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Estado de Minas COVID-19

Relatos do malabarismo financeiro para sobreviver com R$ 300

Prorroga��o do aux�lio emergencial causa al�vio em milhares de brasileiros, mas a redu��o do valor pela metade exige mais sacrif�cio ainda para pagar as despesas


08/09/2020 04:00 - atualizado 08/09/2020 07:31

A renova��o do aux�lio emergencial por mais quatro meses veio como al�vio para fam�lias que dependem da ajuda do governo federal em meio � crise econ�mica provocada pela pandemia de COVID-19. Mas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou tamb�m o j� previsto corte no valor do benef�cio, que caiu de R$ 600 para R$ 300. Para mais de 60 milh�es de brasileiros impedidos de trabalhar ou que tiveram perda na renda em fun��o do distanciamento social, o corte de 50% no montante que tem sido a principal, quando n�o a �nica fonte de recursos, � muito preocupante.

Antes de anunciar oficialmente a prorroga��o, Bolsonaro reclamava do impacto do aux�lio, que, de acordo com o Minist�rio da Economia, custa cerca de R$ 50 bilh�es por m�s aos cofres p�blicos. “Pode at� ser pouco para quem recebe, mas � muito para quem paga”, declarou  o presidente na abertura do 32º Congresso Nacional da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes e tamb�m em outros eventos.

Apesar do descontentamento do presidente, o benef�cio alavancou sua popularidade. Em agosto, a aprova��o de Bolsonaro foi a melhor desde o in�cio do mandato. Segundo o instituto Datafolha, 37% dos brasileiros entrevistados consideraram o desempenho do governo federal bom ou �timo, ante �ndice de 32% da pesquisa anterior. Mas, se para o governo equilibrar os gastos durante a pandemia tem sido desafio, para quem recebe o benef�cio, � preciso fazer um malabarismo com as contas para arcar com as despesas de casa. Miss�o que se torna duas vezes mais espinhosa agora, com o corte do aux�lio pela metade. 

Para ouvir as dificuldades de homens e mulheres que dependem dos pagamentos, a reportagem do Estado de Minas foi �s ruas e conversou com benefici�rios, que revelaram dificuldades para ter acesso ao recebimento do aux�lio emergencial e os impactos da redu��o do valor para quem depende dele para sobreviver durante a pandemia do novo coronav�rus.

* Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Paulo Nogueira

“S� Deus para liberar”


Carlos Eduardo da Rocha, 50 anos 

(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.a press)
(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.a press)

Pai de dois filhos e fora do mercado de trabalho formal h� cerca de 10 anos, Carlos Eduardo, antes da pandemia, tinha um modesto lava-jato como fonte de renda. Al�m disso, costumava fazer bicos para complementar a renda. Mas a chegada do novo coronav�rus fez a clientela sumir. Para piorar, ele conta que at� hoje, mesmo com o benef�cio liberado pelo governo, s� conseguiu ter acesso a uma parcela. “Por enquanto, peguei s� a primeira. Deu para pagar umas contas, comprar mantimentos, mas eu pago R$ 450 s� de aluguel”, disse. Questionado sobre as futuras parcelas de R$ 300, Carlos Eduardo demonstra mais preocupa��o com o problema atual que encontra para receber. “Tudo vai depender daquele l� de cima, porque se n�o for Deus para liberar…”

“Ruim para todo mundo”

Bruno Rodrigues Pereira, 37 anos 


Bruno trabalhava como cozinheiro em um restaurante, mas perdeu o emprego em dezembro do ano passado. Mesmo com o aux�lio aprovado, ele afirma que n�o chegou a receber nenhuma das parcelas do benef�cio. “J� tem uns tr�s meses que foi aprovado e ainda n�o consegui receber. Pelo site d� erro e fala que a conta � inexistente”, explica. Com um aluguel mensal de R$ 800, ele faz planos com o dinheiro antes mesmo de saber se conseguir� receb�-lo. “Estou com um aluguel atrasado e uma conta de luz tamb�m, vou tentar resolver isso”, disse. Caso consiga, independentemente do valor das pr�ximas parcelas, ele afirma que precisar� recorrer a outros meios para complementar a renda.“� bem pouco, e a gente tem que se virar de outra forma para tentar completar. Est� ruim para todo mundo, mas a gente tem que cumprir os compromissos”, lembra.

“Comida n�o vai ter”

Eduardo Francisco do Carmo, 41 anos 


Desempregado h� quatro anos, Eduardo conta que antes da pandemia j� dependia de bicos para sobreviver. Com uma les�o permanente no pulso esquerdo causada por um acidente que sofreu em setembro do ano passado, ele encontrou muitos obst�culos para retornar ao mercado de trabalho. Quando a crise de sa�de se abateu sobre o pa�s, as portas se fecharam completamente. O aux�lio emergencial veio como al�vio moment�neo para tanto sufoco. “Recebi quatro parcelas, mas agora bloquearam. Falaram para eu ir na regional resolver, mas l� est� fechado”, diz. Com o que j� recebeu, ele afirma que conseguiu comprar alimentos e pagar contas de �gua e luz durante um tempo, mas neste m�s, sem  acesso ao benef�cio, precisou da ajuda de parentes. “Estou dependendo da minha m�e. Ela e meu irm�o me ajudaram com as contas e me doaram uma cesta b�sica”, conta. Agora, ele acredita que, mesmo que consiga voltar a receber, o novo valor ser� insuficiente. “Com R$ 600 j� estava dif�cil, com R$ 300 n�o vai ser suficiente para manter a casa. S� �gua e luz mesmo, comida n�o vai ter”, lamenta.

“As contas n�o param”

Andreia Carla Ferrari, 50 anos 


Aut�noma, a cabeleireira Andreia viu sua renda escapar entre os dedos com a debandada das clientes. Mesmo assim, n�o desanimou e recorreu aos bicos para contornar a situa��o. “Ainda est� dif�cil, porque as pessoas ficam bem inseguras. A maior parte da minha clientela � de mais idade, mas tenho feito meus bicos, uma faxina aqui, outra ali”, explica. O marido, m�sico, n�o tem conseguido trabalho com os bares fechados, e a espera at� conseguir o benef�cio foi longa. “Demorou uns tr�s meses. Eu falo que se dependesse s� desses R$ 600, teria morrido de fome. Quando uma pessoa me chama para fazer um trabalho, eu vou, para passar uma roupa, fazer uma faxina, porque as contas n�o param de vir”. O aux�lio emergencial � a conta de pagar o aluguel, no valor de R$ 600. Com o corte, Andreia se preocupa com as despesas, em sua casa e nas outras. “Com R$ 300, a gente n�o faz nada. Voc� sai com R$ 100 para fazer compras e n�o leva quase nada. At� o ovo est� mais caro. Para as pessoas de menor poder aquisitivo, est� dif�cil para alimentar os filhos e tem muitas fam�lias com tr�s, quatro filhos em casa.”

“Vai ficar mais dif�cil”

Angel de Souza Silva, 21 anos


H� dois anos sem trabalho com carteira assinada, Angel havia conseguido um emprego informal na limpeza de um restaurante, mas a casa fechou por causa da pandemia. M�e, ela conta que fez a solicita��o do aux�lio logo que foi aberto o cadastro, mas errou ao preencher as informa��es e n�o conseguiu ter acesso aos R$ 1.200 que o governo havia disponibilizado para mulheres chefes de fam�lia. “Peguei a primeira parcela dos R$ 600 em 8 de maio, e at� hoje estou tentando conseguir a segunda. Tenho crian�a, ent�o as coisas apertam, mas d� certo. Disseram que ia ter um site para corrigir as informa��es de quem fez o cadastro errado, mas n�o saiu.” Ela conta que tem recebido uma cesta b�sica disponibilizada pela Prefeitura de BH o que tem feito diferen�a em casa, mas diz que o corte no aux�lio vai deixar a situa��o mais apertada em casa. “� melhor do que nada, mas eu acredito que vai ficar mais dif�cil, principalmente para quem tem crian�a ou n�o tem renda. A� faz o que? Vai passar fome?”, questiona.  

“Problema s�o as d�vidas”

Antonio da Cruz, 61 anos


O catador de recicl�veis Antonio da Cruz � dos mais otimistas entre os benefici�rios do aux�lio emergencial entrevistados. Sorridente, ele afirma que conseguiu receber duas parcelas do benef�cio. “Eu catava latinha, mas essa epidemia ficou brava e decidi parar. Foi a� que consegui esse aux�lio”, resume. Antonio mora com a mulher, os filhos e os netos e acredita que, contendo gastos, com  as parcelas mensais do aux�lio federal a R$ 300, o valor ser� suficiente. “O problema maior s�o as d�vidas, mas se a gente trabalhar com a cabe�a, o dinheiro d�.”


“Pouco que ajuda muito”


Irani de Assis Cordeiro, 70 anos 


Irani diz que sempre dependeu do trabalho informal para sobreviver e sustentar a fam�lia. Ela mora com o filho, que trabalha e arca com algumas despesas, mas, durante a pandemia, ficou dif�cil conseguir ajud�-lo. “Trabalho com reforma de roupas, �s vezes, fa�o faxina, mas agora est� tudo muito dif�cil”, conta. Para ela, que teve acesso �s duas primeiras parcelas do aux�lio emergencial, a redu��o n�o � vista como o maior problema. “� um pouco que ajuda muito; para mim � muito. Claro que os R$ 600 ajudam mais, mas, chegando, qualquer tanto � muito importante”, avalia.

“Menos, mas ainda � dinheiro”

Pamela Pereira, 21 anos 


Pamela est� desempregada h� pouco mais de um ano. Para ela, conseguir o benef�cio n�o foi t�o dif�cil. “Mas demorou para liberar, comecei a receber em maio. Se der tudo certo, eu pego a terceira parcela. S� tive um problema no aplicativo, ent�o resolvi vir ao banco sacar o dinheiro”, conta. O marido � quem vem arcando com a maior parte das despesas mensais. Diante da diminui��o do valor, ela demonstra resigna��o. “Vai me ajudar, porque R$ 300 ainda � dinheiro, com certeza vai suprir algumas necessidades. Mas � chato, porque s�o R$ 300 a menos. Para quem tem filho, crian�a n�o entende isso, precisa de leite e quer na hora certa. Para quem paga aluguel, esse dinheiro vai fazer falta.”

“Tudo muito desorganizado”


Jessica do Esp�rito Santo Sampaio, 27 anos 


Desempregada, Jessica tem vendido m�scaras durante a pandemia, a R$ 5 cada. No come�o do ano, foi para o  Esp�rito Santo, mas voltou a Belo Horizonte pouco tempo depois. A mudan�a de endere�o trouxe problemas com o aux�lio emergencial, que j� havia sido aprovado. Com isso, conta, s� recebeu uma parcela do benef�cio. “Acho que est� muito desorganizado, a gente entra no aplicativo, vai � ag�ncia, falam que vai atualizar e nada que vai liberar. � muita coisa errada”, reclama. Para ela, a redu��o no valor da parcela � outro problema que ter� de enfrentar. “Acho que R$ 300 n�o ajuda n�o, � muito pouco.”
 


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