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Estado de Minas ECONOMIA

Vendas de sider�rgicas crescem em ritmo chin�s, apesar da alta no pre�o do a�o


16/06/2021 08:19

No mundo peculiar da ind�stria sider�rgica, no qual se fala um dialeto que inclui termos como alto-forno, aciaria, bobina a quente e vergalh�o, os executivos costumam abrir as suas apresenta��es aos leigos discorrendo sobre a estreita correla��o existente entre a evolu��o do Produto Interno Bruto (PIB) e o consumo de a�o no Pa�s. "O a�o e o PIB andam juntos", afirmam.

Mas, quando se compara o desempenho do setor e o da economia como um todo nos �ltimos meses e as perspectivas que se desenham para o futuro imediato, a correla��o entre os dois indicadores n�o se mostra t�o pr�xima quanto se diz. Embora a atividade econ�mica esteja ganhando tra��o e alguns analistas j� projetem um crescimento de cerca de 5% para o PIB neste ano, desmentindo as previs�es catastrofistas que pipocavam por a� at� algumas semanas atr�s, o mercado de a�o est� crescendo em ritmo chin�s, superando, de longe, a performance m�dia da economia.

Segundo os dados mais recentes do Instituto A�o Brasil, a entidade que re�ne as sider�rgicas do Pa�s, a produ��o de a�o bruto dever� crescer 11,3% em 2021, mais do que o dobro das previs�es mais otimistas feitas para o PIB. Hoje, de acordo com dados do instituto, as usinas est�o operando com 75% da capacidade instalada, em n�vel superior aos 63% do per�odo pr�-covid.

Retomada em 'v'

Puxadas pelo aumento do consumo dos setores de m�quinas e equipamentos, constru��o civil, eletroeletr�nicos e ve�culos, especialmente caminh�es, todos com crescimento acima do PIB, as vendas no mercado interno alcan�aram 7,9 milh�es de toneladas de a�o no primeiro quadrimestre, superando o resultado de 2013, considerado o pico do setor, no mesmo per�odo. Isso em cima de um crescimento de 3,5% registrado em 2020, j� em meio � pandemia. "Estamos batendo recorde atr�s de recorde", diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo da entidade. "Ningu�m acreditava quando o ministro Paulo Guedes dizia que a retomada viria em 'v', mas foi o que aconteceu."

Esse desempenho parece ainda mais impressionante quando se leva em conta que, al�m de ocorrer em plena pandemia, ele se d� num cen�rio de explos�o dos pre�os do a�o no Pa�s e no exterior, em decorr�ncia da alta no custo do min�rio de ferro e de outras mat�rias-primas e tamb�m da mudan�a de posi��o da China no mercado, reduzindo exporta��es e aumentando importa��es do produto.

Um levantamento feito para o Estad�o pela S&P; Global Platts, que acompanha o setor com lupa, aponta que o pre�o m�dio por tonelada de a�o plano (bobina a quente), utilizado em produtos da linha branca, eletroeletr�nicos e ve�culos, subiu nada menos que 172,4% em reais nos �ltimos 12 meses, enquanto o pre�o do a�o longo (vergalh�o), usado na constru��o civil, aumentou 153,3%.

At� pouco tempo atr�s, quando o d�lar estava subindo, parte da explica��o para a alta dos pre�os, que seguem par�metros internacionais, reca�a sobre o c�mbio. Mas, com o d�lar acumulando queda de 3,6% em rela��o ao real de junho de 2020 a maio de 2021, o efeito cambial j� n�o entra mais na conta. "A alta de pre�os do a�o � um fen�meno mundial", afirma Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de A�o (Inda), "Se a produ��o est� aumentando e o pre�o est� subindo, � porque h� consumo."

Para atender o mercado interno, que at� agora se mostra surpreendentemente resiliente ao salto nos pre�os, apesar da gritaria crescente dos grandes consumidores, as sider�rgicas reduziram as exporta��es. Ao mesmo tempo, houve um aumento consider�vel nas importa��es, que dobraram nos primeiros quatro meses de 2021 em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado.

Ainda assim, num quadro que lembrou, de certa forma, o Plano Cruzado, de 1986, quando a demanda explodiu e houve falta generalizada de produtos, algumas montadoras chegaram a parar parte da produ��o por falta de a�o e outros insumos, no fim de 2020 e no in�cio deste ano. Construtoras e fabricantes de m�quinas e equipamentos e de aparelhos eletroeletr�nicos enfrentaram problemas semelhantes.

Hoje, embora haja maior equil�brio entre a oferta e a demanda, ainda h� relatos de falta de a�o na pra�a, em especial por parte de representantes da constru��o civil. Os prazos de entrega das encomendas se alongaram e os estoques dos distribuidores de a�o, que vendem para os consumidores de pequeno e m�dio portes ainda est�o 20% abaixo da m�dia pr�-pandemia. Temendo falta de produtos e novas altas de pre�os, muitas empresas passaram a fazer estoques preventivos, o que agrava o problema. Outras ainda est�o tentando recompor os estoques desovados no auge da crise para fazer caixa e enfrentar a queda brusca na demanda.

"As sider�rgicas dizem que est�o produzindo mais do que nunca, mas voc� conversa com os empres�rios e v� que eles n�o conseguem o produto de que precisam", diz o presidente da C�mara Brasileira da Ind�stria da Constru��o (CBIC), Jos� Carlos Martins. Alegando a necessidade de haver um "choque de oferta" de a�o no Pa�s, para acabar com o 'desabastecimento", ele apresentou um pedido ao Minist�rio da Economia para reduzir a al�quota de importa��o do a�o de 12% para 1% durante seis meses, prorrog�veis por mais seis, mas a proposta at� agora n�o foi para a frente.

'Pre�o fechado'

Lopes, do Instituto A�o Brasil, que pediu ao presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira para n�o reduzir a tarifa de importa��o, nega que haja desabastecimento e diz que Martins � o �nico representante dos grandes consumidores que afirma ainda haver problemas de oferta no mercado. "Pedi a ele para mapear onde est� havendo desabastecimento e disse que, se isso n�o fosse resolvido em tr�s dias, iria com ele ao governo e o ajudaria a pedir redu��o do Imposto de Importa��o", afirma. "Pergunta se apareceu alguma identifica��o de desabastecimento. � claro que n�o."

Mais que o desabastecimento, o grande problema hoje parece ser a escalada dos pre�os e o impacto que ela pode ter nos produtos que usam o a�o como insumo. A pr�pria constru��o civil, que costuma vender im�veis com "pre�o fechado" e s� iniciar a produ��o depois, talvez seja a �rea mais atingida pela quest�o e ainda busca formas de equacion�-la. Mas os setores de m�quinas , eletroeletr�nicos e ve�culos tamb�m est�o sendo afetados e j� preveem impacto nas vendas se os pre�os do a�o n�o cederem, por n�o ter como absorver eleva��o nos custos desse porte. "A gente est� muito preocupado", diz Jos� Jorge do Nascimento J�nior, presidente executivo da Associa��o Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletr�nicos (Eletros).

No setor de m�quinas e equipamentos, que est� "bombando", com crescimento de 28% no primeiro trimestre, de acordo com o IBGE, h� um movimento em curso para facilitar as importa��es de a�o. Na vis�o de Jos� Velloso Dias Cardoso, presidente da Abimaq, que re�ne as empresas do ramo, "vale a pena importar", apesar da demora de cinco meses entre o pedido e a entrega. Segundo ele, o a�o da China chegaria ao Brasil, j� com o frete e o Imposto de Importa��o, de 12%, mais barato do que o produzido aqui.

Pandemia aumentou demanda

O aumento expressivo das vendas de a�o no Pa�s, em meio � pandemia e � escalada de pre�os, parece desafiar o princ�pio da racionalidade econ�mica, segundo o qual os indiv�duos agem de forma racional ao tomar suas decis�es de consumo e de poupan�a. Mas, ao contr�rio do que pode parecer � primeira vista, tem a sua l�gica.

O fen�meno reflete o crescimento da demanda por im�veis, m�quinas e equipamentos, produtos eletroeletr�nicos e ve�culos, especialmente caminh�es, que usam a�o em larga escala, ap�s o per�odo mais agudo de isolamento social e retra��o nas vendas.

Parte da explica��o para essa performance se deve � pr�pria pandemia, que provocou um deslocamento das "placas tect�nicas" da economia. Subitamente, atividades que vinham "andando de lado" ganharam tra��o, enquanto outros setores desaceleraram ou engataram a marcha � r�.

"Por causa da pandemia, houve uma mudan�a de estilo de vida e de consumo", afirma Jos� Velloso Dias Cardoso, presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de M�quinas e Equipamentos (Abimaq). "� impressionante o impacto que a pandemia teve na vida das pessoas e no modo de consumir", diz Jos� Jorge do Nascimento J�nior, presidente executivo da Associa��o Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletr�nicos (Eletros).

Apesar de muita gente ter perdido o emprego, da queda na renda m�dia e do fechamento de milhares de empresas, quem conseguiu manter os ganhos puxou a onda de consumo, dentro dos novos par�metros trazidos pela pandemia.

De um lado, a classe m�dia deixou de viajar ou passou a fazer viagens para locais mais pr�ximos. Tamb�m parou de ir ou reduziu as idas a bares e restaurantes e zerou gastos com eventos esportivos e culturais, atingidos pelas restri��es impostas �s aglomera��es. Ao mesmo tempo, o aux�lio emergencial injetou cerca de R$ 300 bilh�es na economia e beneficiou 66 milh�es de pessoas, principalmente na faixa de renda mais baixa. Sobrou dinheiro para gastar em bens que ganharam relev�ncia na nova realidade.

Al�m disso, com a queda dos juros, que continuam abaixo da m�dia hist�rica, apesar da alta recente, muita gente que tinha dinheiro aplicado no mercado financeiro preferiu investir em seu pr�prio bem-estar. O cr�dito mais barato tamb�m ajudou.

Por fim, com o novo boom das commodities, o mesmo que levou o pre�o do a�o �s nuvens, e com a alta do d�lar, que continua acima do n�vel de 2019, mesmo com a queda dos �ltimos tempos, o agroneg�cio, que j� vinha bem, refor�ou ainda mais a musculatura.

No novo cen�rio, as vendas de produtos eletroeletr�nicos explodiram, aumentando a procura das empresas do ramo por a�o. Na constru��o civil, que tem nos vergalh�es um de seus principais insumos, o total de financiamentos aos compradores atingiu R$ 110 bilh�es em 2020, chegando perto do pico de 2013, de R$ 120 bilh�es, segundo dados do setor. Na ind�stria automotiva, tamb�m grande consumidora de a�o, as vendas de caminh�es atingiram 34.121 unidades no primeiro quadrimestre, maior volume desde 2014 para o per�odo, de acordo com a Associa��o Nacional dos Fabricantes de Ve�culos Automotores (Anfavea).

Entre os principais compradores de a�o, talvez o desempenho mais surpreendente seja o do setor de m�quinas e equipamentos, que cresceu 28% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2020, conforme o IBGE.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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