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Estado de Minas ECONOMIA

Brasileiro come mais ovos que a m�dia global


02/05/2021 16:00

Frito, cozido, mexido, processado e usado em milhares de receitas. O brasileiro nunca comeu tanto ovo. Com o aumento desenfreado do pre�o da carne, a queda de poder de compra da popula��o, e a mudan�a de h�bito trazida pela pandemia, com mais gente se alimentando em casa, o ovo est� longe de ser um coadjuvante na mesa da popula��o. No ano de 2020, cada brasileiro comeu 251 ovos. � um volume recorde. H� 20 anos, o consumo anual de cada cidad�o era de 94 unidades. Dez anos atr�s, esse n�mero subiu para 148 ovos.

Hoje, o brasileiro come mais ovos que a m�dia do cidad�o mundial, que � de 230 ovos por ano. O alimento, que at� poucos anos atr�s figurava entre os vil�es da sa�de, condenado pelo teor de colesterol, migrou para as p�ginas da alimenta��o saud�vel. A ind�stria e as galinhas fizeram sua parte, com nada menos que 1.500 ovos por segundo produzidos no Brasil. As chamadas "poedeiras", como s�o conhecidas as galinhas nas granjas, entregaram 53 bilh�es de ovos em 2020. Neste ano, a produ��o deve chegar a 56 bilh�es de unidades.

Com o volume recorde de consumo e alta de pre�os nas g�ndolas do supermercado, tudo indicaria que a vida do produtor nacional de ovos j� est� ganha. Mas a coisa n�o � bem assim. Ironicamente, a ind�stria de ovos vive, atualmente, entre a cruz e a espada, devido ao pre�o do milho e do farelo de soja, a ra��o dos animais, insumo que responde por mais de 81% do custo de produ��o da prote�na.

Em abril de 2020, uma saca de 60 quilos de milho era comprada, no Paran�, por R$ 46. Hoje, essa mesma saca custa R$ 98. S�o 110% de aumento. Nesse mesmo intervalo, o pre�o do ovo praticado pelo produtor registrou alta de 19%. � o "efeito China", que tem determinado o pre�o do ovo frito que chega ao prato feito do cidad�o.

"Vivemos realmente uma fase recorde de consumo e isso � bom. Mais de 50% da popula��o brasileira reconhece o ovo como o segundo melhor alimento, depois do leite materno. Fomos declarados como servi�o essencial para n�o deixar faltar comida na mesa da popula��o. Mas houve um salto especulativo dos insumos que est� prejudicando muita gente", diz Ricardo Santin, presidente da Associa��o Brasileira de Prote�na Animal (ABPA). "Hoje, vemos produtor que tem operado com margem negativa, por causa do pre�o desses insumos, que tem dado f�rias coletivas e reduzido a produ��o."

Em 2020, o valor bruto de produ��o de ovos chegou a R$ 19,1 bilh�es. A previs�o � de que haja um aumento de 5,2% neste ano, com movimento de R$ 20,1 bilh�es, estima a Confedera��o Nacional da Agricultura (CNA).

O Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq) da Universidade de S�o Paulo acompanha a evolu��o do mercado de ovos no Pa�s, desde 2013. A analista de mercado de ovos do Cepea, Juliana Ferraz, conta que o pre�o no atacado nunca havia registrado uma alta como a atual. Ainda assim, os reajustes n�o foram suficientes para limitar as perdas acumuladas ao longo do ano. Os custos de produ��o, que j� estavam elevados em 2019, entraram em 2020 em uma espiral de alta sem precedentes, reduzindo o poder de compra dos avicultores. Em novembro do ano passado, chegaram ao pior patamar j� registrado em toda a s�rie hist�rica.

Na m�dia de 2020, o pre�o do milho subiu 49% ante 2019, enquanto a saca de farelo de soja saltou 54%, ao passo que os ovos tiveram aumento m�dio de 23% no ano. "Os pre�os est�o batendo recorde e nunca se consumiu tanto, mas t�m outros fatores que devem ser considerados. Esse mercado � muito din�mico e essa condi��o n�o significa que todo o setor esteja bem", diz Juliana.

Medidas

O repasse � autom�tico, sempre, e cabe ao consumidor pagar a conta. O setor produtivo j� v� novos aumentos como inevit�veis e cobra medidas do governo para tentar reduzir a press�o dos insumos, que hoje s�o pautados por pre�os internacionais, como ocorre com os combust�veis, por exemplo.

Uma das pautas � a isen��o de PIS/Cofins sobre as transa��es nacionais de compra de ra��o. Hoje, um importador de farelo e milho est� isento desses impostos, enquanto um produtor nacional tem de pagar a conta. "� claro que n�o somos contra a exporta��o de gr�os, mas � preciso viabilizar nosso neg�cio no Brasil. Hoje vivemos uma situa��o em que o nosso concorrente externo compra milho brasileiro mais barato que o produtor nacional", diz Santin, da ABPA.

Outra demanda � que os produtores tenham acesso, antecipadamente, sobre as proje��es nacionais de compra de gr�os, para que possam se organizar e antever grandes saltos especulativos. "Em muitos pa�ses isso j� � feito. O que estamos pedindo � acesso a informa��es", comenta o presidente da ABPA, que busca uma reuni�o com a Casa Civil da Presid�ncia da Rep�blica para tratar do assunto.

Duas semanas atr�s, a BRF, que � a maior produtora de aves do Pa�s, decidiu reagir aos pre�os nacionais da ra��o e anunciou a compra de milho da Argentina e do Paraguai, onde encontrou insumo mais barato que aquele plantado no Brasil.

OVO, PREFER�NCIA NACIONAL

Nos idos de 1987, Leandro Pinto era um garoto de 19 anos, dono de um Fiat Uno, um carn� infind�vel com parcelas para pagar de um caminh�o e uma loja de equipamentos agr�colas falida. Mal tinha come�ado a vida de empreendedor, e estava quebrado. J� tinha tentado de tudo para ganhar algum dinheiro na pequena Itanhandu, cidadezinha de 15 mil habitantes localizada na jun��o de Minas Gerais, S�o Paulo e Rio de Janeiro.

Quando menino, j� tinha lavado carro, varrido quintal de vizinhos, sido office-boy. Chegou a montar uma f�brica de carro�a para cavalos, mas deixou o neg�cio logo. Leandro fazia de tudo, s� n�o gostava de estudar. Com esfor�o, os pais conseguiram que cursasse at� a 8.� s�rie e um curso t�cnico de mec�nica. "Queriam que eu fosse doutor. N�o teve jeito", conta.

Completamente endividado, o mineiro de Itanhandu recebeu, um dia, a visita de um amigo. Juarez, que tinha acabado de ter um enfarte, era dono de uma das 25 granjas que havia na cidade. N�o tinha mais condi��es de tocar seu neg�cio e ofereceu a granja ao amigo. N�o era nada muito grande, mas havia 30 mil galinhas que botavam ovos todos os dias. A ideia era que ele ficasse com as galinhas e alugasse a granja.

Nascia ali o "rei do ovo", como passaria a ser chamado mais de 30 anos depois. "Eu ainda n�o sabia, mas estar quebrado foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Nunca tinha lidado com o neg�cio de frango e ovos, mas resolvi aceitar. E aquilo tudo que eu tinha passado foi uma escola para mim. Dei meu Uno, meu caminh�o financiado e peguei a granja. Na �poca, disseram que eu era doido, que aquilo jamais daria certo."

Aos trancos e barrancos, o neg�cio foi avan�ando e finalmente vingou. Hoje, passados 34 anos, Leandro Pinto � dono e fundador do Grupo Mantiqueira, o maior produtor de ovos da Am�rica Latina.

Com unidades de produ��o em Minas Gerais, Rio de Janeiro, S�o Paulo e Mato Grosso, a empresa emprega 2,3 mil funcion�rios. S�o mais de 11 milh�es de galinhas poedeiras.

Neste ano, todas as aten��es de Leandro Pinto est�o voltadas para a nova granja que a empresa come�ou a erguer em Lorena, cidade paulista pr�xima de Aparecida. A unidade, or�ada em R$ 100 milh�es, deve ficar pronta no fim de 2022. "� um conceito novo. Nossas granjas novas n�o t�m mais galinhas presas. Elas s�o criadas livres de gaiola. Assim, ficam menos estressadas", diz ele. Tudo deve funcionar com vi�s ecol�gico, envolvendo energia gerada por pain�is solares e transporte em caminh�es el�tricos.

O "rei do ovo", que tr�s d�cadas atr�s andava de Uno para todo lado, hoje utiliza um jato particular para trabalhar e visitar as unidades da empresa. "�s vezes, vou de helic�ptero, tamb�m", conta.

3 PERGUNTAS PARA...

Tereza Cristina, ministra da Agricultura

1. A ind�stria do ovo vive um momento hist�rico no consumo e, ao mesmo tempo, uma forte press�o nos pre�os de produ��o. Como resolver?

O setor j� vinha crescendo e � verdade que vive um boom na pandemia. Agora, esses produtores est�o com problemas, mas esses problemas n�o s�o s� deles, mas de todos os setores que ainda n�o t�m uma comercializa��o mais s�lida com os insumos, que s�o o farelo de soja e o milho, para ra��o.

2. O setor pede isen��o de PIS/ Cofins, por exemplo, que j� � dada ao importador de ovos. O que pode ser feito?

Vamos ver. � preciso compreender que essa situa��o � tempor�ria, porque � uma condi��o de mercado e, sobre isso, n�o h� muito o que fazer. Do ponto de vista do Minist�rio da Agricultura, vamos incentivar o aumento de plantio de milho. A soja j� aumentou sozinha.

3. Acabamos de ter uma supersafra de soja e milho. O problema � quantidade?

Estamos com safras recordes, realmente, mas essa quest�o dos insumos � um problema global. O mundo hoje � conectado, o Brasil n�o � uma ilha. Soja e milho que s�o duas commodities internacionais, com pre�o de mercado listado em Bolsa l� fora. Veja que, na semana passada, o pre�o desses insumos para ra��o subiu mais, porque o clima nos EUA n�o est� ajudando o plantio. Al�m disso, os EUA est�o com estoque de milho muito baixo em rela��o ao que costumam ter. O estoque de soja deles est� baix�ssimo. Paralelamente, na �rea econ�mica, a China cresceu. Os EUA tamb�m v�o retomar a economia com a vacina��o. Tudo isso aumenta o consumo global.



As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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