(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

Crise da covid-19 refor�ou novo papel do BNDES


03/01/2021 08:57

A rea��o � crise causada pela covid-19 deixou clara a mudan�a de foco do BNDES. O banco mirou nas empresas menores, em vez das "campe�s nacionais" e dos investimentos fara�nicos em infraestrutura. Vendeu participa��es acion�rias em grandes companhias, em vez de apoiar opera��es de fus�o e aquisi��o. Nem as combalidas companhias a�reas, atingidas em cheio na pandemia, viram a cor do dinheiro da institui��o.

Tudo muito diferente da crise financeira global de 2008, quando o banco foi turbinado com aportes bilion�rios do Tesouro Nacional - R$ 127,5 bilh�es, apenas em 2008 e 2009 - e atingiu seu auge em 2010. Esse papel j� tinha ficado para tr�s, numa guinada iniciada no governo Temer, em 2016. A partir de meados de 2019, o governo Bolsonaro acelerou as mudan�as. Os empr�stimos ca�ram para o n�vel dos anos 1990. O banco voltou a atuar em privatiza��es e concentrou esfor�os na estrutura��o de concess�es.

Quando a covid-19 desabou sobre a economia global, a lembran�a de 2008 e 2009 e o caixa de R$ 140 bilh�es atra�ram as aten��es para o BNDES. Em mar�o, dias antes de a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) anunciar que o mundo enfrentava uma pandemia, o presidente do banco, Gustavo Montezano, descartou uma a��o imediata. O papel naquele momento inicial seria manter as linhas de cr�dito "abertas e inalteradas", mesmo ap�s a covid-19 j� ter derrubado as bolsas de valores mundo afora.

Menos de duas semanas depois, quando j� estava claro que a covid-19 n�o afetaria apenas o com�rcio bilateral com a China ou os mercados financeiros, o pr�prio Montezano anunciaria, numa transmiss�o pela internet, as primeiras medidas do BNDES para mitigar a crise. De l� para c�, a a��o emergencial do banco j� somou R$ 150,6 bilh�es em apoios aprovados, informa o banco.

Isso interrompeu a tend�ncia de queda nos desembolsos, que podem ter ficado acima dos R$ 60 bilh�es inicialmente projetados, mas, como sinalizou Montezano em novembro, a prorroga��o das medidas emergenciais n�o est� no radar. Tudo leva a crer que o novo papel do BNDES ser� refor�ado.

Mesmo os n�meros bilion�rios escondem um apoio mais t�mido. Nos R$ 150,6 bilh�es, est�o inclu�dos valores que n�o s�o novos empr�stimos operados pelo banco, como os R$ 20 bilh�es repassados do Fundo PIS/Pasep, administrado pelo BNDES, para o FGTS - que depois foi liberado para os trabalhadores - ou os R$ 16,3 bilh�es em suspens�es de pagamentos, empr�stimos que deixaram de ser cobrados de empresas e de governos.

Programa emergencial

O foco nos pequenos neg�cios sobressai no Programa Emergencial de Acesso ao Cr�dito (Peac). Principal medida de cr�dito contra a crise, responde por R$ 91,5 bilh�es do total anunciado pelo BNDES. Mesmo esse montante partiu todo de bancos comerciais repassadores, entre p�blicos e privados, sem recursos do BNDES. O Peac gira em torno do FGI, um fundo de aval ao cr�dito que j� funcionava sob administra��o do banco, mas era pouco usado. Em opera��o desde junho, ap�s uma redu��o de encargos decidida pelo Congresso Nacional em agosto, o Peac decolou.

"As grandes empresas conseguiram tomar dinheiro. Foram l� nos banc�es e colocaram caixa para dentro. As pequenas n�o", afirmou o diretor de Cr�dito e Garantia do BNDES, Petr�nio Can�ado.

Dados do Banco Central (BC) citados pelo executivo mostram que o cr�dito para empresas grandes cresceu fortemente de mar�o. A entrada do Peac e de outras linhas, como o Pronampe, operada pelo Banco do Brasil (BB), virou o jogo a partir de meados do ano. Em outubro, o saldo das opera��es para pequenas e m�dias tinha salto de 27,8% no ano, ante 11,1% para as grandes.

Por isso, para o economista Vinicius Carrasco, professor da PUC-Rio e diretor do BNDES na primeira gest�o do governo Temer, o banco acertou no foco. Diante do choque da pandemia, as empresas precisavam de apoio emergencial para "fazer a travessia". Como o risco de cr�dito aumentou, por causa das incertezas associadas � crise, agravando justamente o hist�rico problema da falta de garantias, o apoio do Tesouro foi importante.

Para Manoel Pires, coordenador do Observat�rio Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre/FGV), o foco foi correto, mas o governo poderia ter apostado mais em medidas de cr�dito com apoio do Tesouro. Em vez disso, o governo escolheu enfrentar a pandemia mais com a transfer�ncia de renda para as fam�lias, como o aux�lio emergencial.

Risco afastou banco de grandes empr�stimos

A decis�o do BNDES de deixar as grandes empresas buscarem "solu��es de mercado" e n�o facilitar na concess�o de cr�dito acabou encontrando eco no temor, por parte dos t�cnicos do banco, de serem responsabilizados, no futuro, pelas decis�es em torno do apoio �s empresas - como ocorreu, no passado, no caso do frigor�fico JBS.

Isso ficou claro na linha para o setor a�reo - um dos segmentos mais prejudicados pela crise. Em meados de junho, o or�amento do programa passou pelo Comit� Gerencial, formado por todos os superintendentes do BNDES, com tr�s votos contr�rios. Segundo uma fonte que acompanhou o processo, uma das "quest�es de aten��o" levantadas no comit� foi que o Tesouro n�o participaria do apoio, deixando o risco apenas com o BNDES.

Um profissional que j� atuava no BNDES na crise de 2008 - e elogiou o foco atual nos pequenos neg�cios - ponderou que a falta de apoio para as companhias dos setores mais expostos � pandemia poder� ser um problema na retomada da economia. Como puxam a demanda em cadeias de fornecedores, essas empresas t�m um papel importante para impulsionar a atividade.

Caso estejam em condi��o financeira fr�gil, podem enfrentar dificuldades, disse o executivo, que pediu para n�o se identificar.

Venda de a��es rendeu R$ 49 bi ao BNDES em 2020

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) foi um dos agentes do mercado financeiro mais ativos neste ano. Depois de estabelecer uma meta agressiva de enxugamento de sua carteira de renda vari�vel, a pandemia da covid-19 n�o tirou o banco de fomento do trilho tra�ado.

Desde o fim do ano passado, logo ap�s definir suas diretrizes de atua��o e estabelecer suas metas de desinvestimento, a institui��o financeira vendeu cerca de R$ 49 bilh�es em a��es, incluindo a��es do rol das maiores empresas do Pa�s, como Vale, Petrobr�s e Suzano. Ao final dessas vendas, a carteira do banco ficou em cerca de R$ 70 bilh�es.

O diretor de Privatiza��es do BNDES, Leonardo Cabral, admite que 2020 acabou sendo melhor do que o esperado para a institui��o financeira em termos de desinvestimentos. No per�odo, o banco conseguiu vender parte de suas maiores posi��es da carteira de a��es, tal como Petrobr�s - vendeu R$ 22 bilh�es em fevereiro - e Vale, cerca de R$ 10 bilh�es, recursos que foram para o caixa do banco e ajudaram a engordar o lucro. "Passamos um pouco mais da metade da nossa meta de desinvestir R$ 90 bilh�es at� o fim de 2022. Sa�mos de um modelo �nico de venda, o que foi poss�vel ap�s ajustar nossa pol�tica de atua��o", disse Cabral.

As vendas de a��es da Vale ocorreram em um momento de mudan�a de governan�a da empresa, que deixou de ter um controlador, e com a alta hist�rica da a��o na Bolsa brasileira, na esteira dos pre�os do min�rio de ferro, seu produto carro-chefe. Fora a venda do restante das a��es da Vale, o BNDES planeja vender, j� em janeiro, suas deb�ntures participativas herdadas da �poca da privatiza��o da mineradora, uma opera��o na casa de R$ 6 bilh�es. "Ser� o fim de um ciclo", diz o executivo.

Redu��o

O processo de enxugamento da carteira de renda vari�vel do banco de fomento come�ou no fim de 2019, com o BNDES vendendo sua participa��o na Marfrig, quando embolsou R$ 2 bilh�es em uma oferta de a��es na B3. Tamb�m vendeu toda sua participa��o na AES Tiet� para sua ent�o s�cia na companhia, em uma transa��o competitiva, num processo de fus�o e aquisi��o (M&A;) tradicional. Vendeu, ainda, a��es da companhia de log�stica Hidrovias do Brasil, que abriu seu capital no segundo semestre de 2020.

Em outra oferta de a��es, se despediu de uma posi��o antiga, na gigante de celulose Suzano. O banco tamb�m vendeu uma s�rie de a��es em opera��es comuns na Bolsas, ao longo de diversos preg�es.

Cabral frisa que, se colocar apenas na mesa a participa��o que o BNDES ainda possui na Petrobr�s, que mesmo ap�s a venda neste ano segue como a maior exposi��o da carteira, valendo algo em torno de R$ 30 bilh�es em a��es (dependendo do pre�o da a��o, que caiu neste ano), e sua participa��o remanescente em Vale, o volume j� se aproxima do total feito em 2020.

"� o mesmo volume com poucas solu��es. Mas n�o vai parar. Queremos ajustar nossa carteira e sair de posi��es maduras e entrar em outros tipos de investimento", comentou o executivo. O BNDES quer sair, assim, dessas grandes empresas que marcaram a hist�ria do banco, quando o governo do PT estabeleceu foco na cria��o das "campe�s nacionais", para investir em empresas menores e em projetos que t�m mais car�ncia de capital.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)