseram que deixaram de jantar para fazer apenas um lanche, revela o levantamento.

Para o pesquisador da �rea de Economia Aplicada do FGV Ibre, Daniel Duque, esse grupo de profissionais ter� grandes dificuldades para sair da crise. "A recupera��o ser� lenta, uma vez que dependem de setores que tamb�m v�o demorar para superar a crise, como servi�os."

O presidente do Sebrae, Carlos Melles, afirma que neste momento os microempreendedores precisam de mais acesso ao cr�dito para aliviar a press�o sobre o fluxo de caixa. "Por isso, estamos trabalhando com o governo e o Congresso para a cria��o de novas linhas de cr�dito voltadas aos pequenos neg�cios", diz ele.

Contas atrasadas

Desde que a pandemia atingiu o Brasil, a vida do motorista de Uber Emerson Melo virou de cabe�a para baixo. Com uma queda de 40% na renda, as contas come�aram a se acumular. "Em tr�s meses, tive atraso no pagamento de quase todas as despesas", conta Melo, de 31 anos. Em alguns dias, afirma ele, a renda n�o dava nem para pagar o combust�vel do carro.

A solu��o foi come�ar a trabalhar � noite, per�odo que tem menos concorr�ncia. "Mas estimo que vou gastar, pelo menos, seis meses para regularizar toda a minha situa��o", diz Melo. Ele conseguiu postergar por dois meses a parcela do carro, renegociou com a concession�ria de �gua e luz e ainda conversa com o banco para acertar sua situa��o no cheque especial.

Na casa da esteticista Eunice Reis, de 56 anos, a situa��o n�o � diferente. Com o sal�o fechado desde mar�o, ela faz alguns servi�os de urg�ncia, como podologia. A demanda caiu 70%. "Tudo que ganho vai para pagamentos." Eunice teve de reduzir gastos at� mesmo com alimenta��o. "Minha geladeira n�o tem o que tinha antes. Estou comendo o b�sico." Mas a esteticista n�o perde as esperan�as. "Estou aproveitando o momento e fazendo um curso para aprender a vender pela internet. Tenho de me virar."

Mesmo sentimento tem a modelo Bruna Misio Col, de 43 anos. Com eventos e o mundo da moda praticamente parados, sua renda despencou. Para piorar, ela n�o tinha reservas para se manter. Numa rede social, teve a ideia de come�ar a fazer tie dye - t�cnica de pintura de roupas. Fez umas pe�as e come�ou a vender pelo Instagram. Um amigo viu e a chamou para vender as pe�as na loja dele. Ela espera ganhar f�lego para bancar as despesas do dia a dia. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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