
Geralmente em sintonia com Jair Bolsonaro (sem partido), o empres�rio Luciano Hang passou recentemente a discordar do presidente da Rep�blica em um ponto. O dono das lojas Havan aderiu ao movimento de empres�rios que pedem a volta do hor�rio de ver�o, extinto por Bolsonaro em abril de 2019.
"Al�m disso, com o dia mais longo, as pessoas vivem melhor, v�o �s praias, praticam exerc�cios e t�m mais qualidade de vida", completou.
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O posicionamento do empres�rio amigo n�o comoveu Bolsonaro, que na ter�a-feira (06/07) voltou a defender sua decis�o de acabar com o hor�rio especial.
"O hor�rio de ver�o foi comprovado que n�o tem ganho financeiro e a maioria � contra porque mexe no rel�gio biol�gico", afirmou o presidente a apoiadores, na porta do Pal�cio da Alvorada.
Ao fim de junho, empres�rios dos setores de turismo, bares e restaurantes encaminharam ao presidente uma carta reivindicando a volta do hor�rio de ver�o este ano.
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No documento, os representantes do setor privado argumentam que a hora a mais de claridade no fim de tarde impacta positivamente os neg�cios e seria de grande ajuda ap�s a forte queda de faturamento sofrida por esses setores na pandemia.
Especialistas em energia e infraestrutura avaliam ainda que a medida seria de grande relev�ncia no atual quadro de crise do setor el�trico, provocada por uma seca hist�rica, que levou o n�vel dos reservat�rios hidrel�tricos ao patamar mais baixo em d�cadas.
Diante das m�ltiplas press�es pela volta do hor�rio de ver�o, cabe a pergunta: valeu a pena acabar com ele em 2019?
Os especialistas avaliam que n�o. E mesmo quem acha que a medida pode ter sido acertada em 2019, defende que agora � hora de revert�-la.

'O governo errou'
Para o economista Claudio Frischtak, s�cio da consultoria Inter.B e especialista em infraestrutura, o governo errou "em dois sentidos" ao acabar com o hor�rio de ver�o em 2019: na forma e no conte�do.
"Na forma, porque essa foi uma decis�o arbitr�ria, n�o transparente", avalia Frischtak.
Segundo ele, n�o se sabe em que pesquisa de opini�o o presidente se baseia para dizer que a maioria da popula��o � contr�ria ao hor�rio de ver�o. "Na realidade, sequer faz sentido tomar uma decis�o dessas com base em pesquisa de opini�o, pois uma decis�o de pol�tica p�blica deve ser calcada em evid�ncias", afirma o economista.
Conforme o especialista, o governo errou "no conte�do" ao extinguir o hor�rio de ver�o, pois o hor�rio especial traz tr�s benef�cios sociais: economia de energia, impacto positivo sobre a atividade econ�mica e um terceiro, menos discutido, que � o efeito da luminosidade adicional sobre indicadores de seguran�a p�blica.
"A evid�ncia emp�rica sugere que uma hora a mais de luminosidade reduz homic�dios, roubos e acidentes de tr�nsito", cita Frischtak, que publicou em 2019 um artigo sobre o tema em coautoria com os pesquisadores Miguel Foguel e Renata Canini.
"E isso n�o apenas no nosso pa�s, h� evid�ncia nos Estados Unidos do mesmo fen�meno. Ent�o, do ponto de vista da seguran�a, acabar com o hor�rio de ver�o n�o � uma boa ideia."
Para o s�cio da consultoria Inter.B, o argumento utilizado em 2019 de que o hor�rio de ver�o perdeu relev�ncia devido � mudan�a do pico de consumo do fim para o meio da tarde, como resultado do maior uso de aparelhos de ar condicionado, perde relev�ncia num momento como o atual, de grave crise no setor el�trico.
"O que h� atualmente, no ver�o, � um duplo pico: um no meio da tarde, por causa do ar condicionado, e outro, quando as pessoas chegam em casa e v�o tomar banho e ligar seus eletrodom�sticos", diz Frischtak.
"Estima-se que o hor�rio de ver�o pode reduzir em at� 4,5% o consumo de energia nesse segundo pico do fim de tarde. Estamos hoje vivendo no pa�s uma crise de abastecimento de energia, ent�o tudo que possa ser feito para estimular o consumidor a reduzir o consumo de energia deve ser implantado, principalmente se isso for acompanhado de uma campanha de educa��o."

'Hor�rio de ver�o esse ano � imprescind�vel'
O professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor El�trico), Nivalde de Castro, destaca que o contexto do setor el�trico mudou de 2019 para este ano.
"H� dois anos, o equil�brio entre oferta e demanda de energia estava tranquilo, ent�o uma economia de 2% a 3% do consumo n�o era t�o imprescind�vel", diz Castro.
"Mas, atualmente, estamos enfrentando problemas para atender a demanda de energia el�trica justamente na hora em que escurece", afirma, lembrando que o hor�rio de ver�o tem o objetivo de "empurrar" a demanda por energia para mais tarde, aproveitando a luz natural.
"Diante da crise hidrol�gica deste ano, o hor�rio de ver�o faz todo sentido, porque ele evita um consumo a mais, do que numa situa��o em que n�o haja hor�rio de ver�o."
Tanto Castro como Frischtak citam o aumento do desmatamento da Amaz�nia como um fator que tem afetado o regime hidrol�gico do pa�s e a manuten��o do n�vel dos reservat�rios hidrel�tricos.
"Com as mudan�as clim�ticas e as queimadas que o governo tem permitido, isso est� diminuindo o armazenamento dos reservat�rios. Ent�o, possivelmente, para os pr�ximos anos, o hor�rio de ver�o dever� ser necess�rio", diz Castro. "Mas, neste ano, ele � imprescind�vel."
'Para bares e restaurantes, qualquer real a mais importa'
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes), � um dos signat�rios da carta dos empres�rios endere�ada a Bolsonaro pedindo a volta do hor�rio de ver�o.
O executivo lembra que, em 2019, o setor n�o se manifestou quando o presidente decidiu acabar com o hor�rio diferenciado, mesmo sendo prejudicado pela medida.
"Naquele momento, houve um conjunto de argumentos para justificar a decis�o: a baix�ssima economia [de energia], o fato de que uma parcela da sociedade, como as crian�as que acordam cedo para ir � escola, encontravam o dia ainda muito escuro", lembra o representante.
"Ent�o, naquela ocasi�o, n�o nos manifestamos em contr�rio, ainda que estiv�ssemos perdendo com isso, porque o brasileiro tem baixo h�bito de fazer happy hour, mas quando h� hor�rio de ver�o ele tende a ficar muito mais na rua."
Solmucci explica que o setor resolveu trazer esse pleito agora porque, para os bares e restaurantes, "o mundo desabou de l� para c�".

"O nosso setor, mesmo de portas abertas, tem 77% das empresas ainda operando com preju�zo. Ent�o, na nossa vis�o, qualquer real que entre a mais vai ser muito importante, e o hor�rio de ver�o sempre trouxe esse faturamento adicional na primeira hora da noite", afirma.
"A gente chega �s vezes at� a dobrar o que se fatura entre �s 18h e �s 20h com hor�rio de ver�o. E isso tamb�m vale para o pessoal do turismo, como parques, porque estica o dia."
Solmucci avalia ainda que h� uma inconsist�ncia na postura do governo, que trabalha para que a ind�stria reduza o consumo de energia entre 18h e 21h.
"Ora, se faz sentido provocar essa economia na ind�stria, inclusive mexendo na sua estrutura de produ��o, faz sentido ao nosso ver reduzir a demanda dos consumidores nesse hor�rio, ainda que por uma hora, porque uma coisa colabora com a outra."
O porta-voz do setor de bares e restaurantes diz ainda ter esperan�a de que Bolsonaro mude de ideia.
"Estamos trazendo para a discuss�o uma �tica socioecon�mica, que diz respeito a apoiar um setor que est� muito machucado e que gera muitos empregos. Isso al�m da �tica de reduzir o risco do setor el�trico", afirma Solmucci. "O amigo do presidente, Luciano Hang, j� entendeu isso e tem cada vez mais gente entendendo. Acredito que o presidente, se fizer uma an�lise mais detalhada, tamb�m pode evoluir."
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