Sem pedidos de carreto, Cl�udio Siqueira agora usa a carro�a para recolher sobras em feiras que alimentam sua fam�lia: ''Tudo que queria era trabalhar, mas n�o tem servi�o'' (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A falta de carretos de entulho e poda para a carro�a transformou o uso dessa ferramenta de trabalho de Cl�udio Siqueira, de 41 anos, no principal meio de sustento dele, da mulher e da filha de 4 anos. Puxado por um cavalo magro e suado, o ve�culo r�stico transporta agora lenha e restos de feiras, como frutas e hortali�as. S�o fontes essenciais de alimentos e combust�vel para a fam�lia, j� que a �ltima parcela de R$ 300 do aux�lio emergencialque vinha sendo pago por meio da Caixa Econ�mica Federal foi resgatada no m�s passado e o governo federal n�o manifestou inten��o de renova��o.
A economia na casa de Cl�udio se tornou geral. O medo da fome, real. Em vez de g�s de botij�o, a fam�lia usa lenha e a queima em um fog�o improvisado em lata de tinta. Produtos de limpeza e alimentos s�o racionados ao m�ximo. Estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliam que o aux�lio deveria ser mantido enquanto houver pandemia, por quest�es sociais e tamb�m econ�micas.
“A gente chegou ao ponto do desespero maior, que � n�o saber se vai ter comida e leite para trazer para dentro de casa. Tudo que queria era trabalhar, mas n�o tem servi�o. N�o sei ser ladr�o, o que sei fazer � trabalhar desde menino”, desabafa o carroceiro, morador da Vila Calafate (Oeste de Belo Horizonte), enquanto a filha o ajuda a acender o fogareiro e a mulher separa de um enxame de moscas os restos de melancias, couve e jil� de uma feira.
Um relato de desespero e incerteza, realidade para parte dos 67,9 milh�es de pessoas que sobreviveram at� aqui durante a pandemia do novo coronav�rus (Sars-CoV-2) com o aux�lio emergencial encerrado em dezembro, em meio ao desemprego e fechamento de atividades, necess�rio para o isolamento social.
Nos primeiros cinco meses, desde abril, foram pagas parcelas do recurso no valor de R$ 600 (R$ 1.200 para mulheres chefes de fam�lia) e R$ 300 (R$ 600 para as que s�o arrimo de fam�lia) de setembro a dezembro. Do total de inscritos, 19 milh�es passar�o a contar apenas com o Bolsa-Fam�lia, enquanto 48,9 milh�es, muitos deles informais, simplesmente n�o receber�o nada.
Em Minas Gerais, foram pagos R$ 26,4 bilh�es a 6,4 milh�es de cidad�os. A Caixa informou que um total de R$ 292,9 bilh�es foram creditados, mas nem tudo chegou aos necessitados. H� estimativas de uma execu��o na casa dos 40%.
O fim do aux�lio fez despencar de R$ 300 para R$ 91 mensais a renda da dom�stica desempregada Marlene Vaz da Silva, de 64, moradora da Vila S�o Vicente, no Padre Eust�quio, Regi�o Noroeste de BH.
“A comida j� estamos espremendo na geladeira e na despensa, mas os rem�dios que tomo para controlar minha hipertens�o e o diabetes n�o estou podendo comprar. Muitos n�o consigo nos postos de sa�de, porque servem para aliviar dores. N�o sei como � que vai ser”, disse a mulher, que mora com um filho de 32, soropositivo para o HIV, que vive de bicos e, segundo ela, precisa trabalhar para sustentar dois filhos e n�o ser preso por atraso nas pens�es. “Assim, meu filho n�o consegue me ajudar. � s� Deus e se, por miseric�rdia, continuassem com esse aux�lio.”
J� com dificuldade para p�r comida em casa, Marlene Vaz se desespera por perder o dinheiro para os rem�dios de hipertens�o e diabetes e pede a ''miseric�rdia'' da retomada do aux�lio (foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)
Sem recursos para o aluguel e com as contas de �gua e de luz vencidas, a dona de casa Ros�ngela da Cruz, de 60, tentou um ato desesperado. Invadiu com a filha, a neta e o genro um terreno p�blico pr�ximo � sua casa, no bairro Calafate (Regi�o Oeste de BH), tentando com isso conseguir uma moradia pr�pria antes que sejam despejados.
“A dona do barraco j� pediu ele de volta. Porque pago R$ 600 e n�o est� sobrando R$ 200 para poder pagar. Agora, com o fim do 'dinheiro do corona' (aux�lio emergencial), bateu um desespero nas fam�lias e uma por��o de gente aqui do bairro tentou invadir esse terreno a� do lado”, disse.
A tentativa de se instalar na �rea, no entanto, foi frustrada pela Pol�cia Militar, que agiu r�pido e impediu a ocupa��o. Barracos erguidos com lona e paus terminaram derrubados e removidos por caminh�es na quarta-feira.
“A gente est� assim, sem saber como fazer, para onde ir, porque n�o tem mais ningu�m pela gente. Esse dinheiro era o que estava salvando a gente. Ficar sem foi um tapete que puxaram do nosso p�. Em casa est� todo mundo desempregado, n�o tem mais trabalho. Esse era o �nico dinheiro que tinha”, disse a dona de casa.
Biblioteca em risco
Klinger perdeu doa��es que mantinham a biblioteca e, com o cart�o quebrado, ainda ficou sem ajuda (foto: Marcos Vieira/EM/D.A press)
A constru��o de uma casa incomum, sob uma mangueira plantada em canteiro p�blico, no bairro Jardim Am�rica, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, e o h�bito de seus moradores de compartilharem livros doados com a comunidade chamaram a aten��o na capital mineira em 2017. A iniciativa, contudo, foi reduzida a cinzas naquele mesmo ano, depois que um inc�ndio criminoso destruiu a habita��o e seu acervo.
Com ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e de volunt�rios, a biblioteca ressurgiu na conflu�ncia das avenidas Bar�o Homem de Melo e Silva Lobo, mas, devido � falta de trabalho e ao fim do aux�lio emergencial, o idealizador da iniciativa pode perder sua casa novamente.
O artista, restaurador, livreiro e cabeleireiro Klinger Douglas Rodrigues, de 45 anos, afirma que o espa�o atraiu menos pessoas e, consequentemente, menos doa��es devido � pandemia e ao afastamento social imposto pelo novo coronav�rus. O aux�lio emergencial pago pelo governo federal o estava ajudando a manter o aluguel e as contas em dia, mas seu cart�o de recebimento se quebrou e ele nada recebe h� quatro meses.
“Estou tentando de tudo nas regionais. Meu sustento vem de doa��es. As pessoas trazem para mim m�veis velhos, restauro e os vendo. Se me d�o tr�s latas com um pouco de tinta, fa�o uma e vendo. Mas as pessoas que estavam em casa j� se desfizeram de tudo e as compras ca�ram”, afirma.
Klinger precisa se apressar. Segundo a Caixa Econ�mica Federal (CEF), os recursos creditados em contas poupan�a social digital n�o movimentados no prazo de 90 dias, nos casos do aux�lio emergencial, ou 270 dias, no caso do aux�lio extens�o, s�o devolvidos � Uni�o nos termos do regulamento do Minist�rio da Cidadania.
“Os benefici�rios que fazem parte do Bolsa-Fam�lia que recebem com o cart�o do programa podem realizar o saque das parcelas do aux�lio emergencial e do aux�lio emergencial extens�o no prazo de 270 dias a partir da data de libera��o dos valores prevista no calend�rio.”
F�lego que se extingue
Luciene de Jesus com os filhos: depois da reforma do piso e telhado, o medo do futuro. ''Sem o aux�lio, n�o sei como vai ser. S� Deus prover� a gente'' (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Apesar do enfrentamento da pandemia, para milh�es de brasileiros, o ano de 2020 acabou representando a oportunidade do recebimento de uma renda a mais, que possibilitou a melhoria da alimenta��o ou mesmo a reforma na casa, por conta do recebimento do aux�lio emergencial. Agora, a situa��o volta ao “antigo normal”, com o fim do aux�lio, que teve a �ltima parcela paga em dezembro.
A mudan�a foi mais impactante para os indiv�duos em situa��o de extrema pobreza cadastrados no programa Bolsa-Fam�lia, que vivem em �reas carentes. Nesses locais, os recursos ajudaram a evitar um aprofundamento da mis�ria e, de quebra, proporcionaram pequenas melhorias em casa, com consequente movimenta��o da economia.
Foi o que aconteceu com Luciene de Jesus Oliveira, de 49 anos, moradora da Vila Castelo Branco, uma das �reas mais carentes de Montes Claros, no Norte de Minas. Assim como outras chefes de fam�lia cadastradas no programa, ela recebeu em dezembro a �ltima parcela do aux�lio, de R$ 600 – entre abril e setembro, os valores mensais foram R$ 1, 2 mil.
“Agora, sem o aux�lio, n�o sei como vai ser. S� Deus prover� a gente”, preocupa-se Luciene, que volta a receber os R$ 212 do Bolsa-Fam�lia. A expectativa dela era contar com a ajuda ainda este ano e teve a confirma��o da suspens�o somente quando recebeu a visita da reportagem do Estado de Minas, no fim de semana passado. “Achei que (o pagamento do aux�lio) continuaria pelo menos at� mar�o”, disse a mulher, surpresa.
Luciene � m�e de quatro filhos. Mas, contando os netos, na sua casa s�o oito pessoas, n�mero que, em breve, vai subir para nove, j� que uma de suas filhas, C�lia Poliana, de 31, est� gr�vida de sete meses – ela espera uma menina. A mulher conta que, al�m de servir para “comprar comida”, o dinheiro do aux�lio emergencial proporcionou a reforma do piso e no telhado da casa que abriga a numerosa fam�lia.
A moradia est� situada em um terreno ocupado, onde h� outros dois barrac�es, debaixo de uma rede de alta-tens�o na Vila Castelo Branco. “O aux�lio foi uma gl�ria em minha vida. Se esse dinheiro for cortado mesmo, vai ficar muito dif�cil pra gente”, lamenta Luciene.
Na mesma Vila Castelo Branco, situa��o semelhante � encarada por Simone da Silva Ferreira, de 32, e pelo companheiro dela, Alessandro Ferreira da Silva, de 36. O casal tem quatro filhos. Ambos receberam parcelas do aux�lio emergencial nos �ltimos nove meses. Com o fim do benef�cio, Simone voltou a receber R$ 212 do programa Bolsa-Fam�lia a partir deste m�s.
J� Alessandro, que n�o � cadastrado em nenhum programa e est� desempregado, tenta ganhar alguma coisa como catador de materiais recicl�veis. Ele diz n�o saber ao certo a renda mensal gerada pela atividade informal. “Acho que d� uns R$ 300 por m�s”, calcula.
O catador conta que o “dinheiro extra” proporcionou uma reforma no banheiro e a troca das portas antigas do barraco de dois c�modos, onde mora a fam�lia. E melhorou a alimenta��o em casa. “A gente passou a comprar carne, verdura e iogurte para os meninos tamb�m. Agora, vai ser dif�cil manter essas coisas”, reclama. Disse ainda que durante os �ltimos meses de 2020 conseguiu comprar o g�s de cozinha. “Agora, acho que a gente vai ter que voltar para o fog�o a lenha.”
Dificuldades � vista tamb�m para Juc�lia Ferreira, de 35, desempregada e m�e de tr�s filhos, moradora de um barraco no bairro Santo Amaro, em outro ponto de Montes Claros. Pouco antes do in�cio da pandemia ela perdeu o emprego de atendente em uma padaria no bairro Jardim Canad�, em Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e retornou para a cidade do Norte de Minas.
Sem direito ao Bolsa-Fam�lia, a ex-atendente de padaria conta que nos �ltimos meses de 2020 sobreviveu com os recursos do aux�lio emergencial. “Agora, vai ficar dif�cil demais. A gente procura, mas n�o acha servi�o. O aux�lio era o �nico recurso que a gente tinha”, lamenta Juc�lia, mostrando a panela com a “mistura” do dia: macarr�o. “Acabando o aux�lio, acho que vai faltar at� o alimento pra gente. O jeito vai ser catar latinha para sobreviver”, afirma a desempregada.
PUXADINH0
Roseli e Anderson fizeram um ''puxadinho'' de dois c�modos, que melhorou a vida da fam�lia: felizmente, a mulher ainda conseguiu emprego (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Ao mesmo tempo em que lamentam o fim do aux�lio emergencial, Roseli Freitas Pereira, de 35, e o companheiro dela, o pedreiro Anderson Alves Ferreira, de 32, comemoram conquista obtida com a ajuda recebida durante os primeiros nove meses da pandemia : um puxadinho de dois c�modos, sem reboco, que fizeram na moradia do casal, no bairro Itataia, outra �rea carente de Montes Claros. O casal tem quatro filhos.
“Gra�as a Deus, a gente conseguiu ampliar a casa. O aux�lio melhorou muito a vida de quem teve cabe�a para administrar bem o dinheiro”, afirma Roseli, que, como chefe de fam�lia, recebeu seis parcelas de R$ 1,2 mil e tr�s de R$ 600. Anderson tamb�m fez o cadastro e recebeu seis parcelas de R$ 600 e tr�s pagamentos de R$ 300. Emprego de dom�stica, com carteira assinada e sal�rio m�nimo, � mais uma conquista de Roseli, que at� o at� o in�cio da pandemia fazia faxinas, recebendo di�ria em torno de R$ 50 a R$ 60.
O dinheiro do aux�lio recebido pelo carroceiro Jos� Carlos Pereira, de 38, que vive no mesmo bairro, tamb�m foi direcionado para melhorias em casa. Ele cercou um pequeno terreno de sua propriedade na zona rural. A mulher dele, Ione, trabalha como atendente em um a�ougue da cidade. O casal tem seis filhos, dos quais dois continuam morando na casa dos pais. Jos� Carlos passa a contar agora somente com a renda do trabalho como carroceiro, incerta. Mas n�o lhe falta esperan�a: “Sem esse dinheiro, a gente embanana um pouco. Mas vai se virando”.
Entrevista
D�bora Freire Cardoso
Professora doutora da Faculdade de Ci�ncias Econ�micas (Face) da UFMG
“O encerramento � perverso em termos sociais e econ�micos”
Um m�s ap�s o aux�lio emergencial ser lan�ado (em abril), estudo da Faculdade de Ci�ncias Econ�micas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que o programa deveria ser estendido pelo menos at� dezembro, o que acabou ocorrendo. Uma das autoras do trabalho, intitulado “Renda b�sica emergencial: uma resposta suficiente para os impactos econ�micos da pandemia da COVID-19 no Brasil?”, a professora doutora D�bora Freire Cardoso avalia que a transfer�ncia de renda deve continuar enquanto durar a pandemia. Ao Estado de Minas, a economista indicou motivos sociais, mas tamb�m garante que a medida � vital para a sa�de da economia e a gera��o de empregos.
Na opini�o da senhora, o aux�lio emergencial deveria ser estendido para 2021?
Sim. O aux�lio deveria ser ampliado. A pandemia ainda n�o acabou. Estamos observando o aumento de casos de COVID-19 e, em algumas localidades, de maneira correta, a revers�o da flexibiliza��o, que vinha ocorrendo para tentar controlar a dissemina��o do v�rus. Ainda estamos em um cen�rio configurado pela necessidade de manter as pessoas em casa, o que prejudica muito a renda de informais e aut�nomos. Ainda, a pandemia promoveu retra��o econ�mica e aumentou sobremaneira o desemprego. A recupera��o econ�mica, que volta a ser prejudicada com a maior dissemina��o do v�rus, � lenta. O mercado de trabalho ainda n�o est� aquecido para reabsorver pessoas que perderam o emprego.
O governo justifica o fim do aux�lio alegando que gera endividamento e que precisa ser fiel ao teto de gastos. Como a senhora avalia isso?
Nesse caso, o encerramento do aux�lio prejudica a economia, visto que, sem ele, grande parte das fam�lias brasileiras perdem capacidade de consumo, o que ter� impactos negativos. As vendas das empresas v�o cair, a atividade econ�mica sentir� a retra��o. As pr�prias receitas do governo tamb�m sofrer�o impacto negativo, j� que a arrecada��o de impostos depende muito do consumo das fam�lias. Portanto, o encerramento do aux�lio � perverso em termos sociais, pois aumenta sobremaneira a vulnerabilidade das fam�lias hoje desamparadas, mas tamb�m em termos econ�micos, pois prejudica a economia neste momento de grande incerteza e notadamente atrasa a recupera��o.
Se fosse mantido, quais seriam os benef�cios do aux�lio na din�mica do Brasil em pandemia?
A capacidade de consumo das fam�lias seria mantida. Portanto, a economia n�o sofreria mais um baque com a redu��o do consumo. O consumo das fam�lias � o agregado macroecon�mico de maior peso no PIB (65% do PIB vem do consumo das fam�lias). Assim, conjuntamente � vacina��o e redu��o das taxas de infec��o pelo v�rus, auxiliaria a pr�pria recupera��o da economia ao longo deste ano, ao ser um importante componente de incentivo � demanda. Empres�rios precisam ter perspectiva de demanda para investir.
Mas e quanto ao endividamento?
A amplia��o das parcelas gera custo fiscal, de forma que aumentaremos o d�ficit p�blico e, consequentemente, o endividamento. No entanto, o custo econ�mico de n�o ter aux�lio, hoje, � maior. A retra��o da atividade econ�mica tamb�m gera d�ficit fiscal, pois as receitas do governo caem.
O que ocorrer� sem a amplia��o das parcelas?
O cen�rio contr�rio. Uma importante retra��o no consumo das fam�lias que precisam do benef�cio. A redu��o da demanda de consumo das fam�lias teria impacto negativo no investimento e contrata��o de pessoal por parte das empresas. Menos renda seria gerada. O consumo de todas as fam�lias seria afetado, j� que a menor atividade econ�mica afeta todos. Menos impostos seriam recolhidos, arrefecendo a recupera��o econ�mica.
H� alternativas vi�veis para o governo manter a renda e os empregos sem pagar o aux�lio?
O aprofundamento da prote��o social no Brasil hoje � imperativo. Sem o aux�lio, veremos de fato o impacto dessa crise na renda das fam�lias, de modo que as taxas de pobreza e extrema pobreza devem crescer de forma relevante. Do mesmo modo a desigualdade. A extens�o do aux�lio no valor de R$ 300 pode ser pensada como uma pol�tica transit�ria para um novo programa, para n�o gerar uma retra��o na economia. Precisaremos de um programa mais amplo que o Bolsa-Fam�lia. Ser� fundamental que o governo federal atue com um programa de investimentos robustos, especialmente no setor de sa�de. Esse tipo de investimento teria o potencial de incentivar a economia, a gera��o de empregos formais, ao mesmo tempo em que ampliaria a capacidade do setor de sa�de, o que seria muito importante para lidar com as sequelas sanit�rias que essa crise deixar�.
Quais os impactos da vacina��o na recupera��o econ�mica e em quanto tempo come�a a surtir efeito?
A vacina��o � imprescind�vel para a recupera��o econ�mica. N�o existe recupera��o sem a imuniza��o de grande parte da popula��o. A vacina��o come�aria a gerar impactos econ�micos a partir do momento em que as taxas de cont�gio do v�rus fossem caindo e que, progressivamente, mais pessoas fossem sendo imunizadas, uma vez que elas poderiam come�ar a voltar a ter uma vida relativamente normal, ampliando novamente suas atividades de consumo, dinamizando a economia. No entanto, est�mulos fiscais, como o aux�lio emergencial e um programa de investimentos governamentais, ainda seriam necess�rios, visto que o mercado de trabalho responde com uma certa defasagem de tempo. Precisar�amos manter a capacidade de consumo das fam�lias por um tempo para que a economia pudesse se recuperar de forma sustentada.