A pol�tica ambiental do governo Bolsonaro transformou o Brasil em p�ria do investimento internacional e poder� trazer s�rios problemas econ�micos para o Pa�s, avalia o ex-presidente do Banco Central (BC), Persio Arida. Um dos signat�rios da carta de ex-ministros da Fazenda e do BC em defesa de uma retomada econ�mica "verde", que ser� lan�ada no dia 14, Arida observa que o presidente tem feito uma "pol�tica ambiental horrenda" e na contram�o do mundo.
Um dos formuladores do Plano Real, Arida avalia, em entrevista ao Estad�o, a resposta do governo � pandemia da covid-19, fala sobre as prioridades para a retomada econ�mica e responde � cr�tica recente do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao programa de controle da infla��o que completa esse ano 26 anos: "Ressentimento e inveja s�o assuntos para div� de psicanalista."
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
O sr. assinou uma carta de ex-presidentes dos BC e de ministros da Fazenda com alertas para o risco da pol�tica ambiental do governo Bolsonaro. O problema se agigantou para a economia?
Meu primeiro artigo sobre o tema, chamado Pensando a Destrui��o da Natureza, tem quase 40 anos. Ignorar os efeitos do aquecimento global � praticar roleta-russa seguidas vezes porque n�s somos parte da natureza. Diferentemente da covid-19, o processo de degrada��o do meio ambiente � uma cat�strofe em c�mera lenta. O que mudou subitamente de um ano e meio para c� foi a postura governamental. As queimadas e o desmatamento da Amaz�nia, com a desconstru��o dos controles ambientais, mostram um governo na contram�o do mundo e da hist�ria. O governo Bolsonaro fez do Brasil um p�ria do investimento internacional.
O governo insiste na tese que � press�o geopol�tica por interesses comerciais do agroneg�cio.
� uma tese errada. O agroneg�cio brasileiro n�o precisa desmatar para ser competitivo. Entidades internacionais e pa�ses mais avan�ados nos pressionam porque a preserva��o do meio ambiente � um problema global. Eles est�o certos, mas n�s devemos cobrar deles o respeito aos objetivos de emiss�o de gases poluentes.
Quais os riscos do isolamento do Brasil por conta da pol�tica ambiental de Bolsonaro?
O investimento corporativo no mundo todo � crescentemente orientado pela preocupa��o com o meio ambiente e as desigualdades sociais. � uma pol�tica horrenda com o meio ambiente e extremamente prejudicial � economia.
O governo Bolsonaro vai reagir � press�o com mudan�as efetivas na pol�tica atual?
Eu nada espero desse governo. Que dizer de um governo que desrespeita a ci�ncia, se mostra incapaz de coordenar uma pol�tica nacional de sa�de, incapaz de escolher um ministro da Educa��o que mere�a esse nome ou elogie um secret�rio da Cultura nazista.
No in�cio da pandemia, o senhor escreveu, em um artigo, que nenhuma sociedade tolera seguir com a vida econ�mica como se nada estivesse acontecendo, enquanto pessoas morrem na fila de espera do hospital. Passados quatro meses, como avalia o resultado do caminho que o governo tomou no combate � pandemia, com a justificativa de preservar a economia?
A tese de que � necess�rio escolher entre economia e sa�de � mais uma tese errada. Quem controla a epidemia mais cedo e com mais determina��o se sai melhor do ponto de vista da economia tamb�m.
Como avalia a resposta do ministro Paulo Guedes no enfrentamento dos efeitos da pandemia sobre a economia?
Evolu�mos muito desde que o ministro disse que, com R$ 5 bilh�es, o problema da sa�de seria resolvido. Mas a implementa��o foi falha. Boa parte do dinheiro da sa�de n�o saiu do papel. Os programas de apoio �s empresas n�o funcionaram ou ficaram aqu�m do necess�rio. No caso das pessoas f�sicas, o aux�lio de R$ 600 foi mal focalizado. Numa reencarna��o da Dilma, o governo deu o monop�lio da distribui��o do aux�lio � Caixa. Obviamente, para se apropriar politicamente dos R$ 600, mas tamb�m para a Caixa conseguir ter um amplo cadastro digital de clientes e ficar um pouco mais competitiva. Inacredit�vel. Em contraste, o Banco Central foi muito r�pido e eficaz em aumentar a liquidez na economia. E est� tocando bem a agenda de reduzir o spread banc�rio e aumentar a competi��o no setor financeiro.
Cresceu a press�o para mudan�as no teto de gastos. Ele deve mudar no p�s-covid para ajudar na retomada?
O teto de gastos deve ser mantido ap�s a epidemia. O que n�o devemos fazer � aumentar impostos. A carga tribut�ria j� � muito alta e nossa hist�ria mostra que aumentos de impostos acabam abrindo espa�o para um novo round de gastos. Da d�cada de 90 para c�, a carga tribut�ria foi de 23% para 33% do PIB e o d�ficit � maior agora do que era antes.
O que � prioridade na agenda para a retomada?
Uma coisa � a recupera��o c�clica que sempre acontece, at� porque n�o h� recess�o que dure para sempre, outra coisa � a mudan�a estrutural no patamar de crescimento. Para sair de forma sustentada do patamar de 1% a 2% ao ano, temos de abrir a economia, fazer uma reforma administrativa para dar efici�ncia � m�quina p�blica, privatizar para valer, aprovar a reforma tribut�ria e melhorar o aprendizado nas escolas p�blicas. Nada disso avan�ou no governo Bolsonaro. Com o fim do b�nus demogr�fico, temos de aumentar a produtividade para crescer.
O que acha do "Renda Brasil" que o governo quer implementar para substituir o Bolsa Fam�lia?
Um dos poucos legados positivos da epidemia foi colocar o tema da renda m�nima universal na agenda pol�tica. H� �timas propostas j� prontas. Infelizmente n�o h� como gastar mais do que j� gastamos, mas unificar e focalizar melhor v�rios dos programas sociais existentes � um passo importante para reduzir a pobreza. O risco � a apropria��o pol�tica da renda m�nima para fins eleitorais.
O ministro Paulo Guedes criticou o Plano Real ao afirmar que, se ele se fosse t�o extraordin�rio, o PSDB n�o teria perdido quatro elei��es. Como um dos formuladores do Plano, como recebeu essa declara��o?
Ressentimento e inveja s�o assuntos para div� de psicanalista. O plano foi de um extraordin�rio sucesso. O presidente Fernando Henrique foi eleito duas vezes no primeiro turno. Na esteira do plano, foram aprovadas as bases de funcionamento do Brasil moderno: Lei de Responsabilidade Fiscal, trip� macroecon�mico, montagem das ag�ncias regulat�rias, as grandes privatiza��es, o alongamento da d�vida do Tesouro etc. A li��o que fica � que, quando h� uma lideran�a pol�tica capaz de unir o Pa�s em torno de uma vis�o de futuro, capaz de criar uma base parlamentar s�lida e montar uma boa equipe, � poss�vel mudar o Brasil.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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