A desorganiza��o dos fluxos do com�rcio global provocada pela pandemia, que fez explodir o pre�o do frete entre China e Brasil - hoje cinco vezes mais caro do que um ano atr�s - e elevou o custo de importa��o de insumos pela ind�stria, agora amea�a atrapalhar as exporta��es de carnes e frutas. Segundo fontes do setor de com�rcio exterior, a falta de cont�ineres refrigerados, essenciais para o transporte desses produtos, vem atrapalhando embarques. O bloqueio do Canal de Suez - que fica no Egito e por onde passa 10% do com�rcio global - ap�s um meganavio encalhar na quarta-feira, 24, poder� agravar ainda mais o problema.
O auge recente da escassez de cont�ineres refrigerados, antes do bloqueio de Suez surgir no radar, ocorreu no fim do m�s passado, segundo executivos da Hamburg S�d, transportadora mar�tima integrante do grupo dinamarqu�s A.P. Moller-Maersk. Esse desequil�brio se insere no contexto mais amplo da desorganiza��o dos fluxos de transporte, cujo maior reflexo � o encarecimento do frete para a China, fen�meno global verificado desde meados de 2020, que ainda n�o foi dissipado.
No in�cio da pandemia, restri��es ao com�rcio e ao transporte e a queda na demanda paralisaram navios mundo afora. No segundo semestre, a demanda por bens - j� turbinada pelo fato de que, por causa do distanciamento social, fam�lias do mundo todo passaram a gastar mais em produtos do que com servi�os - voltou mais rapidamente do que o esperado, levando a uma corrida pelos servi�os de transportes. Houve falta de cont�ineres e navios, enquanto as opera��es seguiam, em alguma medida, mais lentas por causa dos protocolos contra a covid-19. A situa��o foi definida por empres�rios do setor de transporte mar�timo como "tempestade perfeita".
Como resultado, o pre�o m�dio do frete entre Brasil e China disparou. Por um lado, insumos para fabricar produtos como eletrodom�sticos, eletr�nicos e roupas ficam mais caros, pressionando essas ind�strias a aumentarem os pre�os ao consumidor. No lado das exporta��es, os mais prejudicados s�o os produtores de carnes e frutas, porque os desequil�brios na log�stica se concentram na movimenta��o de cargas em cont�ineres. Os principais itens exportados pelo Brasil - soja, milho e min�rio de ferro - s�o transportados em grandes navios graneleiros fretados por inteiro.
Segundo Jos� Salgado, diretor executivo comercial da Hamburg S�d no Brasil, at� o fim de fevereiro, a empresa deixou de entregar 5% do volume total de exporta��es refrigeradas com o qual se comprometeu em contratos. Para resolver o problema, a empresa est� fazendo uma busca ativa por cont�ineres, evitando descartar cont�ineres antigos cuja vida �til pudesse ser ampliada com manuten��o e alugando navios adicionais.
Carnes e frutas
No Brasil, os cont�ineres refrigerados s�o usados basicamente para exporta��es de carnes e frutas, disse Bruno Carneiro Farias, presidente da F Trade, ag�ncia especializada em log�stica para com�rcio exterior. S� que n�o d� para comparar os embarques de carnes com os de frutas. Maior produtor e exportador global de carne bovina, o Brasil mandou para o exterior 2 milh�es de toneladas de carne vermelha ano passado, uma receita de US$ 8,5 bilh�es, conforme a Abiec, associa��o dos exportadores de carnes. J� os produtores de frutas venderam para fora 1 milh�o de toneladas - manga, mel�o, uva e lim�o s�o os destaques -, com receita de US$ 876 milh�es, mostram dados da Abrafruta, entidade do setor. "Um cliente grande de lim�o exporta 600 cont�ineres por ano. Um cliente grande de carne exporta mil cont�ineres por semana", afirmou Farias.
Por isso, os transportadores d�o prefer�ncia para as exporta��es de carnes. Os clientes s�o grandes companhias, como JBS, BRF e Marfrig. Al�m disso, a produ��o de carnes n�o tem muita sazonalidade, com embarques constantes ao longo do ano, o que permite firmar contratos de frete de mais longo prazo - os pre�os do frete para a China que dispararam s�o de contratos negociados semana a semana, no chamado mercado de "spot", geralmente, mais elevados do que os de longo prazo.
As frutas t�m safra, com picos de produ��o. Em fun��o disso, muitos pequenos produtores e cooperativas recorrem ao mercado "spot". Diante dos desequil�brios, a Hamburg S�d abriu m�o, por exemplo, de fechar contrato para transportar as exporta��es de ma�� de Santa Catarina, disse Mariana Lara, diretora de vendas. Tamb�m deixou de transportar exporta��es de ovos.
Para Alexandre Duarte, diretor de log�stica da Abrafrutas, a desorganiza��o global dos transportes afetar� as exporta��es brasileiras de frutas de forma inevit�vel. Isso porque o transporte a�reo, usado nas frutas frescas de alto padr�o, tamb�m est� em crise - boa parte das cargas era embarcada em voos de passageiros, travados desde o ano passado por causa da pandemia. A sa�da dos produtores ser� escoar as frutas tipo exporta��o para o mercado nacional - o Brasil exporta de 2% a 3% da produ��o total de frutas, em volume. A �nica boa not�cia � que, para os consumidores, poder� haver algum al�vio nos pre�os.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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