Em meio � pior crise h�drica dos �ltimos 90 anos, o Pa�s volta a discutir os riscos de ter apag�es e de apelar a um racionamento - alternativa encontrada para a crise em 2001. Falhas no planejamento e na opera��o do sistema el�trico, bem como no modelo de forma��o de pre�os de energia, s�o apontadas como as causas por tr�s da situa��o que j� afeta a infla��o, amea�a o crescimento econ�mico e pode at� colocar em xeque o projeto de reelei��o do presidente Jair Bolsonaro.
Presidente da PSR, maior consultoria de energia do Pa�s, Luiz Barroso afirma que o planejamento do setor � centrado na chamada garantia f�sica, indicador que traduz quanto uma usina contribui para a seguran�a do suprimento. "O problema � que, no Brasil, a garantia f�sica nem garante, nem � f�sica", diz. Ele explica que a garantia f�sica � calculada com base em modelos computacionais que precisam ser aperfei�oados - a metodologia foi definida em 2004. "Ela n�o representa a expectativa de produ��o de uma usina, e sim seu valor econ�mico ao sistema", diz.
Um exemplo � Belo Monte, no Par�, que tem uma garantia f�sica de 4.571 megawatts m�dios. O n�mero n�o representa com precis�o a caracter�stica de uma usina a fio d'�gua e que depende das chuvas: nos meses �midos, gera o triplo da energia produzida em meses mais secos, em que a capacidade � de 1.963 megawatts m�dios. Isso significa que, nos meses �midos, Belo Monte gera o suficiente para abastecer fam�lias e empresas dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Nos secos, a produ��o � capaz de suprir apenas Pernambuco.
Se n�o traduz o que ocorre com a gera��o de energia, a garantia f�sica � usada como refer�ncia para o quanto elas podem vender em contratos - ou seja, possui import�ncia comercial. � por isso que h� resist�ncia a qualquer iniciativa do governo de rec�lculo das garantias f�sicas e de ajuste desses n�meros para patamares mais realistas. Nos �ltimos 20 anos, destaca Barroso, houve s� uma revis�o, em 2017, e ainda assim muitas empresas foram � Justi�a para n�o perder receita. Uma garantia f�sica superestimada, como a que o Pa�s tem hoje, significa, tamb�m, menor necessidade de contrata��o de mais usinas em leil�es para ofertar energia porque o sistema diz que a quantidade � suficiente.
Al�m disso, o modelo de c�lculo de pre�os, tamb�m usado para estimar a garantia f�sica, n�o representa em detalhes o parque gerador. Tampouco � alimentado com dados relativos �s mudan�as clim�ticas, que afetam as chuvas, e ao uso m�ltiplo das �guas.
Outro fator que a Barroso destaca � que a performance das hidrel�tricas tem sido pior do que o esperado j� h� alguns anos. Em 2012, a sua consultoria estimou que as usinas gastavam 4% a mais de �gua do que o necess�rio para produzir um mesmo megawatt-hora - hoje, gastam 2%, n�vel ainda ruim. Entre as hip�teses, est�o assoreamento de reservat�rios, turbinas antigas e at� roubo de �gua para irriga��o e piscicultura, al�m de restri��es n�o capturadas no modelo de planejamento.
"Em muitas usinas, n�o conseguimos armazenar mais �gua porque precisamos manter um fluxo m�nimo de �gua para atender outros usos. E isso n�o � bem representado no c�lculo da garantia f�sica pela simplifica��o do modelo", diz. "Em momento de estresse, o ideal � fechar o ralo para encher a pia, mas isso n�o � simples."
Para ele, o sistema vai mudar, com hidrel�tricas como bateria, compensando a gera��o das fontes intermitentes, como solar e e�lica. "As renov�veis ajudam a compensar a variabilidade das hidrel�tricas", afirma.
O ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS) Luiz Eduardo Barata concorda. Ele defende a expans�o do parque de e�licas e solares. "As t�rmicas nos ajudam a reduzir esse tipo de problema, mas continuo achando que n�o s�o a solu��o. Precisamos colocar mais fontes renov�veis, como e�lica e solar, a ponto de recuperar os n�veis dos reservat�rios", afirma.
Apag�o
Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, o apag�o � um risco, mas n�o uma certeza. Segundo ele, o governo tem hoje um rol de alternativas maior do que tinha em 2001, quando houve racionamento. Se a situa��o � dif�cil no Sudeste e no Centro-Oeste, onde ficam as principais hidrel�tricas, o n�vel de armazenamento no Norte, no Nordeste e mesmo no Sul � mais confort�vel. O sistema de linhas de transmiss�o � hoje mais robusto, o que permite transfer�ncias de energia de uma regi�o para outra antes imposs�veis. A oferta de energia � maior, e as fontes, mais diversas, com mais e�licas e solares termoel�tricas. � poss�vel ainda recorrer � importa��o de energia da Argentina e do Uruguai. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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