Entre 13 dos mais importantes setores da ind�stria brasileira, 10 j� retomaram ou superaram, nesta metade do ano, n�veis de atividade que exibiam antes da chegada da covid-19 ao Pa�s. A produ��o de cimento, por exemplo, est� 22% superior ao que registrava em 2019. No setor de papel, o crescimento � de 15% e no de pl�sticos, de 7,9%. A expectativa � que esses setores possam seguir acelerando, ancorados, principalmente, no avan�o da vacina��o, que pode elevar o consumo. Mas h� algumas barreiras a serem superadas para que isso aconte�a.
A maior preocupa��o � que uma nova cepa do v�rus obrigue governos a novamente adotarem medidas de isolamento, o que poderia ter efeito direto na esperada recupera��o da economia. Mas h� tamb�m os desafios da press�o de custos de mat�rias-primas e de energia el�trica, juros mais altos, desemprego e falta de componentes para a produ��o em alguns setores.
Pedro Renault, economista do Ita� Unibanco, diz que a tend�ncia para o segundo semestre � de "normaliza��o", embora n�o plena, em v�rios segmentos. Para ele, parte da ind�stria est� com atividade aquecida mais em raz�o de reposi��o de estoques do que por crescimento da demanda. Segundo ele, o consumo de bens dur�veis, por exemplo, tende a diminuir em segmentos como o de eletroeletr�nicos.
Renault tamb�m alerta para o aumento dos juros, que muda a capacidade de investimento das empresas e a do consumidor em se financiar. "Isso tende a tirar um est�mulo da economia que est� presente agora." A taxa Selic est� hoje em 4,25% ao ano. A proje��o de economistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus � de que termine o ano a 6,75%.
Fabio Bentes, economista da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC), tamb�m v� um cen�rio positivo, "mas n�o dourado", para o segundo semestre. Para ele, h� v�rios obst�culos, como a alta do pre�o da energia, que dever� ser repassada �s mercadorias. "A energia corr�i parcela significativa da renda do consumidor e sobra menos para o consumo."
Demanda alta
Levantamento feito pelo Ita� Unibanco indica que entre os setores com desempenho acima do per�odo pr�-pandemia est� o sider�rgico - com boa parte da demanda vinda da constru��o civil -, e o de embalagens que, por sua vez, movimenta a ind�stria de papel.
Na �rea da siderurgia, a produ��o de a�o bruto cresceu 4% na primeira metade do ano na compara��o com igual per�odo de 2019, com um total de 18 milh�es de toneladas. No ano passado, com muitos fornos desligados nos primeiros meses da crise, foram produzidas 14,6 milh�es de toneladas.
A perspectiva inicial do setor para este ano inteiro era de alta de 6,7% na produ��o ante 2020, mas em maio o �ndice foi revisto para 11% e, neste m�s, para 14%, o que daria 35,8 milh�es de toneladas, informou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto A�o Brasil. Se confirmado, o volume ser� quase 10% superior ao de antes da covid-19.
"Consumo de a�o e desenvolvimento econ�mico andam juntos, n�o � � toa que est� se fazendo revis�o de PIB, pois, de fato, est� ocorrendo uma recupera��o", diz Lopes. O A�o Brasil trabalha com a expectativa de alta de 5% na economia este ano.
J� a ind�stria de papel aumentou sua produ��o em 15% no primeiro semestre deste ano em compara��o ao mesmo per�odo de 2019, numa soma de 1,99 milh�o de toneladas, de acordo com dados da Associa��o Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel). Parcela importante da demanda veio do crescimento de compras pelo e-commerce e do delivery de alimentos.
Componentes
Ao contr�rio dos fabricantes de a�o, o setor automotivo est� na lista dos mais distantes em retomar n�veis de antes da pandemia. A produ��o de ve�culos est� 21,8% abaixo dos n�meros de 2019, com 1,15 milh�o de unidades registradas na primeira metade do ano.
Renault, do Ita� Unibanco, pondera que a demanda por ve�culos est� aquecida, mas h� um gargalo no fornecimento de semicondutores que tem levado v�rias montadoras a interromperem a produ��o. Com isso, faltam ve�culos nas revendas. O modelo mais vendido no Pa�s atualmente, a picape Fiat Strada, tem fila de espera de tr�s meses.
"Apesar da produ��o menor, o setor est� conseguindo aumentar pre�os, preservando um pouco melhor as margens, e est� priorizando a produ��o de ve�culos mais rent�veis", diz Renault. Segundo ele, embora o volume produtivo esteja bem abaixo de 2019, a sa�de financeira do setor n�o � t�o preocupante.
Segundo o presidente da Associa��o Nacional dos Fabricantes de Ve�culos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, entre 100 mil a 120 mil ve�culos deixaram de ser produzidos no primeiro semestre por causa da escassez de itens eletr�nicos, o que ajuda a retardar a recupera��o do setor. "Trabalhamos com per�odo de tr�s anos, mais ou menos, para voltarmos aos patamares de 2019."
A Associa��o Brasileira das Locadoras de Autom�veis (Abla) diz que o setor pretendia comprar 800 mil ve�culos novos no decorrer do ano. Em raz�o das dificuldades de produ��o, a entidade acredita que no m�ximo 50% desse potencial ser� realizado, com compras entre 380 mil a 400 mil autom�veis e comerciais leves.
Outro setor que enfrenta esse tipo de escassez, embora em menor escala, � o de eletroeletr�nicos. Em junho, segundo a Associa��o Brasileira da Ind�stria El�trica e Eletr�nica (Abinee), 46% das empresas relataram dificuldades em obter componentes eletr�nicos vindos da �sia, porcentual que chegou a 58% em abril. Ainda assim, de janeiro a maio o setor melhorou em 1,8% seu �ndice de produ��o ante igual per�odo de 2019.
Varejo
Fora da �rea industrial, um setor com elevadas perdas desde o in�cio da pandemia � o com�rcio varejista. Fabio Bentes, economista da Confedera��o Nacional do Com�rcio (CNC), calcula em R$ 873,4 bilh�es a perda acumulada de fevereiro de 2020 a maio deste ano. Ele ressalta que h� discrep�ncia entre segmentos, com supermercados, produtos aliment�cios e bebidas, por exemplo, avan�ando na pandemia, e segmentos como equipamentos e materiais para escrit�rio e inform�tica, tecidos, vestu�rio e cal�ados apresentando perdas significativas.
As vendas online, por outro lado, se destacaram. Para Pedro Renault, economista do Ita� Unibanco, o e-commerce "ganhou uma participa��o que n�o vai devolver mesmo ap�s a pandemia". Esse tipo de venda puxou tamb�m a log�stica que, antes, atuava com grandes centros de distribui��o em galp�es fora dos centros urbanos. "Agora, as empresas buscam terrenos dentro das cidades e atuam com o chamado 'last mile', que � a entrega com um caminh�ozinho na porta do cliente."
A previs�o da CNC � que o varejo, no geral, tenha uma alta de 4,5% nas vendas este ano, a maior taxa em nove anos. Mas Bentes ressalta que o aumento � sobre uma base fraca.
A consultoria Deloitte avalia que, at� outubro, o cen�rio econ�mico do Pa�s seja mais positivo, com retomada acentuada de v�rias atividades e n�mero maior de pessoas vacinadas. A expectativa � de que alguns setores, como o de turismo e eventos, devem voltar lentamente, pois h� demanda reprimida. "S� que o n�vel de endividamento de v�rias empresas cresceu", diz Giovanni Cordeiro, economista-chefe da Deloitte. Segundo ele, relat�rio do Banco de Compensa��es Internacionais (BIS) prev� que empresas de mercados emergentes fortemente afetadas pela crise v�o levar cerca de dois anos para pagar suas d�vidas.
Para as empresas do Brasil, o BIS calcula que as mais endividadas ter�o de dedicar 45% do lucro l�quido para sanar seus d�bitos. Na opini�o de Cordeiro, haver� um movimento de ajustes, pois muitas empresas n�o v�o conseguir se recuperar, at� porque a taxa de desemprego no Pa�s permanece em alta, subtraindo o poder de compra da popula��o. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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