Os novos h�bitos adquiridos pela popula��o durante o isolamento social aceleraram a participa��o dos bancos digitais no Brasil. Apesar do poder financeiro e da ainda alta concentra��o das institui��es tradicionais, esses novos personagens est�o dando cara nova ao sistema financeiro nacional, que aos poucos ganha mais competi��o. Sem tarifas nem ag�ncias banc�rias, alguns conseguiram dobrar a carteira de clientes durante a pandemia e ganharam, pelo menos, tr�s anos na corrida por maior presen�a no setor.
Um levantamento do UBS Evidence Lab mostra que em 2020, pela primeira vez, a parcela de downloads de aplicativos dos novos players ultrapassou a de institui��es tradicionais. Em 2019, a participa��o dos maiores bancos era de 52% e dos novos, 48%. No ano passado, essa posi��o se inverteu, com os bancos digitais alcan�ando uma fatia de 52%.
"Calculamos que atualmente o Pa�s tenha mais de 60 milh�es de contas digitais, sem considerar os n�meros do Caixa Tem (usado para o pagamento do aux�lio emergencial)", diz o analista do UBS Thiago Batista. Na avalia��o dele, a pandemia levou muitas pessoas que n�o tinham confian�a nos sistemas digitais - como pessoas mais velhas - a usar esses bancos pela internet. "Hoje, vejo esse movimento sem volta. Quem come�a a usar, n�o para."
O movimento tem sido t�o intenso que, na Neon, o h�bito digital da popula��o antecipou, no m�nimo, em tr�s anos a escalada de crescimento. "Foi um ano em que crescemos muito al�m do imagin�vel", diz Pedro Conrade, fundador da institui��o. Entre mar�o e agora, a empresa cresceu tr�s vezes em receita e n�mero de clientes (hoje, somam 12 milh�es). "Cerca de 65% dos clientes ativos usam a conta da Neon como sua conta principal."
Para Conrade, apesar do forte crescimento em 2020, ainda h� espa�o para ampliar a participa��o no mercado. Atualmente, diz, quase 50% das transa��es s�o feitas em dinheiro. "S� nesse aspecto, temos o dobro de mercado a ser conquistado. A nossa brecha � evoluir mais r�pido antes que os grandes bancos cheguem." Com as novas medidas do Banco Central, como os pagamentos instant�neos e o open banking (sistema que permite o compartilhamento dos dados do cliente entre institui��es), a competi��o dever� ser estimulada no setor.
Uma das estrat�gias dos bancos para manter o ritmo de crescimento em 2021 ser� ampliar a oferta de produtos e tentar fidelizar os clientes, diz o s�cio-l�der de servi�os financeiros da consultoria KPMG, Cl�udio Sert�rio. Ele explica que, normalmente, os mais jovens t�m contas em mais de dois bancos digitais ao mesmo tempo e podem desativ�-las a qualquer momento, dependendo da experi�ncia positiva ou negativa.
Alvo
Para atender a essa demanda, o banco Inter quer ampliar o conceito de marketplace dentro do banco, com oferta de produtos financeiros e n�o financeiros. Hoje, o cliente do Inter pode adquirir na plataforma produtos da Via Varejo, Casas Bahia e Magazine Luiza, entre outros. Os clientes t�m cashback (recebem parte do dinheiro de volta) nas compras e tamb�m podem ter acesso a cr�dito, diz a diretora financeira do banco, Helena Lopes Caldeira.
Com 8 milh�es de clientes, a institui��o dobrou o n�mero de contas desde 2019 e espera alcan�ar 15 milh�es ao final de 2021. "Nosso desafio � continuar crescendo com a mesma qualidade dos servi�os", diz a executiva. Hoje, o Inter tem � disposi��o dos clientes, al�m da conta corrente, cart�o de cr�dito, seguros e cr�dito.
Essa diversifica��o � vista como essencial pela maioria dos bancos digitais para convencer os clientes a continuarem ativos. Boa parte dos correntistas que buscam essas institui��es querem menos burocracia e, sobretudo, fugir das tarifas banc�rias. "Temos tudo o que eles querem com uma estrutura mais barata e melhor", diz Maxnaun Gutierrez, chefe de produtos e pessoa f�sica do C6 Bank.
Criado em 2018 por um grupo de 25 executivos do mercado financeiro e de tecnologia, o banco s� come�ou a operar, de fato, em agosto de 2019. Hoje, pouco mais de um ano depois, j� conta com 4 milh�es de contas abertas. Gutierrez afirma que, com a retomada econ�mica prevista para 2021 e a estreia do open banking, o crescimento dos bancos digitais vai continuar acelerado. Com a economia melhorando, diz ele, mais dinheiro circula e isso � positivo para o setor. Ele n�o descarta at� a entrada de novos players no mercado.
Em estudo publicado em meados de 2020, a consultoria Mckinsey destaca que uma potencial consequ�ncia da atual pandemia � justamente a universaliza��o do acesso a canais digitais banc�rios. Isso porque "cada vez mais usu�rios est�o experimentando a conveni�ncia da utiliza��o desses canais, muitos deles pela primeira vez". A populariza��o de pagamentos por meios eletr�nicos, destaca o relat�rio, tamb�m deve reduzir significativamente a circula��o de dinheiro f�sico na sociedade brasileira, tend�ncia j� verificada em outros pa�ses.
Segundo Sert�rio, da KPMG, para continuarem crescendo os bancos digitais precisam alimentar cada vez mais a sensa��o de novidade e inova��o. Al�m da qualidade dos servi�os em alta, eles tamb�m ter�o de contar com capacidade financeira para o lan�amento de novos produtos. Na �rea de cr�dito, essencial nos dias atuais e uma grande car�ncia no Pa�s, h� a necessidade de ter um balan�o que sustente poss�veis perdas decorrentes da inadimpl�ncia, diz Sert�rio.
Outra armadilha da qual os bancos precisam escapar � a do pr�prio crescimento. Essas institui��es nascem pequenas, mas, para crescer, ter�o de investir em marcas e marketing e podem aumentar demais a estrutura a ponto de ficar muito custosa, dizem especialistas.
Institui��es tradicionais reagem
Atentos � r�pida evolu��o e ao apelo dos digitais, os chamados "banc�es" tamb�m decidiram criar seus pr�prios canais para n�o perder espa�o no mercado. O Bradesco foi mais r�pido nessa estrat�gia e h� tr�s anos criou o Next, que hoje conta com 4 milh�es de contas - em janeiro de 2020, esse n�mero estava na casa de 1,8 milh�o. "Antes, nossos clientes estavam na faixa de 18 a 35 anos. Mas, em 2020, vimos pessoas de 50, 60 anos fazendo ades�o ao nosso sistema", diz o presidente da institui��o, Jeferson Honorato.
Ele conta que o trabalho do Next � de inclus�o banc�ria - e n�o de canibaliza��o. Cerca de 35% dos clientes t�m conta corrente pela primeira vez e 76% n�o eram da base do Bradesco. "� um complemento. Ao mesmo tempo que o banco tem presen�a f�sica, o Next � um caminho para aquelas pessoas que querem experimentar um banco digital", diz Honorato, que tamb�m aposta em mimos para conquistar os clientes, como cr�dito mensal de R$ 20 do �ber.
O concorrente Ita� tamb�m entrou no mercado. Em novembro do ano passado, criou o iti e j� conta com 3 milh�es de contas. "Temos como foco o cliente que precisa de uma rela��o banc�ria, seja a popula��o de mais baixa renda ou os desbancarizados", diz o diretor do iti Ita�, Jo�o Ara�jo. Segundo ele, o mercado ficou muito aquecido com a pandemia e o novo comportamento da popula��o. "Certamente, estamos entre os que mais cresceram no primeiro ano de opera��o; isso sem nenhuma campanha massiva de publicidade."
Cadeia de neg�cios
O avan�o dos bancos digitais tamb�m tem criado uma cadeia de neg�cios importante. � o caso da plataforma de servi�os banc�rios BBNK, criada em 2018. A empresa permite que qualquer companhia ofere�a a seus clientes uma conta digital pr�pria, sem precisar de autoriza��o do Banco Central. "A companhia fecha o contrato comigo e eu ofere�o tudo: tecnologia e autoriza��o da autoridade monet�ria. O cliente s� coloca a marca dele", diz o presidente e fundador da BBNK, Yan Tironi.
At� o momento, afirma ele, 40 marcas fecharam contrato com a plataforma. Dessas, tr�s j� lan�aram suas contas no mercado. As demais ainda aguardam o melhor momento para adotar uma estrat�gia de lan�amento. Segundo Tironi, a pandemia atrasou os planos das companhias para levar adiante a abertura das contas, mas o interesse continua. "Tem muita gente experimentando para lan�ar da forma mais apropriada."
Tironi afirma que a BBNK faz todo o plano de neg�cios para as empresas. A plataforma tem mais de 70 mil contas abertas, sendo 50 mil nos �ltimos tr�s meses. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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