Ainda que tenha acabado 2020 - o pior ano da hist�ria da avia��o -, o setor tem grandes desafios pela frente, e v�rias empresas podem n�o resistir no caminho, segundo o diretor-geral da Associa��o Internacional de Transporte A�reo (Iata), Willie Walsh. "O desafio ainda est� adiante, n�o ficou para tr�s", diz o executivo, que assumiu a entidade em abril, ap�s comandar o International Airlines Group (que re�ne a British Airways e a Iberia).
Walsh destaca que, � medida que as opera��es das a�reas forem retomadas, elas enfrentar�o a dificuldade de balancear uma nova realidade de fluxo de caixa. No ano passado, 40 companhias quebraram em meio � crise. Em 2019, haviam sido 35. "Foram menos do que voc� pensaria. O risco de fal�ncia existe conforme as opera��es forem retomadas. Vamos ver mais empresas falindo."
Leia, a seguir, trechos da entrevista:
Qual a situa��o atual do setor?
Um pouco melhor do que em 2020. � bom colocar as coisas em contexto. A receita da ind�stria caiu 6,4% em 2001. Em 2009, caiu 16,5%. Em 2020, a queda foi de 56%. � uma escala completamente diferente. Mas estamos come�ando a ver algumas indica��es positivas, principalmente onde a vacina��o progrediu. A principal restri��o na demanda hoje n�o � a pandemia, mas as medidas dos governos. Onde as restri��es s�o relaxadas ou removidas, h� uma recupera��o imediata.
Alguns pa�ses est�o com as fronteiras abertas, outros com restri��es. Qual o impacto disso?
� muito dif�cil. N�o apenas temos diferen�as entre pa�ses, mas os pa�ses mudam os requisitos rapidamente. Vimos pa�ses que relaxaram as restri��es e imediatamente as recolocaram. Isso � dif�cil para as a�reas, que precisam de tempo para organizar cronogramas, trazer pessoas que estavam de licen�a n�o remunerada de volta. Temos pedido para os governos basearem as decis�es em dados. Estamos na pandemia h� 16 meses, e as informa��es que temos agora s�o muito melhores do que quando o v�rus apareceu. Naquela situa��o, as restri��es eram inevit�veis. Mas, em muitos casos, elas foram colocadas 15 meses atr�s e continuam at� hoje. Entendemos que algumas restri��es s�o necess�rias, enquanto a vacina��o n�o � consistente. Mas, em outros lugares, deveriam ser relaxadas.
Quanto tempo vai levar para as empresas serem financeiramente sustent�veis novamente?
As perdas foram muito severas. Estimamos que as d�vidas que as companhias assumiram ao redor do mundo tenham aumentado em US$ 220 bilh�es desde o come�o da pandemia e que agora estejam em US$ 650 bilh�es. Essa d�vida est� aumentando porque, para muitas companhias, a queima de caixa continua. Estimo que possa chegar a US$ 700 bilh�es at� o fim do ano. E vamos levar um tempo consider�vel para reparar isso. Acreditamos que voltaremos aos n�veis de tr�fego que tivemos em 2019 em 2023 ou 2024.
E aos n�veis financeiros?
O foco tem sido o caixa, n�o o lucro. Porque � o caixa que te mant�m vivo. Algumas companhias est�o come�ando a ter caixa positivo, como as dos EUA, onde 66% da ind�stria � dom�stica. No Oriente M�dio, que tem apenas 4% de mercado dom�stico, � mais dif�cil. Veremos algumas companhias tendo lucro neste ano, principalmente na Am�rica do Norte, mas ser� muito pequeno. � improv�vel que voltemos logo ao n�vel de lucratividade de 2019, que n�o foi o melhor ano para a ind�stria, mas foi um bom ano. � prov�vel que leve anos, talvez 2025 ou 2026. O desafio ainda est� adiante, n�o ficou para tr�s. A raz�o para isso � que muitas companhias reduziram a queima de caixa durante a pandemia porque n�o est�o voando. Elas n�o est�o tendo gasto com combust�vel. Conforme as empresas voltarem a voar, esses custos voltam muito r�pido. A maioria das a�reas vende suas passagens com uma antecipa��o grande, mas, por causa da pandemia, pouqu�ssimas passagens est�o sendo vendidas. Temos visto, at� mesmo nos mercados que se recuperaram, que o tempo entre a pessoa comprando e voando diminuiu significativamente. Ent�o conseguir o fluxo de caixa adequado ser� um grande desafio. As empresas ter�o de ser muito cuidadosas para balancear isso.
N�o houve ajuda estatal para as a�reas no Brasil e, apesar de o Pa�s n�o ter se fechado, a maioria dos pa�ses fechou as fronteiras para os brasileiros. Como avalia as medidas do governo local e a situa��o do mercado?
Ter mantido as fronteiras abertas � positivo, mas infelizmente outros pa�ses se fecharam para o Brasil. � um grande problema para as companhias baseadas no Pa�s. Mas o mercado dom�stico tem se recuperado. Estim�vamos que, no Brasil, o dom�stico em maio estava 40% inferior ao de 2019. Mas o mercado internacional, mais lucrativo, estava 90% abaixo. O governo fez algumas coisas para ajudar, mas o apoio financeiro foi bastante limitado. Vai ser mais dif�cil para as brasileiras se recuperarem (na compara��o com as de pa�ses que receberam ajuda financeira).
Das empresas associadas � Iata, quantas faliram at� agora?
Menos do que voc� pensaria. E isso principalmente porque muitas empresas n�o est�o queimando caixas por n�o estarem voando. O risco de fal�ncia ainda existe conforme as opera��es forem retomadas. Vamos ver mais empresas falindo at� o come�o do ano que vem. Qualquer empresa que estava em uma posi��o fraca quando a crise come�ou est� significativamente pior agora.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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