A Whirlpool, assim como outros fabricantes de geladeiras, fog�es e lavadoras, vivem um boom de vendas. Nas tr�s f�bricas da companhia - em Joinville (SC), Rio Claro (SP) e Manaus (AM) -, a produ��o est� a todo vapor, ocupando 95% da capacidade instalada. Apesar do bom momento, Jo�o Carlos Brega, presidente da companhia para Am�rica Latina, est� preocupado com a sustentabilidade desse crescimento no primeiro trimestre do ano que vem. Um dos motivos � o elevado desemprego - que bateu em 14,6%, segundo o IBGE.
Outro � a indefini��o da situa��o fiscal, que inibe novos investimentos e gera��o de empregos. "A venda de bens dur�veis � baseada em financiamento e em emprego", lembra o executivo.
Para janeiro, a empresa diz que ser� preciso fazer um novo reajuste de pre�os, mas n�o de toda a linha de produtos. "Tivemos quase 40% de desvaloriza��o do real e n�o h� produtividade que consiga compensar isso." A seguir , os principais trechos da entrevista:
Como est�o as vendas de eletrodom�sticos?
Estamos vivendo uma situa��o esquisita na economia. Tem setores que est�o indo bem e setores que acabaram. Os que est�o indo bem s�o todos aqueles relacionados � casa, seja da constru��o, seja do que se coloca dentro dela. E n�s, a�, estamos indo bem. O n�vel de demanda � equivalente ao dos melhores anos que j� tivemos. A ind�stria como um todo est� crescendo entre 25% e 30% em n�mero de unidades vendidas no terceiro trimestre em rela��o ao ano passado, � um boom. N�s crescemos mais. No ano, acumulado de janeiro a setembro, a ind�stria avan�ou entre 19% e 20% sobre 2019, porque o segundo trimestre foi realmente impactado. Com isso, em 2020 voltamos quase ao patamar de 2014, que foi um ano muito bom. A d�vida � qu�o sustent�vel � esse n�vel de demanda.
Por qu�?
A venda de bens dur�veis � baseada em financiamento, que hoje existe, e em emprego. Mas estamos com uma taxa de desemprego muito alta e tem setores da economia que n�o est�o t�o bem como o nosso. Toda essa parte de entretenimento, servi�os em geral, n�o se recuperou. De alguma forma, tem de ter um equil�brio, sen�o n�o � sustent�vel. O que o governo fez bem foi coronavoucher (o pagamento do aux�lio emergencial, que termina agora em dezembro) e a flexibiliza��o da lei trabalhista. Mas � preciso ter intelig�ncia para sair dessa situa��o.
O sr. est� preocupado com o fim do aux�lio emergencial?
Eu estou preocupado n�o com o fim por ele mesmo. Estou preocupado com a habilidade do governo de controlar o d�ficit fiscal, n�o romper o teto de gasto, ter o suporte do Congresso para isso e n�o cair no risco da demagogia. Se o Congresso aprovar a PEC emergencial, em que entram alguns gatilhos para manter o teto dos gastos, isso faz com que o investidor invista e o desemprego recue. O Brasil tem condi��o de continuar crescendo se fizer essa li��o de casa e voltar � pauta das reformas.
A empresa est� cautelosa em rela��o a 2021?
Sem d�vida. Temos um desemprego superior a 14%. Isso deve cair um pouco no quarto trimestre por causa da contrata��o tempor�ria. Mas � um n�vel muito alto. Aliado a isso existe a d�vida do controle do d�ficit p�blico. Isso nos deixa bastante cautelosos. Em termos de investimento em desenvolvimento de produto, aplicamos de 3% a 4% do faturamento, independentemente do cen�rio. J� os investimentos em capacidade de produ��o, por enquanto, n�o estamos fazendo nada. Estamos usando 95% da capacidade nas tr�s f�bricas, mas precisamos entender a sustentabilidade desse n�vel de demanda
Est� faltando produto?
Se voc� for � loja e quiser comprar hoje determinado produto, talvez n�o encontre. Mas n�o � uma falta generalizada, que vai ter o produto s� daqui a um m�s. Mas em uma semana entrega. O fornecimento est� sendo regularizado. Quando come�ou a faltar produto, o varejo come�ou a colocar pedidos a mais. Acho que isso inflou um pouco a demanda, que agora vai aterrissando para um patamar normal.
A empresa teve de reajustar pre�o por causa de aumento de custos?
Tivemos de reajustar alguns pre�os, sim, embora pontualmente, seguramos muito. A�o, resina, papel�o subiram muito. A� a cadeia ficou estressada. Tivemos quase 40% de desvaloriza��o do real. � ser muito infantil n�o entender que essa desvaloriza��o n�o vai passar para custos e para pre�os. E n�o h� produtividade que consiga compensar esse n�vel de desvaloriza��o.
H� necessidade de novos aumentos de pre�os?
Hoje, o progn�stico � de uma necessidade de subida de pre�o no primeiro trimestre, n�o para a linha inteira. Muitos componentes s�o importados. No microondas, por exemplo, boa parte dos componentes s�o importados ou cotados em d�lar.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
ECONOMIA