Assim como nos �ltimos anos as empresas envolvidas em corrup��o e lavagem de dinheiro foram exclu�das dos portf�lios de grandes investidores globais, em um movimento que tornou imperativa a ado��o de pr�ticas de compliance pelas companhias, agora s�o as empresas com passivo ambiental ou sem agenda de sustentabilidade cr�vel que correm o risco de receber menos aportes ou de ter de pagar mais caro para ter acesso a financiamento.
"Os conselhos de administra��o de empresas e gestores de grandes fundos est�o, cada vez mais, olhando diretamente os temas ambientais, sociais e de governan�a (ESG, na sigla em ingl�s) para fazer investimentos", diz Bruno Fontana, respons�vel pela �rea de banco de investimento do Credit Suisse.
H� dois meses, o Norges Bank, fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, com US$ 1 trilh�o em ativos, decidiu excluir a Vale e a Eletrobr�s de sua carteira de investimentos. A decis�o do conselho executivo do fundo levou em conta a percep��o do risco de que as companhias contribuam para danos ambientais e viola��es aos direitos humanos. A exclus�o da Eletrobr�s foi relacionada especificamente a problemas no desenvolvimento da usina de Belo Monte, e a da Vale aos acidentes de Brumadinho e Mariana.
A Vale j� tinha enfrentado a rea��o de outros investidores pelo mesmo motivo. O brit�nico Church of England se desfez das a��es da empresa ap�s Brumadinho. O megafundo de pens�o californiano Calpers, com portf�lio de US$ 402 bilh�es, vendeu todos os t�tulos de d�vida da companhia e a gestora holandesa Robeco p�s a Vale em uma lista de empresas com restri��es de investimento.
A petroqu�mica Braskem, por sua vez, tamb�m encara as dificuldades de estar associada a um problema ambiental. A empresa est� no meio do processo para uma capta��o avaliada em mais de US$ 1 bilh�o no mercado para reduzir sua d�vida, mas enfrenta questionamentos de investidores quanto a seu passivo ambiental em Alagoas, onde sua atividade de minera��o � relacionada ao afundamento de quatro bairros em Macei�. Mesmo com a grande liquidez no mercado global e as taxas de juros baixas, o custo de capta��o dever� ser mais alto por causa desse passivo ambiental, segundo fontes que acompanham a opera��o. Procurada, a Braskem n�o se pronunciou.
Para Christian Egan, diretor executivo de mercados globais e tesouraria do Ita� BBA, j� h� pa�ses e gestores dizendo n�o querer comprar a��es de empresas brasileiras. "Ent�o, de certa maneira estamos deixando de fora um bolo de investidores muito grande n�o s� para mercado de capitais, mas, principalmente, para projetos de infraestrutura e privatiza��es. Acho que o problema maior para o Brasil � se um pa�s vai deixar de comprar commodities daqui por conta disso. Se n�o fizermos nada, chegaremos l�."
Agenda ambiental. Com a retomada do mercado de capitais, que prev� mais de 40 opera��es de ofertas iniciais de a��es na Bolsa no segundo semestre, a agenda sustent�vel das companhias que v�o a mercado cada vez importa mais, diz Alessandro Zema, presidente do banco Morgan Stanley no Brasil.
Este m�s, a empresa de gest�o ambiental Ambipar conseguiu levantar mais de R$ 1 bilh�o ao abrir capital na B3, com uma forte demanda. Ainda que os pr�ximos IPOs n�o estejam pautados pelos temas ESG, a crise atual tem servido de alerta para as companhias.
Sustentabilidade tem forte peso para 50% dos fundos estrangeiros
Um levantamento feito pelo banco Ita� BBA com 58 gestoras de investimentos, das quais 40 brasileiras e 18 estrangeiras, mostra que o tema ambiental tem entrado no radar dos investidores. � o primeiro movimento da �rea de an�lise do banco em rela��o aos temas socioambiental e governan�a (ESG, na sigla em ingl�s).
De acordo com a pesquisa, 50% dos fundos estrangeiros informaram que o tema de sustentabilidade tem um peso muito importante em suas decis�es de investimentos, enquanto apenas 25% das gestoras nacionais est�o mais sens�veis ao tema.
Essa din�mica, de acordo com o relat�rio do banco, pode ser explicada pela ado��o antecipada de padr�es ESG no setor de fundos de investimento fora do Brasil, pela maior oferta de a��es relacionadas a produtos em outros pa�ses e � menor divulga��o de informa��es por um n�mero significativo de empresas listadas no mercado local em rela��o a grupos internacionais.
Cerca de 20% dos fundos brasileiros disseram que n�o incorporam nenhum tipo de crit�rio ESG em suas decis�es de investimentos, ante apenas 5% dos gestores internacionais que ignoram o tema.
"Essa cultura tende a melhorar no Brasil", disse Daniel Sassom, respons�vel pelo relat�rio chamado "� a hora de acelerar o jogo".
De acordo com Sasson, a pesquisa indica que as preocupa��es ambientais s�o maiores nos setores de papel e celulose, siderurgia e minera��o.
Investidores
O relat�rio feito pelo banco mostra ainda que investidores estrangeiros possuem um total de US$ 841 bilh�es de ativos sob gest�o de fundos que levam em considera��es quest�es socioambientais em tomada de decis�es em investimentos. Sasson diz que estes dados foram levantados pela consultoria Morningstar, com base no primeiro trimestre deste ano.
Pouco mais de 80% de fundos sustent�veis s�o gerenciados na Europa, seguidos pelos EUA, com 14%. "A regi�o da Am�rica Latina n�o aparece nesse levantamento", disse Sasson. Segundo ele, tem crescido o interesse de gestoras brasileiras em criar fundos com pr�ticas ESG, mas esse movimento � incipiente.
Em recente entrevista ao Estad�o, o presidente do banco Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema, disse que o tema da sustentabilidade entrou definitivamente na pauta ambiental das empresas e investidores. "O assunto entrou em evid�ncia com os inc�ndios na Amaz�nia, mas � uma agenda que vem ganhando relev�ncia no mundo todo. � claro que uma imagem n�o positiva do Brasil l� fora n�o ajuda em nada as empresas a atrair investimentos. Essa � uma agenda cada vez mais crucial."
Para Sasson, uma agenda ambiental mais clara por parte do governo brasileiro pode ser um catalisador para atrair mais investidores ao Pa�s. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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