Um grupo de ex-presidentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) divulgou na tarde desta segunda-feira, 22, um manifesto em defesa da realiza��o do Censo Demogr�fico em 2021. A carta foi motivada pela not�cia de o relat�rio do senador Marcio Bittar (MDB-AC) cortava o or�amento do Censo Demogr�fico de um total de R$ 2 bilh�es programados pelo Executivo para apenas R$ 240,7 milh�es este ano, sendo que R$ 50 milh�es ainda ficariam travados, sob o descumprimento da regra de ouro.
"A expectativa � que, em agosto, o Brasil j� tenha sa�do ou esteja saindo da epidemia da covid, e o IBGE vem se preparando para realizar o trabalho fazendo uso de protocolos estritos de prote��o sanit�ria de entrevistadores e entrevistados", defende a carta.
O documento � assinado por Edmar Bacha, Eduardo Nunes, Eduardo Augusto Guimar�es, Edson Nunes, Eurico Borba, S�rgio Besserman, Simon Schwartzman e Silvio Minciotti.
"Como ex-presidentes do IBGE, instamos aos senhores Senadores e Deputados, membros da Comiss�o Mista do Or�amento, que preservem os recursos do censo e n�o deixem o pa�s �s cegas", diz o texto.
Quando ainda era preparado, o Censo Demogr�fico foi or�ado pela equipe t�cnica do IBGE em mais de R$ 3 bilh�es, mas a presidente do �rg�o, Susana Cordeiro Guerra, anunciou em 2019 que faria o levantamento com R$ 2,3 bilh�es. Em meio �s restri��es or�ament�rias, o �rg�o decidiu que o question�rio b�sico do Censo seria reduzido de 37 perguntas previstas na vers�o piloto para 26. J� o question�rio mais completo, que � aplicado numa amostra que equivale a 10% dos domic�lios, encolheu de 112 para 77 perguntas. Com o adiamento de 2020 para 2021, o governo federal enxugou ainda mais o valor destinado ao censo no or�amento deste ano enviado ao congresso.
O montante previsto no relat�rio poder� ser alterado at� a vota��o do Or�amento, programa para ocorrer na Comiss�o Mista de Or�amento (CMO) at� quarta-feira, 24, e no plen�rio na pr�xima semana.
Al�m das amea�as or�ament�rias, o IBGE enfrenta crescentes press�es de servidores pelo adiamento do Censo Demogr�fico. O levantamento deveria ter ido a campo em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia do novo coronav�rus. O IBGE trabalha nos preparativos para que a coleta tenha in�cio em agosto deste ano, mas informou que o corte or�ament�rio proposto pelo relator "inviabilizaria a opera��o".
"O IBGE conta com o apoio da Comiss�o Mista de Or�amento na pr�xima vota��o para que esse cen�rio seja revertido", afirmou o �rg�o, em nota � imprensa.
O levantamento visita todos os cerca de 71 milh�es de lares brasileiros. Diante do agravamento da pandemia no Pa�s, trabalhadores do �rg�o em dez estados j� demandaram �s chefias estaduais e � dire��o que o levantamento seja transferido para 2022.
O movimento come�ou em fevereiro no Rio Grande do Sul, quando coordenadores de �rea do estado amea�aram uma entrega coletiva de cargos caso a presid�ncia do �rg�o mantivesse a o cronograma atual do censo. Servidores na Bahia, Maranh�o, Roraima, Paran�, S�o Paulo, Para�ba, Goi�s, Sergipe e Esp�rito Santo tamb�m encaminharam �s chefias estaduais e � dire��o do IBGE pedidos de adiamento do censo, segundo o sindicato nacional de funcion�rios do instituto, o Assibge. Em plen�ria nacional realizada remotamente pelo sindicato no �ltimo fim de semana de fevereiro, os servidores votaram por aderir ao pleito de adiamento do levantamento censit�rio para o ano que vem.
"No pa�s, vive-se a pior situa��o enfrentada desde o in�cio desta emerg�ncia sanit�ria. Hoje, enfrentamos um colapso no sistema de sa�de em praticamente todo o territ�rio nacional, com leitos hospitalares lotados - al�m de uma fila de espera enorme para atendimento - e com d�ficit de profissionais e de recursos para atender �s demandas dos enfermos. Como se n�o bastasse, est�o sendo descobertas novas variantes do v�rus, mais transmiss�veis, aumentando exponencialmente o perigo de infec��o da popula��o. Segundo especialistas, o ritmo da vacina��o e a disponibilidade insuficiente das doses nos pr�ximos meses tamb�m n�o contribuem para um cen�rio otimista para este ano, nem mesmo no seu 2� semestre. � cada vez mais evidente que encaramos circunst�ncias muito mais dif�ceis neste ano do que no anterior (2020)", diz a carta enviada pelos servidores � chefia estadual do IBGE em Goi�s.
O sindicato denuncia que servidores do �rg�o receberam da dire��o como equipamento de prote��o contra a covid-19 apenas m�scaras de tecido, que consideram inadequadas para o trabalho de campo. "O IBGE fez a aquisi��o das m�scaras seguindo estritamente as recomenda��es da Anvisa", respondeu o �rg�o � reportagem.
No in�cio de mar�o, o IBGE teve que suspender a realiza��o de um teste de coleta em campo do Censo Demogr�fico que faria no munic�pio Engenheiro Paulo de Frontin, no estado do Rio de Janeiro. A prefeitura local comunicou ao �rg�o que teria que impor medidas restritivas para combater a dissemina��o do novo coronav�rus na cidade.
"O Censo Demogr�fico precisa e deve ser realizado, mas n�o agora, n�o em meio � pandemia que marcar� esta gera��o pelos milhares de mortes que j� ocorreram e que, infelizmente, ainda v�o ocorrer. O IBGE n�o pode se colocar na posi��o de potencializador de tal cat�strofe", completa a carta de Goi�s, que tem conte�do semelhante �s escritas pelos servidores das demais unidades estaduais.
O cadastro de domic�lios que ser�o percorridos no censo ainda precisa ser atualizado, o que seria feito presencialmente. Em carta � presid�ncia do IBGE, coordenadores do Cadastro Nacional de Endere�os para Fins Estat�sticos (Cnefe) informaram que o trabalho em campo representaria um risco � sa�de dos trabalhadores e que n�o seria poss�vel entregar os dados no prazo determinado pela dire��o do �rg�o.
"Para o entrevistador entrevistar todo mundo e ir a todos os domic�lios, ele precisa saber onde est�o todos esses domic�lios. Esse cadastro de domic�lios s� est� 30% atualizado, sendo generosos. O IBGE colocou uma portaria dizendo que o pessoal tinha que ir a campo para atualizar esse cadastro agora. Coordenadores do Cnefe do Brasil inteiro disseram que n�o t�m condi��es de fazer isso neste momento, de atualizar esse cadastro, ir � rua", disse Dione de Oliveira, dirigente da Assibge.
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