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Estado de Minas ECONOMIA

'A crise econ�mica ser� severa e prolongada', diz Monica De Bolle


27/09/2020 07:15

A economista Monica Baumgarten De Bolle mergulha em Ruptura - primeiro livro da s�rie A Pilha de Areia, que analisa os efeitos econ�micos da pandemia de covid-19 - nas primeiras rea��es � crise trazida pela emerg�ncia sanit�ria global. Na obra, Monica defende que � preciso romper com padr�es estabelecidos de estrat�gia econ�mica - como o teto de gastos p�blicos no Brasil - para responder aos desafios trazidos pelo novo coronav�rus.

A economista deixa claro que a crise de sa�de ter� efeitos de prazo muito mais longo do que governos e empresas parecem projetar hoje. Para ela, o aux�lio emergencial, que foi prorrogado at� dezembro, ter� de ser estendido novamente, uma vez que est� claro que o emprego e a renda n�o v�o se recompor inteiramente at� janeiro de 2021.

"A crise ser� muito severa e prolongada. � curioso, porque essas no��es n�o foram completamente absorvidas. J� se entendeu que � uma quest�o severa. O que n�o aconteceu, pelas proje��es que se faz para a economia de 2021, � as pessoas se darem conta de que o processo (de recupera��o) ser� muito prolongado e lento", disse ela, em entrevista ao Estad�o.

Especialmente no Brasil, falta uma vis�o mais multidisciplinar da an�lise econ�mica?

Isso � particularmente marcante na macroeconomia. A microeconomia avan�ou mais. Juntou-se com a psicologia comportamental para explicar como pessoas fazem escolhas. Num modelo tradicional, as decis�es s�o vistas como racionais, e a gente sabe que n�o � assim. Na parte aplicada, a microeconomia soube incorporar at� t�cnicas biom�dicas para fazer estudos randomizados e testar a efetividade de pol�ticas p�blicas.

E a macroeconomia?

A macroeconomia � outra hist�ria. De muitas formas, parou no tempo. A economia nasceu da filosofia moral, depois virou economia pol�tica. S� ap�s os anos 1950 que a economia foi tendo esse car�ter mais tecnocrata. E virou um neg�cio de modelagem, an�lise quantitativa. O macroeconomista deve ter um olhar abrangente, saber que institui��es, pol�tica e cultura afetam (a economia).

E como isso fica evidente?

Ficou mais claro depois da crise de 2008. E, agora, mais ainda: porque a pandemia � um desafio muito maior do que o de 2008. Acho que h� um atraso completo na macroeconomia. E a ruptura trazida pela pandemia deveria ser uma oportunidade para mudar isso.

Essa limita��o de vis�o atrapalhou a previs�o da crise?

Essa foi uma das motiva��es para meu canal no YouTube: como � que os economistas n�o estavam conseguindo enxergar a crise? Isso deixou muito vis�vel a limita��o a um molde de pensamento. Sempre tive um background na �rea biom�dica, e estou estudando de novo, e ficou muito claro que a gente estava enfrentando uma coisa in�dita, para a qual a economia n�o tinha boas respostas. Entendi tamb�m que (a crise) ser� muito severa e prolongada. � curioso, porque essas no��es n�o foram completamente absorvidas. J� se entendeu que � uma quest�o severa. O que eu acho que n�o aconteceu, pelas proje��es que se faz para a economia de 2021, � as pessoas se darem conta de que o processo (de recupera��o) ser� muito prolongado e lento.

Sua s�rie de livros trabalha com o tema 'A Pilha de Areia'. Como se explica o conceito?

Quando voc� faz um castelo de areia, de uma coisa voc� tem certeza: em algum momento, ela vai desmoronar. Esse desmoronamento pode acontecer muito rapidamente ou demorar muito. Pensando nas pandemias, em termos da pilha de areia: a gente tinha certeza absoluta de que uma pandemia viria. Era dado, j� t�nhamos tido algumas - a �ltima foi a de H1N1, em 2009. Aquela, em termos de pilha de areia, foi um desmoronamento pequeno e relativamente r�pido. Na grande pandemia de 1918, foi exatamente o contr�rio: todo mundo achava que a influenza era uma gripe - os cientistas n�o entendiam como tanta gente estava morrendo. O tamanho e intensidade daquilo foi um choque para o mundo. Ent�o, a gente tem de estar sempre preparado - e foi o grande erro do mundo todo, que ficou anestesiado com a H1N1, de 2009.

Isso atrapalhou a resposta econ�mica do Brasil � pandemia?

Acho que a gente conseguiu dar alguma resposta, ainda que muito insuficiente. A gente est� deixando muita empresa de porte menor falir. Isso vai ter consequ�ncias graves para o emprego e para a efici�ncia dos mercados, porque voc� vai gerar uma concentra��o enorme em determinados setores. Isso se resolveria com pol�tica de cr�dito p�blico.

O BNDES deve ser mais ativo?

O BNDES est� em uma pris�o ideol�gica. A TLP � uma excelente taxa de refer�ncia para o BNDES, mas � ruim em um momento de crise porque tem uma parte p�s-fixada. As empresas ficam sem saber quanto v�o pagar de juros. Isso seria facilmente corrigido se o BNDES tamb�m emprestasse �s taxas do Tesouro. N�o precisa colocar subs�dio nenhum. O que as empresas pedem � uma taxa prefixada. A �nica explica��o (para a estrat�gia atual) �: 'n�s n�o vamos fazer o que a Dilma fez'. Mas n�o convence.

E a distribui��o de renda, deve ser mais generosa e longa?

Principalmente, mais longa. (O aux�lio emergencial) n�o ficou t�o bom quanto poderia ter ficado, mas ajudou, apesar de muito problema de execu��o e fraude. Agora, o desafio que est� colocado � o seguinte: o benef�cio foi reduzido e estendido at� dezembro. S� que tem o precip�cio, porque a gente sabe que a pandemia ainda est� descontrolada e as pessoas n�o v�o achar emprego at� o fim do ano. E a situa��o da economia em janeiro vai ser de pen�ria. Ent�o, alguma coisa a mais vai ter de ser feita.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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