
A readequa��o da agricultura familiar foi fundamental para evitar o desabastecimento de alimentos nos meios urbanos brasileiros durante da pandemia. Ap�s o impacto do primeiro momento, produtores, extensionistas e operadores de tecnologias digitais se uniram para evitar o estrangulamento da log�stica de distribui��o de alimentos. A constata��o � do veterin�rio e diretor t�cnico da Emater, Feliciano Nogueira de Oliveira. Neste domingo (25/7), � comemorado o Dia Internacional da Agricultura Familiar.
"Passado o choque incial, houve uma grande mobiliza��o para intera��o entre as diversas �reas para compreens�o do momento, e as m�dias sociais e as tecnologias de comunica��o proporcionaram a cria��o de grupos em redes sociais que permitiram a continuidade da comercializa��o dos produtos", contou o veterin�rio.
Baseado no �ltimo censo Agropecu�rio do IBGE, em 2017, constatou-se que grande percentual desses produtores encontram-se na faixa et�ria m�dia de 60 anos. As visitas t�cnicas e de informa��o e forma��o presenciais ficaram encolhidas e ampliados os meios digitais, exigidos pelo distanciamento social e a seguran�a dos grupos mais vulner�veis ao novo coronav�rus.
Considerando a parte de equipes da Emater, s�o 380 mil atendimentos anuais em todo estado, tanto na produ��o agr�cola e pecu�ria e em suas atividades fim, quanto na agrega��es de valores da agroind�stria. Um dos significativos impactos a atingir o setor, segundo o diretor t�cnico da empresa p�blica, foi a suspens�o das atividades escolares e a consequente paralisa��o do programa de alimenta��o escolar.
A corrida se deu para garantir algumas frentes fundamentais na sobreviv�ncia desses pequenos produtores. A preocupa��o era a continuidade da comercializa��o de alimentos e a garantia de continuidade do cr�dito rural, assegurando a inclus�o dos agricultores em maior vulnerabilidade. A decis�o em manter a merenda escolar aos familiares dos estudantes em ensino � dist�ncia, garantiu parte da distribui��o da produ��o.
Mas diante da continuidade da pandemia e a retra��o econ�mica um novo desafio se coloca diante da popula��o. O pre�o dos alimentos. Para Feliciano, trata-se de um xadrez. "A quest�o de produ��o de prote�na animal: leite, carne, ovos, frango, todo o sitema de produ��o animal utiliza muito os gr�os, que s�o commodities, amplamente exportadas, e associados a algumas intemp�ries clim�ticas, como no segundo semestre de 2020, t�m provocado a redu��o na oferta desses produtos em pre�os vi�veis."
A contribui��o da agricultura familiar "� dentro do poss�vel", explica Feliciano, uma vez que, apesar dos n�meros no abastecimento dos centros urbanos, na for�a de trabalho no campo e na produ��o, ela representa 26% da �rea plantada, o que limita maior volume de produ��o dos �tens b�sicos da alimenta��o.
Somente em Minas Gerais, s�o 441.289 pequenas propriedades, representando 32,7% de um total de 607.577 propriedades rurais. O setor responde por 59% da ocupa��o no campo e movimenta no estado, em torno de R$ 14 bilh�es anuais, segundo dados da Emater.
A agricultura familiar � constitu�da de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agr�ria, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. O setor se destaca pela produ��o de milho, raiz de mandioca, pecu�ria leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, oler�colas, feij�o, cana, arroz, su�nos, aves, caf�, trigo, mamona, fruticulturas e hortali�as.
Novo retrato do campo
O professor da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), Marcelo Jos� Braga, apresentou, webinario comemorativo � Semana da Agricultura Familiar, na manh� desta sexta-feira (23/7) a cartilha "Um novo retrato da Agricultura Familiar de Minas Gerais", elaborada pela equipe do Instituto de Pol�ticas e Desenvolvimento Sustent�vel da UFV, a partir dos dados do Censo Agropecu�rio de 2017.
"Os resultados mostram que, em Minas Gerais, 72,7% dos estabelecimentos rurais s�o de agricultores familiares. Al�m disso, Minas � o estado da regi�o Sudeste com o maior n�mero de estabelecimentos da agricultura familiar e o segundo do pa�s. Os estabelecimentos da agricultura familiar est�o concentrados nas mesorregi�es: Sul/Sudoeste de Minas (18,4%), Norte de Minas (17,4%) e Zona da Mata (15,5%)", explica Braga.
A cartilha detalha, tamb�m, outras informa��es como o g�nero, faixa et�ria e o n�vel de instru��o do respons�vel pelo estabelecimento; o n�mero de pessoas ocupadas na agricultura familiar; uso de tecnologias; valor da produ��o das principais culturas, dentre outras; al�m de uma an�lise comparativa com os dados do Censo Agropecu�rio de 2006.
Na avalia��o da secret�ria de Agricultura Ana Valentini, � fundamental para os gestores p�blicos conhecer o perfil da agricultura familiar no estado. "Na medida em que conhecemos o nosso p�blico, suas caracter�sticas, dificuldades e as suas demandas, aumentamos a qualidade e a efici�ncia do atendimento prestado e no uso dos recursos p�blicos. E isso � respeito com o cidad�o", afirma.
Armaz�m doa alimentos n�o comercializados
Moara de Ara�jo Pinto, 21 anos, atendente do Armaz�m do Campo de BH, loja da rede de comercializa��o de produtos org�nicos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), explica que frutas, legumas e verduras recebidas na loja f�sica, �s ter�as, quintas e s�bados, n�o comercializadas no mesmo dia, s�o doadas, no dia seguinte, a quem "quiser levar."

Em uma banquinha instalada na porta da loja, com a placa "doa��o", ficam expostos os produtos. O Armazem do Campo, na Avenida Augusto de Lima 1263, no Barro Preto, em BH, comercializa alimentos org�nicos produzidos pela agricultura familiar, assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Al�m de gr�os, bebidas, leites e seus derivados, doces, tr�s vezes por semana (ter�as, quintas e s�bados) recebe de assentamentos e acampamentos de S�o Joaquim de Bicas e da Zona da Mata, frutas, verduras e legumes.
Caf� Guai�, Arroz Org�nico Terra Livre, Feij�o agroecol�gico dos assentamentos e acampamentos, Suco Agroecol�gico, Chocolate Terra Justa, s�o algumas das mais de 600 variedades de produtos que se tornam mais acess�veis para quem procura alimentos saud�veis em Belo Horizonte.
Em janeiro a rede do MST lan�ou o e-commerce, um aplicativo que proporciona a compra dos produtos com entrega na porta de casa. Basta acessar a p�gina do Armaz�m do Campo BH.
O que � o Censo Agropecu�rio
O Censo Agropecu�rio de 2017, levantamento feito em mais de 5 milh�es de propriedades rurais de todo o Brasil, aponta que 77% dos estabelecimentos agr�colas do pa�s foram classificados como da agricultura familiar. Em extens�o de �rea, a agricultura familiar ocupava no per�odo da pesquisa 80,9 milh�es de hectares, o que representa 23% da �rea total dos estabelecimentos agropecu�rios brasileiros.
De acordo com o levantamento, a agricultura familiar empregava mais de 10 milh�es de pessoas em setembro de 2017, o que representa 67% do total de pessoas ocupadas na agropecu�ria. A agricultura familiar tamb�m foi respons�vel por 23% do valor total da produ��o dos estabelecimentos agropecu�rios.
Conforme o censo, os agricultores familiares t�m participa��o significativa na produ��o dos alimentos que v�o para a mesa dos brasileiros. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produ��o de caf� e banana; nas culturas tempor�rias, s�o respons�veis por 80% do valor de produ��o da mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produ��o do feij�o.
Realizado pela primeira vez em setembro de 1920, o Censo Agro � a principal e mais completa investiga��o estat�stica e territorial sobre a produ��o agropecu�ria brasileira.