No centro de pol�micas recentes criadas por declara��es do entorno do presidente Jair Bolsonaro, a China tem sido cada vez mais importante para o com�rcio exterior brasileiro. Apesar de o presidente ter dito no domingo que os chineses precisam mais do Brasil do que os brasileiros da China, os n�meros mostram que a balan�a da depend�ncia pende mais para o lado dos sul-americanos.
De janeiro a outubro deste ano, um ter�o de tudo o que o Pa�s vendeu para o exterior teve como destino a China, principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, quando ultrapassou os Estados Unidos, e uma das poucas na��es que aumentaram as compras de produtos brasileiros neste ano. Pelo lado chin�s, a representatividade do Brasil no com�rcio total � menor: no ano passado, os brasileiros venderam 3,8% de tudo o que os chineses compraram do exterior.
Em entrevista no domingo, Bolsonaro disse que "n�s precisamos da China e a China precisa muito mais de n�s". "Eles t�m 1,4 bilh�o para alimentar, tem se tornado mais urbana que rural, compram muitas commodities", disse o presidente, em refer�ncia aos produtos classificados como b�sicos por n�o ter tecnologia envolvida ou acabamento, que respondem pela maior parte do que o Brasil exporta.
"N�o � bem assim", rebate o ex-secret�rio de Com�rcio Exterior e consultor Welber Barral. "A China depende de Brasil, Estados Unidos e Argentina em soja, que � o grande tema. Mas em termos de volume de com�rcio, a exporta��o do Brasil para os chineses � pequena. A soja � estrat�gica, mas se a China pensar que o Brasil n�o � confi�vel, ela vai buscar alternativas."
Para especialistas, a rela��o entre os dois pa�ses gera ganhos m�tuos. Mas, se a China deixar de comprar produtos brasileiros, o pa�s asi�tico pode recorrer a outros mercados, inclusive aos EUA. J� o Brasil, principalmente no agroneg�cio, � muito dependente dessas vendas e at� encontraria novos compradores, mas o fechamento da China teria o efeito de reduzir os pre�os dos produtos exportados pelo Brasil.
Crescimento
Neste ano, as exporta��es para a China subiram 11% at� outubro. De acordo com dados do Minist�rio da Economia, apenas os embarques de soja para a China, que somam US$ 20,5 bilh�es at� outubro, superaram tudo o que o Brasil vendeu para o segundo parceiro comercial, os Estados Unidos, para onde embarcaram US$ 17 bilh�es em produtos brasileiros, menos de 10% do total vendido pelo Pa�s.
Mesmo a aproxima��o do governo Bolsonaro com o presidente Donald Trump n�o foi suficiente para fazer crescer o com�rcio entre os dois pa�ses e as exporta��es para os EUA ca�ram 30,6% at� outubro.
A import�ncia dos brasileiros para os chineses e vice-versa varia de acordo com o produto exportado. No caso da soja, principal item embarcado para o pa�s asi�tico, o Brasil responde por 65% de tudo o que a China importa, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). J� a China compra 73,4% da soja exportada pelo Brasil. Tamb�m v�o para a China 87,2% da carne brasileira vendida ao exterior, 71,6% do min�rio de ferro e 47,5% da celulose.
Fontes do governo acreditam que a situa��o de "depend�ncia m�tua" existente hoje no caso da soja, cuja exporta��o brasileira cresceu no rastro da guerra comercial Brasil-China, tende a ser reduzida a partir de 2022, em preju�zo para os brasileiros.
A avalia��o � que a elei��o do democrata Joe Biden deve levar a uma melhor rela��o dos americanos com os chineses, com a possibilidade de negocia��es em que a China se comprometa a comprar mais produtos dos EUA, inclusive a soja.
Al�m disso, o fato de o Brasil precisar mais da China do que eles dos brasileiros em mercados como a carne, por exemplo, abre espa�o para retalia��es comerciais ao Pa�s. Isso poderia ser feito, por exemplo, no caso de o Brasil banir a chinesa Huawei do leil�o de tecnologia 5G. Em troca, os chineses poderiam deixar de comprar produtos brasileiros em que seria mais f�cil encontrar outros fornecedores.
"A China n�o pensa para 2022, ela pensa estrategicamente em 100 anos. Ela est� agora fazendo um enorme projeto de planta��o de soja na Tanz�nia. O Brasil n�o pode achar que vai fazer desaforo com a China neste momento e vai ficar por isso, porque n�o vai", completa Barral.
Para a diretora-executiva da C�mara de Com�rcio Internacional no Brasil (ICC BRasil), Gabriella Dorlhiac, h� uma "depend�ncia nos dois sentidos" e o melhor a ser feito � ampliar a pauta comercial brasileira, agregando destinos e produtos. "Nos �ltimos dez anos, a pauta tem se diversificado, mas ainda dentro do agroneg�cio. Declara��es passageiras talvez n�o ajudem, mas v�o passar. � preciso ter estrat�gias de longo prazo que independa dos governos."
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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