
Depois de um per�odo cr�tico para tentar manter os neg�cios em funcionamento, algumas micro e pequenas empresas brasileiras come�am a apresentar pequenos sinais de rea��o aos impactos da pandemia de COVID-19. De acordo com levantamento realizado pelo Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Funda��o Get�lio Vargas entre 25 e 30 de junho, a perda m�dia de faturamento para esses empres�rios caiu de 70% para 51% com rela��o � primeira semana de abril deste ano.
Estado de Minas, Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae analisou o cen�rio econ�mico atual, especificamente no que toca aos pequenos e microempres�rios.
Em entrevista exclusiva ao Melles relatou as a��es da entidade para apoiar essa classe empresarial e detalhou as dificuldades encontradas pelos empreendedores, sobretudo no acesso ao cr�dito, na nova realidade de dos modelos de neg�cios digitais e diante das incertezas causadas pela falta de entendimento entre as autoridades na gest�o da crise.
Mineiro de S�o Sebasti�o do Para�so, Carlos do Carmo Andrade Melles � engenheiro agr�nomo formado pela Universidade Federal de Vi�osa (UFV) e p�s-graduado em Fitot�cnica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Ex-deputado federal, Melles foi ministro do Esporte e Turismo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em abril de 2019, foi eleito diretor-presidente do Sebrae.
Veja abaixo a �ntegra da entrevista
EM: Alguns segmentos entre as micro e pequenas empresas apresentaram uma leve recupera��o no fim de junho. Qual a participa��o do Sebrae nesse cen�rio?
Deixe-me fazer um pequeno retrospecto. A micro e pequena empresa � muito importante no Brasil e no mundo. Representam entre 98% e 99% das empresas do mundo. No Brasil, s�o 99,1%. Quando lei geral da micro e pequena empresa foi implementada, elas foram tendo um ambiente melhor. Hoje temos 6,5 milh�es de pequenas empresas e 10,3 milh�es de microempreendedores individuais (MEI). Isso permeia o setor prim�rio, agricultura, com�rcio, servi�os, ind�stria. E essa pandemia prejudica muito o setor.
Como o Sebrae se sente respons�vel pela micro e pequena empresa, com a chegada da pandemia come�amos a fazer pesquisas a cada 15 dias, para ver como o setor estava se comportando e calibrando todos os segmentos que estavam sofrendo mais. Calibrando desemprego ou manuten��o do emprego e calibrando o cr�dito. �bvio que, primeiramente, nos preocupamos em preservar a vida, todo mundo se cuidar, e depois preservar o trabalho. O Sebrae se colocou na linha de frente, dizendo ‘qualquer problema que a micro e pequena empresa tiver, queremos ajudar’. Num primeiro momento, at� 87% teve queda de faturamento. Depois da quarta para quinta pesquisa, percebemos que o cen�rio parou de piorar. Hoje me parece estamos com 50% das empresas retomando o seu n�vel de atividade. � um sinal de que o pior j� passou.
Quem mais sofreu foram os setores onde tinha mais gente e o contato seria mais perigoso, como turismo, bares e restaurantes. Manter o distanciamento fez com que uma s�rie de atividades fossem praticamente suspensas, como barbeiros, cabeleireiros, padarias, mercearias.
N�s de Minas estamos sofrendo um efeito retardado do coronav�rus. Alguns estados que parecia que est�vamos longe, j� estamos chegando. O Rio Grande do Sul reabriu shoppings, alguns lugares como Curitiba tamb�m reabriram. N�o davam que a coisa iria piorar tanto depois desse per�odo.
Esse efeito sanfona de abre e fecha tamb�m prejudicou muito a micro e pequena empresa. Em princ�pio elas tinham capital de giro m�ximo para 40, 45 dias de sobreviv�ncia.
A� n�s fomos atr�s de cr�dito. N�o tinham dinheiro para mercadoria, fornecedor tamb�m encurtou.
EM: O Sebrae consegue facilitar de alguma forma o acesso dos empres�rios a linhas de cr�dito?
Outra parte que o Sebrae ajuda muito � na busca dos cr�ditos. Temos o Fundo de Aval �s Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que pusemos para funcionar e tem dado um resultado satisfat�rio pelo tamanho dele. Agora com o Programa Nacional de Apoio �s Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) veio uma medida do governo muito positiva. Esse fundo de garantia do Tesouro colocou R$16 bilh�es para micro e pequenas empresas foi um sopro e com uma semana acabou, de t�o bom que o cr�dito �. Garante 100% para micro e pequena empresa, com uma taxa de juros muito atrativa e com prazo de car�ncia de pagamento muito bom. Estamos refor�ando esse Pronampe para ajudar a micro e pequena empresa.
EM: O empres�rio tem acesso direto a esses fundos? Basta solicitar ao Sebrae para ter acesso ao dinheiro?
O Sebrae repassa o fundo aos bancos. Ao Banco do Brasil, � Caixa, bancos regionais como do Banco do Nordeste e Banco de Bras�lia, ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) �s cooperativas de cr�dito, que tem um acesso muito bom. A gente recomenda que eles procurem o Sebrae para acompanha-los at� o agente financeiro. Isso melhora a aceita��o, quando o Sebrae leva. De cada quatro que s�o levados pelo Sebrae, tr�s t�m acesso ao cr�dito.
EM: Sobre as outras linhas de credito que o governo anunciou, sabemos que alguns empres�rios n�o tiveram acesso por terem restri��es no CPF e outras negativa��es. O Sebrae tamb�m faz esse ‘meio de campo’?
O Pronampe � s� para quem esta em dia com o pagamento da Receita Federal. A Receita j� emite um voucher dizendo que o empres�rio tem acesso a 30% do faturamento que voc� declarou no ano anterior. Por isso o Pronampe � mais �gil. N�s tamb�m temos outras fontes. O BNDES tamb�m abriu uma linha para micro e pequena empresa que � distribu�da atrav�s dos bancos.
Temos hoje 170 linhas de cr�dito dispon�veis para micro e pequena empresa. H� muitas linhas e pouco atendimento. N�o existe boa vontade do sistema financeiro com a micro e pequena empresa. O acesso (do empres�rio ao dinheiro) � muito dif�cil. As dificuldades que se imp�e s�o muito grandes. E olha que tem uma garantia em torno de 80% do empr�stimo, no Pronampe 100%. Mas h� uma falta de apetite muito grande do sistema financeiro em ajudar o pequeno. Ele � muito exclu�do. A micro e pequena empresa � muito importante na retomada durante a pandemia. Ele � quem chega nas pontas dos p�s e nos dedos da m�o. S�o os tent�culos que irrigam todo o tecido de base, seja no bairro, na cidade.
S� n�o est� pior, porque esses R$600,00 que est� sendo dado �s pessoas, sei que s�o quase R$50 bilh�es por m�s, est� fazendo uma fartura danada para ajudar na retomada.
EM: O senhor disse que o ‘abre e fecha’ do com�rcio n�o � bom para as empresas. Por qu�?
Sobretudo bares e restaurantes, voc� tem despesas, tem que melhorar a apresenta��o do estabelecimento para reabrir. Depois de uma semana, fecha de novo. E tem um problema com os funcion�rios. Voc� rep�e, contrata, quem tinha posto de f�rias tem que chamar. � muito gasto com higieniza��o, protocolos. Diminui o n�mero de clientes por causa da dist�ncia. Tudo isso � uma coisa terr�vel. S�o dois gastos: para reabrir e fechar. E depois se tem a inseguran�a para reabrir de novo. Por isso tenho esse sentimento do ‘apoie o pequeno’, ‘compre do pequeno’, porque eles fazem uma diferen�a muito grande no pa�s. Empregam mais, desempregam menos. Cinquenta por cento dos empregados no Brasil s�o de micro e pequena empresa, todos registrados. Eles t�m um papel importante, 27,5% do PIB do Brasil vem deles. E o Sebrae fica pajeando, dando suporte, educa��o a empreendedores, educa��o administrativa. Temos feito o m�ximo poss�vel para dar apoio.
EM: V�rias empresas t�m adotado ou intensificado modelos de neg�cios digitalizados, como vendas on line. O Sebrae tamb�m auxilia nesse quesito?
Muito pouco era o com�rcio digital entre elas. Houve uma subida muito positiva. A digitaliza��o dessas empresas e o com�rcio digital come�aram a embalar de maneira acentuada. Isso atendeu muitos setores mais do que outros. Come�ou-se a buscar aquele cliente fidelizado. A pessoa que compra na mercearia, na padaria, na quitanda, na loja de vestu�rio. Isso come�ou a ativar um pouquinho. N�s incentivamos muito as vendas pelo digital. Muitos aderiram ao delivery, fizeram seu pr�prio meio de log�stica de entrega. Tem sido uma adapta��o grande pela sobreviv�ncia.
EM: Os comerciantes mais tradicionais, como o senhor citou a mercearia, a quitanda, tamb�m t�m aderido ao com�rcio digital?
Houve um aumento significativo deles tamb�m. O comercio digital em si n�o teve queda. Ele at� cresceu. Mas isso corresponde a 3%, 4% da micro e pequena empresa. O aumento real que n�s medimos nas pesquisas est� perto de 15%, que aumentaram a venda pelos canais digitais, como Whatsapp, Facebook, etc.
EM: E como o Sebrae participa dessa transforma��o digital?
No ano passado, trabalhamos muito para fazer gera��o e manuten��o de empregos e gerar produtividade da micro e pequena empresa. Sab�amos que, para melhorar a produtividade, precisavam entrar no meio digital. Come�amos a olhar as grandes plataformas e grandes marketplaces que est�o dando certo, como Amazon, Alibaba, Mercado Livre. Uma coisa curiosa � que trabalhamos o ano inteiro com ideias como ‘o Sebrae que o Brasil precisa’ � o Sebrae em rede, o Sebrae digital. Com a pandemia, tivemos uma surpresa. Est�vamos mais preparados do que a gente esperava. Houve uma ades�o muito grande ao digital e uma procura muito grande aos cursos do Sebrae. Um aumento estonteante, mais de 160%.
Entramos com o programas digitais, um programa com a Cielo, estamos promovendo cursos de facilita��o para o micro e pequeno empres�rio se tornar digital. Nessa digitaliza��o, temos protocolos de retomada muito bem feitos, baseados no que aconteceu na China, em pa�ses asi�ticos e na comunidade europeia, Estados Unidos. Espec�ficos para bares, restaurantes, cabeleireiros, mercearias. S�o 47 protocolos. Recomendamos a todos eles que procurassem retomar digitalmente. Digitalmente voc� pode marcar hora com um cabeleireiro. N�o precisa ir presencialmente. E voc� vai administrando. O digital facilita muito a gest�o e � uma coisa que o Sebrae tem ajudado muito.
Entramos com o programas digitais, um programa com a Cielo, estamos promovendo cursos de facilita��o para o micro e pequeno empres�rio se tornar digital. Nessa digitaliza��o, temos protocolos de retomada muito bem feitos, baseados no que aconteceu na China, em pa�ses asi�ticos e na comunidade europeia, Estados Unidos. Espec�ficos para bares, restaurantes, cabeleireiros, mercearias. S�o 47 protocolos. Recomendamos a todos eles que procurassem retomar digitalmente. Digitalmente voc� pode marcar hora com um cabeleireiro. N�o precisa ir presencialmente. E voc� vai administrando. O digital facilita muito a gest�o e � uma coisa que o Sebrae tem ajudado muito.
EM: Belo Horizonte tem sido uma das cidades mais r�gidas no isolamento social e fechamento do com�rcio. O senhor concorda com a pol�tica do prefeito Alexandre Kalil?
H� uma inseguran�a nos empres�rios, e isso foi desde o come�o. Eles diziam ‘a gente vai ouvir o prefeito, o governador ou o presidente da Rep�blica?’ Esse desencontro de informa��o n�o foi positivo. O processo hier�rquico, vamos dizer assim, de responsabilidade nos leva a entender que o mais pr�ximo de n�s s�o os prefeitos. E eles tem a responsabilidade sobre a cidade. Obviamente tem uma equipe assessorando, sob o aspecto cient�fico. Mas � muito dif�cil acertar em cheio ou errar em cheio tamb�m. � uma situa��o muito delicada. Mas uma coisa � verdadeira: quanto mais movimenta��o mais contato, quanto mais contato mais transmiss�o e a� podemos ter um problema de estrangulamento na sa�de. Ent�o � uma situa��o muito delicada para quem est� governando. O mais recomendado, dentro do poss�vel, � ficar mais reservado, mais distanciado.