O produtor de soja e milho Moacir Fala, que cultiva 20 alqueires em S�o Jorge do Iva�, no Noroeste do Paran�, est� rindo � toa. "Este ano n�o posso reclamar: deu para ganhar dinheiro", diz. Ele j� vendeu praticamente toda a safra de soja por um pre�o m�dio de R$ 100 a saca, 42% maior do que recebeu no ano passado, quitou as d�vidas de anos anteriores e ainda sobrou dinheiro. "N�o decidi o que vou fazer com o lucro, talvez investir em tecnologia para produzir mais na pr�xima safra." Para o milho safrinha que acaba de colher, mas ainda n�o vendeu, as perspectivas tamb�m s�o favor�veis. Na virada do m�s, a saca do gr�o estava em R$ 61, pre�o recorde.
O cen�rio t�o favor�vel para o campo, com safra abundante, d�lar em alta e pre�os valorizados em reais, n�o estava no radar da maioria dos produtores que faturaram. Mas isso provocou uma explos�o nos pre�os ao consumidor e, nos �ltimos dias, uma queda de bra�o entre supermercados e fornecedores para conter o repasse de pre�o no varejo. At� julho, o arroz, por exemplo, subiu 15,7% este ano.
O impulso para o agroneg�cio veio do outro lado do mundo, sustentado pelo real desvalorizado quase 40% nos �ltimos 12 meses, o que atraiu compradores. A China decidiu fazer estoques estrat�gicos de alimentos, depois de sentir o risco de faltar comida para mais de um bilh�o de pessoas por causa da paralisa��o provocada pela pandemia e amea�ado pela guerra comercial como com os Estados Unidos. Tamb�m o pa�s tenta recompor a produ��o de carne de porco, um dos alimentos mais consumidos pelos chineses, depois de ter o seu plantel dizimado pela Peste Su�na Africana.
A ida �s compras de alimentos do gigante asi�tico no Brasil injetou US$ 24 bilh�es no agroneg�cio, entre janeiro e julho deste ano, uma cifra recorde para o per�odo e quase 30% maior do que a registrada nos mesmos meses de 2019. Essa voracidade nas compras de carnes bovina, su�na, aves e especialmente a soja, que respondeu por 72% das aquisi��es no per�odo, pressionaram as cota��es em reais desses produtos que aparecem nos �ndices de infla��o ao consumidor.
"Os chineses rasparam o tacho", diz o economista Fabio Silveira, s�cio-diretor da MacroSector, lembrando que o c�mbio deixou o produto brasileiro competitivo para os chineses e este foi o grande fator de enriquecimento das cadeias produtivas do agroneg�cio. Nas suas contas, o ano deve fechar com US$ 35 bilh�es de exporta��es do agroneg�cio brasileiro para China, dos quais US$ 26 bilh�es s� de soja e US$ 7 bilh�es de carnes.
De janeiro a julho, o Brasil exportou para China 50,5 milh�es de toneladas de soja um volume 32% maior do que no mesmo per�odo de 2019, diz Wagner Ikeda, analista s�nior do Rabobank Brasil. "Entre 90% a 95% da safra de soja est� vendida", diz.
Esse movimento forte de compra da China levou a uma situa��o inusitada: o Brasil, o maior produtor mundial de soja, teve ampliar as importa��es do gr�o, apesar de o volume ser uma parcela min�scula comparada a safra nacional. De janeiro a julho o Pa�s importou 400 mil toneladas de soja, quatro vezes mais em rela��o ao mesmo per�odo o ano passado.
"A importa��o de soja n�o muda nada", afirma o presidente da Associa��o Brasileira dos Produtores de Soja, Bartolomeu Braz. Na sua avalia��o, trata-se de uma jogada da ind�stria para reduzir o pre�o, que na �ltima quinta-feira estava em R$ 127 a saca. Esse movimento de redu��o de pre�o por conta da importa��o n�o deve acontecer porque o pre�o � formado no mercado internacional. "O pre�o est� alto porque o d�lar est� alto."
Hoje 45% da pr�xima safra de soja que nem foi plantada est� antecipadamente vendida para compradores internacionais, diz o presidente da Aprosoja. Em �pocas normais, as vendas antecipadas estariam neste momento entre 20% e 25%.
Churrasco caro
A China foi �s compras tamb�m das carnes produzidas no Pa�s. At� agora, o pa�s respondeu por 49% dos volumes exportados pelo Brasil de carne su�na, 41% das carnes bovinas e 17% da carne de frango, segundo Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank Brasil. "Os produtores com vi�s no mercado externo est�o muito bem, est�o felizes porque est�o conseguindo incrementar as margens baseado na desvaloriza��o do real."
No entanto quem produz para o mercado dom�stico est� num cen�rio complicado porque o pre�o da mat�ria-prima aumentou tanto e n�o est�o conseguindo ter os mesmo resultados porque o consumo patina, explica Yanaguizawa.
Nos �ltimos dias, a cota��o da arroba do boi gordo atingiu a R$ 238,95, o maior valor em mais de 20 anos. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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