Ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto diz que ser� um "esc�ndalo inaceit�vel" se o governo decidir adiar o censo demogr�fico para 2022, de forma a irrigar o Minist�rio da Defesa com mais recursos. Para ele, o risco de fazer a pesquisa em ano de elei��o � us�-la para fazer propaganda do governo. "Ter o censo tamb�m � fazer a defesa do Pa�s", diz Olinto, que tem 39 anos de vida dedicados ao IBGE, onde foi coordenador das contas nacionais por 10 anos, diretor de pesquisas de 2014 a 2017 e depois presidente entre 2017 e 2019. Agora pesquisador associado da Funda��o Getulio Vargas (FGV), ele avisa que o adiamento da pesquisa trar� consequ�ncias graves para os munic�pios e o planejamento do Pa�s. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Como ex-presidente do IBGE, como o sr. recebeu a informa��o de que o censo pode ser adiado para sobrar recursos para o Minist�rio da Defesa?
Na minha opini�o, � um esc�ndalo inaceit�vel, rompe qualquer protocolo de produ��o de estat�stica mundial de qualidade. O adiamento de 2020 para 2021 era necess�rio e compreens�vel por causa da pandemia e exigiria contato f�sico intenso, com entrevistas longas. � muito mais estrat�gico para a Defesa ter o conhecimento do Pa�s com um censo do que comprar armamento. Ter o censo tamb�m � fazer a defesa do Pa�s. � melhorar a capacidade de ter informa��es militares. Vai ter o geoprocessamento do Pa�s inteiro.
Qual o maior problema?
H� dois problemas s�rios. O primeiro � que o IBGE n�o teve or�amento para fazer a contagem da popula��o que deveria ter sido feita em 2015. Agrava muito a situa��o. Quando eu era presidente, lutamos muito para essa quest�o do censo porque j� est�vamos com problemas das estimativas populacionais. Tanto que, hoje, a distribui��o do FPM (Fundo de Participa��o dos Munic�pios) est� congelada esperando o censo de 2020. Houve um acordo para evitar exatamente problemas de distor��es do FPM, por causa da popula��o dos munic�pios se congelou sem perdas. Isso foi feito no �ltimo ano do meu mandato como presidente. E esperaria o resultado de censo 2020 para recalcular os indicadores dos munic�pios. Isso � muito grave porque o censo de 2022 s� vai ter resultado em 2023. Vai ter 13 anos sem nenhuma informa��o demogr�fica. Os modelos v�o perder ader�ncia, coer�ncia.
Os munic�pios e os Estados ser�o afetados?
Os munic�pios perdem mais. Tudo que depende de popula��o tem um problema s�rio. Os munic�pios s�o afetados se tem a diferen�a de uma pessoa. Pode perder ou ganhar participa��o do FPM. � muito sens�vel. Tem um segundo problema. N�o se faz censo em ano eleitoral. � muito s�rio fazer um censo que vai a campo em agosto, setembro e outubro e ter elei��es em outubro.
Por qu�?
O risco � usar o censo para fazer propagando do governo. Vai ter a propagando do censo. Ele necessita uma propaganda muito forte para as pessoas abrirem a casa. Ainda mais agora com a covid. Isso pode ter uma contamina��o com a propaganda pol�tica do governo. Como vai escrever isso no colete dos recenseadores? Como controla? Os recenseadores podem ser pressionados por prefeitos. E j� s�o normalmente para contar mais gente. N�o se deve fazer quando se tem uma elei��o. N�o tem como controlar. N�o adianta o IBGE dizer que n�o vai ter problema porque vai ter.
Quando foi o �ltimo adiamento?
Em 1990, teve adiamento de um ano por causa do governo Collor. Foi feito em 91.
Mas n�o tem como blindar o IBGE dessa quest�o pol�tica?
Apesar da atual dire��o, o IBGE tem um corpo t�cnico extremamente competente. Volta e meia se cria problemas porque o corpo t�cnico n�o aceita interfer�ncia, como qualquer instituto de estat�stica do mundo. N�o h� como fazer algum tipo de manipula��o dos dados sem que se torne um grande esc�ndalo. A respeitabilidade do IBGE � incontest�vel.
Qual a import�ncia do censo para a defini��o de pol�ticas p�blicas?
O adiamento � um erro. Dois anos de atraso t�m impacto fort�ssimo. O Brasil est� passando por uma crise por causa da covid, mas est� tamb�m h� alguns anos com problemas de planejamento econ�mico, e o censo � fundamental para mostrar como est�o as coisas. Sem o censo, o planejamento fica capenga.
Afeta at� o desenho dos programas de transfer�ncias de renda?
Fazer um Bolsa Fam�lia ou qualquer programa de transfer�ncia de renda necessita de informa��es do censo. � um apag�o. N�o consigo compreender o que seria estrat�gico dentro do Minist�rio da Defesa do que ter um censo demogr�fico. N�o faz o menor sentido. Falando linguagem de estrategista.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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