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Estado de Minas ECONOMIA

Empresas veem apoio a causas sociais e diversidade como caminho sem retorno


02/05/2021 16:00

Em um ano de pandemia, o Pa�s viu empresas doando bilh�es de reais para o combate aos efeitos sociais e econ�micos da crise sanit�ria, bancos se unindo para banir os pecuaristas que desrespeitam leis ambientais e, mais recentemente, centenas de companhias juntas para acelerar a vacina��o contra a covid-19.

O movimento, que j� parecia forte, chegou ao �pice na �ltima semana, em meio a uma mobiliza��o que reuniu nada menos que 800 empresas em torno da defesa da diversidade e para derrubar um projeto de lei que tentava restringir a representa��o da comunidade LGBTQIA+ (l�sbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexuais e assexuais) na publicidade.

Mas por que tantas empresas, que antes se mantinham silenciosas, de repente decidiram se posicionar? O executivo Walter Schalka, presidente da gigante de papel e celulose Suzano e com quatro d�cadas de experi�ncia no mundo corporativo, acredita que o setor produtivo se deu conta que n�o existe de forma apartada ao que ocorre fora de suas salas de reuni�o. "Ficou claro, enfim, que ganhar efici�ncia e produtividade s� dentro da empresa n�o basta. E que n�o teremos uma sociedade justa se n�o endere�armos os problemas sociais e estruturais do Pa�s."

Dentro dessa busca por uma sociedade mais equilibrada, as empresas t�m adotado uma mir�ade de causas. O grupo Mulheres do Brasil, presidido por Luiza Helena Trajano - tamb�m l�der do Unidos pela Vacina -, busca a inser��o feminina em cargos de lideran�a, mas tamb�m levanta a bandeira da igualdade racial. O Magazine Luiza, ali�s, lan�ou um programa de trainees voltado s� a candidatos negros, para corrigir o que identificou como uma falha estrutural de sua equipe, que s� tem 16% de l�deres negros - e acabou seguido por outras companhias.

A tend�ncia de olhar para fora se refletir�, cada vez mais, no que se valoriza da porta para dentro das empresas, segundo especialistas.

J� h� um movimento forte de extens�o do conceito de licen�a-paternidade - para que os homens participem mais dos primeiros meses de vida dos filhos - e de defini��o de b�nus a partir de metas ESG (sigla em ingl�s para a��es nas �reas ambiental, social e de governan�a).

Sem retorno

Segundo especialistas, �s empresas resta aderir aos novos tempos ou correr o risco de ficar para tr�s. Para o secret�rio executivo do F�rum de Empresas e Direitos LGBTI+, Reinaldo Bulgarelli, a a��o coletiva de marcas contra o PL 504 - de autoria da deputada estadual Marta Costa (PSD), que citava "inadequada influ�ncia" na propaganda - est� inserida neste contexto. "De dois anos para c�, h� um movimento mais vigoroso. Dou muito valor a essa mudan�a, porque as empresas entenderam que elas n�o podem ficar entregues a esse tipo de projeto. � um posicionamento de direitos humanos."

Entre as empresas que se posicionaram contra o projeto, est�o multinacionais (como a P&G;), bancos (Ita� Unibanco), varejistas (Riachuelo), consultorias (PwC) e a locadora Localiza. Na quarta-feira, diante das rea��es, o texto foi retirado da pauta de vota��o e voltou para a fase de an�lises nas comiss�es.

Segundo Leandro Camilo, s�cio e l�der de inclus�o e diversidade da PwC, esses e outros movimentos de diversidade refletem uma exig�ncia da sociedade que consome produtos e servi�os dessas empresas. "Hoje, existe uma maior disposi��o das empresas nesse sentido. Ainda h� grandes desafios, mas esse �barulho� contra o PL 504 reflete esse maior comprometimento do empresariado com essa causa que � t�o importante", diz o executivo. "As companhias est�o come�ando a entender que fazem parte n�o s� dos problemas, mas principalmente das potenciais solu��es."

Causa x marketing

Mas ser� que todos os movimentos em rela��o � inclus�o em todos as suas formas s�o sinceros ou s� uma forma de tentar agradar? Para Herbert Steinberg, presidente da consultoria Mesa Corporate, � preciso tomar cuidado com discursos vazios. "Voc� n�o vai ver ningu�m hoje dizendo que n�o apoia um programa de diversidade ou de governan�a porque isso pega mal. Mas, da� a essas empresas serem realmente aderentes a esse princ�pio, � algo completamente diferente."

Adotar essa variedade de causas sociais - de prefer�ncia, escolhendo aquelas que t�m maior ader�ncia a seu posicionamento - ser� tamb�m uma pol�tica comercial para as empresas, segundo Steinberg. "N�o d� para ir contra a mar�. � necess�rio entender as quest�es culturais e o que est� acontecendo no mercado. E traduzir esse pensamento em a��es, no or�amento, fazendo uma discuss�o de prop�sito."


�Setor privado deve ser um agente de transforma��o�

Jo�o Paulo Ferreira, presidente da Natura & Co. Am�rica Latina

� A empresa acredita que, de forma geral, o meio corporativo deve se posicionar sobre quest�es como diversidade e causas sociais?

O setor privado deve ser um importante agente de transforma��o social. As empresas podem ajudar a estabelecer pontes para o di�logo. A crise atual (da covid-19) � um chamado � atua��o das empresas, ao nos lembrar, mais do que nunca, que estamos todos interconectados e somos interdependentes. Sem a universaliza��o da vacina��o, ampliaremos o fosso social e as divis�es que tornam o Brasil um pa�s t�o desigual e injusto.

� Al�m da diversidade e da causa ambiental, quais outras causas a Natura abra�a?

Por meio do Instituto Natura, atuamos para contribuir com a educa��o p�blica de qualidade. O apoio se d� com uma linha

de produtos chamada Crer para Ver, cujo lucro obtido pelas vendas � 100% direcionado a iniciativas educacionais promovidas pelo nosso instituto. Em 2020, a arrecada��o superou R$ 70 milh�es. Outra causa importante neste momento � o combate � viol�ncia contra mulheres e meninas, uma das frentes de atua��o do Instituto Avon.

� O apoio � derrubada do PL 504 representa um novo patamar de apoio � causa LGBTQIA+ pelas empresas?

Acredito que sim, e isso � resultado de um aumento do debate em rela��o a temas e causas sociais importantes, entre elas a diversidade. N�o h�, e n�o pode haver, espa�o para retrocesso nessa pauta. Os consumidores est�o cada vez mais conscientes e atentos a companhias que alinham pr�ticas aos seus discursos - e tamb�m cobram que as empresas se posicionem cada vez mais. � preciso honrar a diversidade presente na sociedade.

� Por que a causa LGBTQIA+ � relevante para a Natura?

Promover o respeito � comunidade LGBTQIA+ e demais grupos sub-representados � fundamental para a constru��o de uma sociedade mais justa e pr�spera. Esse valor est� expresso em nossas cren�as h� d�cadas e presente em nossas campanhas publicit�rias e projetos patrocinados, incentivando o orgulho de ser e amar quem quiser.

�Causas sociais t�m papel importante na sociedade�

Fernando Mod�, presidente do Grupo Botic�rio

� Como respeitar a diversidade ajuda o neg�cio?

A gente acredita que a diversidade � o �nico caminho para a real inova��o. As perspectivas de diferentes viv�ncias tornam todas as nossas entregas mais completas. A licen�a parental para todos os nossos colaboradores � um bom exemplo de como os aprendizados internos se tornam a��es: a implementa��o da iniciativa era avaliada h� dois anos, mas ganhou um est�mulo extra do Grupo de Afinidade Lado a Lado, que atua na frente de equidade de g�nero.

� O que mais comp�e a pol�tica da empresa para a quest�o da diversidade?

Al�m da quest�o LGBTQIA+, completam nossa estrat�gia (de diversidade) os temas equidade racial, de g�nero e de pessoas com defici�ncia. Al�m do nosso time de diversidade e pessoas, nessa jornada tamb�m contamos com a colabora��o dos grupos de afinidade - equipes volunt�rias dos nossos pr�prios colaboradores. Sabemos a influ�ncia que a ind�stria da beleza exerce no imagin�rio dos consumidores e acreditamos que esse impacto precisa ser real e positivo.

� A empresa acredita que, de forma geral, o meio corporativo deve se posicionar sobre essa e outras causas sociais?

O Grupo Botic�rio foi pioneiro em se posicionar sobre causas socioambientais. Nossa hist�ria de 44 anos sempre esteve muito conectada com o humano e com o sustent�vel.

� Como viu o caso envolvendo o PL 504, recebido pelo mercado como amea�a � diversidade?

Acreditamos que as causas sociais t�m um papel muito importante na transforma��o da sociedade. Abra�ar os movimentos que falam de diversidade, representatividade e inclus�o n�o � novidade para n�s. Ao longo dos anos, protagonizamos movimentos e discuss�es relevantes sobre o tema. Um deles foi a campanha de Dia dos Namorados da marca O Botic�rio lan�ada em 2015, em que retratamos diferentes tipos de casais.

Em 2020, abandonamos o uso do termo Black Friday. Mais recentemente, em abril, estendemos a licen�a parental de 120 dias a todos os nossos colaboradores. Certamente, a movimenta��o nas redes e o endosso de grandes marcas contra a PL 504 influenciaram na revis�o do teor da proposta.

�Temos de buscar a��es de repara��o�

Presidente da opera��o brasileira da multinacional de bens de consumo Procter & Gamble - gigante corporativo que faturou US$ 70 bilh�es no ano passado -, a executiva Juliana Azevedo acredita que a pandemia de covid-19 aumentou a exig�ncia de posicionamento de grandes companhias ao redor do mundo, pois atingiu de forma desproporcional justamente os grupos sociais mais fr�geis. "Temos de trabalhar por a��es afirmativas e reparadoras", afirma.

� A pandemia acelerou a necessidade de se adotar causas?

Sim. A pandemia e o assassinato de George Floyd (que foi morto por um policial nos EUA) realmente catapultaram a tend�ncia da sociedade em tomar posi��o. N�o basta voc� n�o ser racista, voc� tem de ser antirracista, tem de trabalhar por a��es afirmativas e reparadoras.

�� inevit�vel que uma grande companhia adote isso hoje?

Eu tenho a sorte de atuar em uma empresa que h� muito tempo pensa em prop�sito. Desde o s�culo 19, mulheres j� estavam nas ger�ncias de f�bricas da P&G.; E temas da comunidade LGBTQIA+ j� eram tratados, com outra nomenclatura, desde os anos 1970. Ent�o, temos essa preocupa��o vindo de dentro. E a pandemia acelerou isso: a consci�ncia de que a responsabilidade de uma empresa n�o � s� funcional. Adotar causas sociais � um caminho que n�o tem volta. O momento � uma oportunidade de intensificar isso, de trazer outras empresas (para o debate).

� O que a P&G; j� conseguiu construir, internamente, em termos de diversidade?

Temos 40% de mulheres ( na nossa equipe), 50% na lideran�a de ger�ncia para cima e 50% entre os CEOs (das opera��es ao redor do mundo). N�s temos uma fluidez em rela��o a esse assunto, mas n�o temos medo de apresentar nossas vulnerabilidades. Agora, temos o desafio de ter 100% de nossas embalagens pl�sticas recicl�veis ou feitas de material reciclado.

� Com o movimento #PrideSkill, a P&G; quer servir de exemplo a outras empresas?

A gente v� nossa posi��o com responsabilidade, no sentido de que n�o temos apenas de manter (o ritmo), mas aceler�lo. O desemprego na comunidade LGBTQI+ � de mais de 20%, enquanto o da popula��o em geral � de 14,4%. As minorias - e tamb�m as maiorias minorizadas, como as mulheres - acabam sofrendo mais em tempos de crise como o atual.

� Qual � o objetivo da plataforma de diversidade?

O aspecto (da orienta��o sexual) � parte do que as pessoas s�o. E h�, sem d�vida, um preconceito estrutural. Tanto que 30% das empresas dizem que n�o contratariam (pessoas LGBTQIA+) para cargos de alta lideran�a. Ent�o, nossa campanha � para sugerir e recomendar que as pessoas coloquem em seu curr�culo a quest�o do #PrideSkill como uma habilidade. � um programa de longo prazo. Muitas das nossas interven��es sociais t�m se tornado plataformas para promover transforma��es duradouras. E estamos preocupados tamb�m com a comunidade trans, que � um grupo (dentro da comunidade) que sofre ainda mais.


Ag�ncia de empregos fala em maior ades�o das empresas

Cofundadora de uma consultoria especializada em inclus�o e diversidade e da ag�ncia TransEmpregos, que tem a miss�o de incluir a comunidade trans no mercado de trabalho, Mait� Schneider, de 50 anos, diz que o interesse das grandes companhias em rela��o � diversidade viveu um momento de "divis�o de �guas" na �ltima semana na esteira da derrubada do projeto de lei 504 - que tentava restringir a veicula��o de publicidade com representa��o da comunidade LGBTQI+ - na Assembleia Legislativa do Estado de S�o Paulo (Alesp). "Est� acontecendo um ponto de muta��o", diz a especialista.

Segundo Mait�, a pr�pria trajet�ria da TransEmpregos pode ser vista como evid�ncia da velocidade que o debate sobre diversidade est� ganhando nos �ltimos meses. "A TransEmpregos acabou de fechar 837 empresas parceiras nesses sete anos de atua��o. E as �ltimas 200 empresas entraram nos �ltimos dois meses. Ent�o, olha a velocidade (aumentando)", explica. "A gente acabou de fechar hoje com a Amazon. Ent�o, est� acontecendo."

No fim das contas, o projeto de autoria da deputada Marta Costa (PSD), que tinha o objetivo de restringir a diversidade, foi, na vis�o de Mait�, um "mal que veio para o bem". Ela diz que o total de empresas em busca de orienta��o sobre inclus�o triplicou no LinkedIn ao longo da �ltima semana. "Eu acredito que n�o s� para LGBTQIA+, mas para (outras) pessoas, para grupos que s�o mais vulner�veis, marginalizados, o acesso vai ser mais potente."

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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