A interven��o na Petrobras feita pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou pelo Facebook a troca do comando da estatal, na noite de sexta-feira, 19, ter� o efeito imediato de afastar investidores, empurrar o d�lar para cima e ampliar as incertezas da economia. No longo prazo, deixar� mais cara a sa�da da crise, o ajuste das contas p�blicas e as reformas, segundo especialistas.
A avalia��o � que a retomada do crescimento sai prejudicada com o epis�dio, mas n�o h� um consenso se haver� uma guinada ainda mais populista por parte de Bolsonaro. Se isso acontecer, dizem eles, o pre�o da retomada sair� muito mais alto.
Para alguns economistas, a decis�o de Bolsonaro marcou um ponto de inflex�o. Desde o in�cio do mandato, afirmam, o presidente deu mostras de que sua vis�o liberal da economia era apenas um "verniz" aplicado pelo ministro Paulo Guedes para ser mais bem aceito pelos eleitores que buscavam uma alternativa ao PT.
Entre muitos epis�dios nessa linha, o mais recente aconteceu em janeiro, com a decis�o de Bolsonaro afastar o presidente do Banco do Brasil, Andr� Brand�o, ap�s a institui��o anunciar cortes de funcion�rios e fechamento de ag�ncias. Guedes conseguiu, naquele momento, segurar a interven��o no banco, de capital aberto - mas n�o reverteu a decis�o agora na Petrobras.
"O Guedes fica de goleiro no p�nalti, com o Bolsonaro chutando a gol", diz Ana Carla Abr�o, economista e s�cia da consultoria Oliver Wyman no Brasil. "Conforme a popularidade vai caindo e a base o pressiona por medidas que n�o conversam com agenda econ�mica, Bolsonaro faz a escolha que � condizente com sua trajet�ria pol�tica." Para ela, o presidente claramente vem subindo o tom das medidas populistas.
Segundo S�rgio Lazzarini, professor de economia do Insper, o perfil intervencionista do presidente tende a se acirrar, porque o ciclo eleitoral tornou-se prioridade. "Bolsonaro come�a a perder muito a franja do liberal econ�mico e vai se agarrar mais no populismo para agradar seu eleitorado, como o caminhoneiro e o conservador raiz, como estrat�gia de ir ao segundo turno com 25% dos votos e torcer para uma nova polariza��o nas elei��es", diz.
A teoria, por�m, n�o � uma unanimidade. "A troca de comando na Petrobras n�o foi uma guinada: foi o Bolsonaro em seu estado mais chucro... e p�e chucro xucro nisso", afirma Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC). Para ele, n�o h� novidade no movimento, que � a "en�sima li��o do que � o Bolsonaro."
S� que, se o presidente insistir em continuar provocando instabilidade, a retomada ser� mais dif�cil. "A janela para colocar economia do Pa�s no eixo, principalmente na quest�o fiscal, est� estreitando", afirma. "Se a economia emburacar de vez, n�o haver� votos de caminhoneiro, nem de ningu�m."
Sergio Werlang, tamb�m ex-diretor do BC, diz que ainda � cedo para falar em guinada populista pelo mesmo motivo: as pol�ticas fiscais para equilibrar o Pa�s s�o t�o urgentes e o efeito de n�o faz�-las seria t�o negativo que zeraria qualquer efeito ben�fico do ponto de vista eleitoral.
Tamb�m existe a leitura que n�o h� um div�rcio entre Bolsonaro e Guedes. "O epis�dio certamente revela os limites do presidente e seu estilo de governan�a que subestima o tamanho do custo reputacional", diz Christopher Garman, da consultoria Eurasia. "Mas Bolsonaro enxergou que o risco de uma greve de caminhoneiros poderia ser fatal para seu governo, que vive um momento social delicado, de aumento de infla��o, queda de renda e de sua consequente popularidade."
Para ele, ao contr�rio do epis�dio do BB, Guedes n�o evitou a interven��o porque soube entender o momento. "A leitura de que Guedes n�o apita e a agenda liberal morreu � equivocada", diz ele. "Bolsonaro nunca acompanhar� ou ter� compromisso program�tico com a agenda liberal, mas est� alinhado intuitivamente a ela."
A��es
O consenso � que a incerteza causada pelo movimento de Bolsonaro deve provocar novamente a queda nas a��es da Petrobras amanh�, com a sa�da de investidores e d�lares - o que causar� o efeito oposto ao pretendido por Bolsonaro no pre�o dos combust�veis. "S� h� um jeito de diminuir a oscila��o cambial, que � melhorando a delicada situa��o fiscal do Pa�s", diz Jos� M�rcio Camargo, economista chefe da Opus Investimentos. "O problema � que, com tanto ru�do, os investidores t�m dificuldade em acreditar que situa��o ser� resolvida."
A alta no c�mbio tende a pressionar a infla��o. E a interven��o na Petrobras gerar� ainda novos embates pol�ticos, exatamente na semana decisiva para a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) que deve viabilizar a nova concess�o do aux�lio emergencial, associada a medidas de compensa��o fiscal.
"Cria ru�do pol�tico desnecess�rio, em uma semana importante", diz Carlos Kawall, diretor do Asa Investments e ex-secret�rio do Tesouro Nacional.
Esse, ali�s, � outro ponto com o qual todos os especialistas concordam: Bolsonaro teria como agradar aos caminhoneiros sem fazer o estrago na Petrobras. Uma das alternativas era usar os assentos do governo no conselho de administra��o para pressionar por mudan�a ou maior transpar�ncia na pol�tica de reajuste de pre�os.
"Tamb�m pode-se fazer algum subs�dio, como acontece com a energia", diz Camargo. No longo prazo, tamb�m ter uma estatal que se submeta a uma pol�tica de Estado, e n�o do governo da vez, com uma ag�ncia reguladora forte.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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