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Estado de Minas ECONOMIA

Bilion�rios brasileiros entram em cena e tentam criar �cultura da doa��o� no pa�s


09/08/2020 16:00

A elite econ�mica brasileira saiu da toca na pandemia. A maior parte respeitou o isolamento f�sico, � claro, mas muitas das fam�lias mais ricas do Pa�s vieram a p�blico anunciar que tinham doado milh�es de reais individualmente, como pessoas f�sicas. Foi um n�mero in�dito de bilion�rios que assumiu ter tirado do pr�prio bolso grandes quantias para o combate ao coronav�rus e seus efeitos, mesmo com as empresas que controlam tendo feito o mesmo movimento.

A doa��o por parte dos muito ricos n�o � novidade. "� algo que sempre existiu e, por isso, n�o pode ser classificado como tend�ncia", diz F�bio Mariano Borges, professor da ESPM. "Sempre tivemos, por exemplo, grandes mecenas que constru�ram alguns dos museus e dos acervos mais importantes do Pa�s." A diferen�a � que, na pandemia, alguns dos principais empres�rios do Pa�s colocaram seus rostos e assinaturas na benemer�ncia.

"Houve um amadurecimento das lideran�as econ�micas", afirma Rodrigo Pipponzi, vice-presidente do Instituto ACP, entidade de investimento social de sua fam�lia, que � dona da RaiaDrogasil. "Assumir a doa��o e fazer isso de maneira natural � um passo importante para entender e desenvolver a cidadania e a recorr�ncia, que n�o podem ser apenas iniciativas paliativas em emerg�ncias."

O que come�a a mudar � um mea-culpa e a conscientiza��o de que a cultura da doa��o - e de cidadania pelo envolvimento em projetos nos quais se acredita - s� acontecer� a partir de exemplos concretos. "Toda elite � culpada da situa��o que passamos hoje, seja ela econ�mica, pol�tica, intelectual", diz Rubens Menin, fundador da MRV Construtora e do banco Inter. "A elite � um reflexo da sociedade com mais poder de fogo e cabe a ela essa miss�o, prioritariamente."

Ele n�o � o �nico a pensar assim. "A elite tem de assumir o papel de contribuir e conscientizar", afirma Elie Horn, dono da Cyrela. "� nossa obriga��o moral, social, de igualdade e justi�a."

Segundo alguns entrevistados, a nova gera��o vem tendo papel importante para fazer os mais velhos mostrarem a cara. Para os mais jovens, os valores mais significativos v�o al�m da acumula��o. Tamb�m ajudou o fato de o coronav�rus ter atingido a todos. "Como o coronav�rus afetou e fragilizou mesmo quem tem muito dinheiro, a solidariedade foi maior", diz Beatriz Bracher, do Instituto Galo da Manh�, que concentrou as doa��es das fam�lias Botelho Bracher na pandemia.
Mais importante do que doar o dinheiro, dizem, � descobrir as causas que se quer apoiar e acompanhar a transforma��o promovida pelo dinheiro bem aplicado. "O prazer n�o est� em doar, mas em ver realizado", diz Beatriz.

O desejo de todos � que o movimento permane�a ap�s o fim da pandemia. "As organiza��es da sociedade civil saem fortalecidas, as pessoas aprenderam que n�o � t�o dif�cil doar e a transpar�ncia cresceu", diz Pipponzi. Para Paula Fabiani, diretora presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), ficou claro que cabe a cada brasileiro construir seu caminho como cidad�o. "A sociedade civil respondeu rapidamente com solu��es em um ato de cidadania e participa��o social", diz ela. "Parte disso vai ficar."

'Ningu�m salva o mundo sozinho'

"Um galo sozinho n�o tece uma manh�: ele precisar� sempre de outros galos", escreveu Jo�o Cabral de Melo Neto, no poema que inspirou a escritora Beatriz Bracher a batizar o Instituto Galo da Manh�. "Sempre achei esse poema lindo e ele diz o que a gente acredita: ningu�m salva o mundo sozinho." Foi uma escolha natural para a entidade que ela criou no fim do ano passado. O objetivo era organizar suas doa��es, priorizando os eixos da defesa da democracia, dos direitos humanos e da mulher.

S� que chegou a pandemia e a prioridade para as novas doa��es tornou-se outra. Beatriz, os quatro irm�os e outros membros da fam�lia come�aram a conversar. "Quando percebemos que ter�amos de nos isolar, nos identificamos com quem n�o conseguiria fazer a mesma coisa", afirma. "Resolvemos que tentar�amos possibilitar o isolamento."

Filhos de Fern�o Bracher, ex-presidente do Banco Central e um dos fundadores do Ita� BBA, e irm�os de C�ndido Bracher, presidente do Ita� Unibanco, a fam�lia Botelho Bracher j� tinha o h�bito de doar. S� que, desta vez, eles se juntaram. Tamb�m aumentaram o valor dos aportes. Segundo Beatriz, era uma forma de ter voz na hora de decidir e acompanhar o uso dos recursos. "Recebemos um pedido da Cufa (Central �nica de Favelas) para doar 4 mil cestas a 4 mil m�es", diz. "Neste caso, por exemplo, decidimos que seria mais efetivo entregar dinheiro a elas."

De acordo com Beatriz, al�m de acompanhar o uso da verba, quem doa come�a a entender melhor a precariedade das condi��es em que as pessoas vivem. Passa a pensar mais nos pol�ticos que apoia e em como fazer de forma diferente. A doa��o de tempo e dinheiro passa a ser feita para que aconte�a uma mudan�a estrutural e n�o apenas pontual.


'Aqui, doa��o n�o � n�mero em planilha'

Em uma das doa��es na pandemia, o entregador do Magazine Luiza percebeu que a fam�lia benefici�ria em Guarulhos precisava de muito mais do que o colch�o recebido para a crian�a especial. Na casa, faltava simplesmente tudo. At� comida. Pouco depois, o carregamento voltou completo, com direito a m�veis e cesta b�sica.

"Aqui, doa��o n�o � s� n�mero numa planilha de Excel", diz Carlos Renato Donzelli, diretor da holding e membro do conselho de administra��o do Magalu. "Como temos uma opera��o muito pulverizada, presente em todo o Pa�s e com os funcion�rios envolvidos, ningu�m fica indiferente e a agilidade � muito grande."
A multiplica��o de demandas tamb�m. Esse foi um dos motivos pelo qual as fam�lias Trajano e Garcia doaram mais R$ 20 milh�es na semana passada. No in�cio da crise, elas j� haviam tirado do pr�prio bolso R$ 10 milh�es. O Magalu, outros R$ 20 milh�es.

"No meio do caminho, percebemos que a demanda n�o iria acabar e precisamos acelerar o processo de doa��es porque as necessidade ficaram grandes e urgentes." Donzelli cita a doa��o de 20 mil tablets a alunos das escolas p�blicas sem acesso ao ensino virtual.

H� mais de 25 anos pr�ximo �s fam�lias controladoras do Magalu, Donzelli disse que a necessidade das doa��es pessoais foi percebida pouco antes da pandemia, por causa da sensibilidade junto aos clientes do varejo. Importantes nas cidades em que est�o presentes, as lojas e os centros de distribui��o viraram centrais de pedidos das comunidades.

Segundo ele, Luiza Trajano, presidente do conselho do Magalu, capitaneia o time respons�vel pelas doa��es.

"Meus filhos me falaram: papai, doe em vida"

H� cinco anos, o diretor de uma ONG chamou Elie Horn, fundador da construtora e incorporadora Cyrela, de covarde. "�O senhor doa, mas n�o quer que ningu�m saiba e fa�a�, ele me disse. Daquele dia em diante, comecei a falar (das doa��es) e nunca mais parei", diz Horn, de 76 anos. Para ele, tornar p�blica a imagem de doador foi um sacrif�cio. "� mais dif�cil vir a p�blico e tomar pauladas, mas � preciso cutucar o sentimento das pessoas para que fa�am o bem."

Assim, Horn se tornou o primeiro bilion�rio latino-americano, ao lado da mulher, Susy, a assinar o Giving Pledge. Criado por Bill Gates, o movimento tenta angariar donos de grandes fortunas a doar � caridade 60% de seu patrim�nio em vida. Horn ainda � o �nico brasileiro do grupo de 210 bilion�rios, que inclui o gestor Warren Buffett e o dono da Tesla, Elon Musk.

"Quando eu falei para meus filhos, eles disseram: �papai, doe em vida.�" Horn se irrita quando fala em crescimento de doa��es durante a pandemia. "Na crise, pode-se at� fazer um pouco a mais, mas n�o pode ser s� nessa �poca porque as pessoas comem, bebem e vivem todo dia, o ano inteiro."

�� preciso ter cultura de comunidade'

No mesmo dia em que concedeu entrevista, Rubens Menin, s�cio da MRV Engenharia, do banco Inter e da CNN Brasil, reuniu-se virtualmente com 13 dos maiores doadores do Brasil. No encontro, discutiram pr�s e contras de se assumir publicamente a doa��o de recursos. "Foi quase um encontro filos�fico", diz Menin.
A conclus�o: � importante os doadores tornarem p�blicas suas a��es. "� preciso internalizar a cultura na comunidade, como o americano faz", diz. "Temos a obriga��o n�o s� de doar, mas tamb�m de mostrar e incentivar que mais pessoas trilhem esse caminho."

Segundo ele, todos discutem em casa os projetos a serem apoiados de maneira estruturada e o impacto alcan�ado. � quase como se fosse um neg�cio. H� estrat�gias, funcion�rios, planejamento de doa��es quinquenais e crescentes.
Nos �ltimos cinco anos, os Menin haviam doado R$ 10 milh�es por ano. Antes da pandemia, o plano era de aumentar o valor para R$ 20 milh�es, nos pr�ximos cinco. Em 2020, por�m, a soma j� chega a R$ 30 milh�es. "Filantropia � igual droga, s� que os efeitos s�o maravilhosos."

�N�o posso guardar meu privil�gio'

Desde que a pandemia come�ou, Rodrigo Pipponzi diz que se sente mais ouvido. � frente do Instituto ACP, entidade de investimento social de sua fam�lia, que � dona da Raia Drogasil, ele � profissional da �rea h� mais de uma d�cada. Odiava o termo herdeiro, at� descobrir seu papel como empreendedor social. "N�o posso guardar para mim o privil�gio que tenho", diz Pipponzi.

Na pandemia, um n�mero grande n�o s� de pessoas, mas tamb�m de companhias, come�ou a querer aprender com sua experi�ncia.

Ant�nio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da RaiaDrogasil e controlador da empresa, tem nome conhecido no mundo das doa��es. A trajet�ria de outro Pipponzi, o filho, na �rea come�ou com a Mol. Inicialmente voltada a publica��es customizadas para empresas, a editora ganhou outro objetivo quando ele percebeu a oportunidade de fazer revistas vendidas no varejo que revertem o lucro para institui��es e causas.

Na pandemia, o IACP criou o movimento Fam�lia apoia Fam�lia no qual, por meio de uma plataforma, doadores contribuem a partir de R$ 50. O dinheiro se transforma em cestas b�sicas para 70 comunidades. Desde abril, j� arrecadou R$ 11,6 milh�es. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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