O recrudescimento dos casos de covid-19 e as incertezas sobre os rumos da pol�tica econ�mica no Pa�s t�m levado um n�mero crescente de empresas a adiar os planos de abrir capital na Bolsa de Valores. Desde o in�cio do ano, pelo menos 18 companhias j� cancelaram, oficialmente, suas opera��es, que envolveriam um volume estimado de R$ 15 bilh�es em novas a��es. Nesse grupo, aparecem nomes Kalunga e Tok & Stok. Executivos de bancos e especialistas afirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que a tend�ncia, hoje, � de novas desist�ncias, como reflexo da crise.
Por tr�s desse movimento, est� um mercado cada vez mais seletivo, o que significa que as empresas n�o t�m conseguido negociar o pre�o que consideram justo por suas a��es - os investidores pedem um "desconto" maior em rela��o ao pre�o sugerido. As companhias preferem, ent�o, engavetar a oferta � espera de melhor momento.
"A volatilidade gera instabilidade no mercado de capitais e dificulta a precifica��o das a��es, na medida em que a constante oscila��o do pre�o dos ativos pode indicar incertezas (pol�ticas, econ�micas etc.) que afetar�o a rentabilidade futura dos neg�cios", resume Fabio Appendino, s�cio do Rolim, Viotti, Goulart, Cardoso Advogados.
H� relatos tamb�m de baixa demanda por parte de investidores em alguns setores que seriam mais sens�veis ao desdobramento da crise. "A volatilidade cria problemas para novas ofertas at� mesmo em mercados maduros, pois � dif�cil fazer a defini��o do pre�o do IPO (oferta inicial de a��es, na sigla em ingl�s)", diz o s�cio do PGLaw e professor da USP Carlos Portugal Gouv�a. "A janela est� aberta, mas a demanda est� mais magra", acrescenta o executivo de um banco que participa de algumas dessas negocia��es.
O dinheiro captado com a abertura de capital costuma ter destino certo: bancar a expans�o de opera��es, num ciclo positivo para toda a economia. Sem essa inje��o de dinheiro novo, as empresas t�m a op��o de captar recursos junto aos bancos, em opera��es tradicionais de financiamento, com custos mais elevados.
A maior avers�o ao risco vem depois de uma primeira janela para novas emiss�es no ano, quando foram movimentados mais de R$ 30 bilh�es na B3. Essa cifra englobou tanto as opera��es de IPO como as chamadas ofertas subsequentes (ou follow-ons) de empresas que j� t�m capital aberto e querem expandir o volume de a��es negociado no mercado. Depois desse "boom", a previs�o inicial era girar mais R$ 50 bilh�es nos pr�ximos meses - mas essa meta parece hoje distante.
Empresa de varejo no segmento de insumos agr�colas com faturamento anual de R$ 4 bilh�es, a Agrogalaxy chegou a lan�ar uma oferta para arrecadar at� R$ 1,4 bilh�o, mas teve de voltar atr�s, alegando condi��es desfavor�veis do mercado. A resposta se repete entre as companhias procuradas pelo jornal O Estado de S. Paulo. A A�u Petr�leo, por exemplo, disse que mant�m o plano de fazer um IPO em momento oportuno. "Todos os planos de investimento da companhia est�o mantidos e refor�ados para 2021." A Paschoalotto, que atua no ramo financeiro, afirmou que o pedido de desist�ncia ocorreu por conta do "momento de volatilidade do mercado e crise sanit�ria ainda em curso", enquanto a GranBio adiou sua opera��o para o segundo semestre. A empresa � do ramo de biotecnologia.
A MRV, controladora da Urba (de loteamentos urbanos), disse que acredita no potencial da subsidi�ria e que "vai aguardar o momento oportuno para voltar ao mercado de capitais". A Tok&Stok;, por sua vez, afirmou que por conta de falta de condi��es ideais decidiu suspender o IPO e seguir, neste momento, usando recursos j� em caixa para seus investimentos. Mas segundo o presidente da companhia, Oct�vio Pereira Lopes, o objetivo � ser uma empresa de capital aberto no m�dio prazo.
Fila de espera
A despeito das dificuldades encontradas por essas companhias, existem hoje cerca de 40 pedidos de abertura de capital protocolados junto � Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM). Entre eles, est�o os de empresas como o Grupo Avenida, o aplicativo Getninjas e a Caixa Seguridade, subsidi�ria de seguros da Caixa.
O processo da Caixa Seguridade tem esbarrado n�o s� na cautela com os desdobramentos da crise sanit�ria e econ�mica. Parte dos investidores passou a adotar maior dist�ncia em rela��o �s empresas p�blicas depois da troca dos presidentes do Banco do Brasil e da Petrobr�s, por influ�ncia direta do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo as informa��es dispon�veis no mercado, a Caixa j� deu o pontap� para as primeiras reuni�es com potenciais investidores e executivos dos bancos envolvidos na opera��o. Nesses encontros, que precedem o lan�amento oficial da oferta, � que se mede o apetite pelas a��es da empresa - e qual seu pre�o alvo.
Um term�metro do apetite do mercado deve vir nesta semana, quando a Diagn�sticos da Am�rica (Dasa), dona da rede de diagn�stico Delboni Auriemo, for precificar uma oferta subsequente de cerca de R$ 6 bilh�es na B3. Mas, segundo executivos, por ora a Mater Dei seria a "queridinha" entre os neg�cios do setor que est�o na fila do IPO.
O setor de sa�de, por conta da demanda dos investidores, acabou atraindo muitas empresas em busca de uma capta��o por meio da Bolsa. Al�m de Dasa e Mater Dei, est�o na rua com ofertas o Hospital Care Caled�nia, a farmac�utica Blau e a Viveo, de distribui��o de material hospitalar e medicamentos.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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