No in�cio da pandemia, Sidneia Soares, de 49 anos, recebeu a not�cia de que seria demitida. Com o in�cio das restri��es de locomo��o, a loja em que ela trabalhava, em S�o Paulo, fechou as portas, e ela ficou desempregada. De l� para c�, virou-se com trabalhos informais. Por�m, as contas continuaram a chegar. Sem o sal�rio m�nimo que recebia, precisou da ajuda de familiares para n�o atrasar pagamentos b�sicos, como luz, �gua e condom�nio.
Agora, trabalhando como atendente de uma lanchonete e tamb�m como aprendiz em um sal�o de cabeleireiro, Sidneia conseguiu encaixar as contas em seu or�amento, mas ainda n�o tem previs�o de como vai pagar as mensalidades do Financiamento Estudantil (Fies) que contraiu. "Eu fiz cortes nos meus gastos e reformulei tudo."
Com a renda afetada pela pandemia de covid-19, fam�lias como a de Sidneia e tamb�m empresas nunca estiveram t�o endividadas. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que o endividamento das fam�lias chegou aos 58,5% em abril, o maior porcentual da s�rie hist�rica, iniciada em janeiro de 2005. Isso significa que, para cada R$ 100 que uma fam�lia recebeu no �ltimo ano, ela j� tem uma d�vida contratada de quase R$ 60. J� o comprometimento da renda mensal ficou em 30,5% em abril - ou seja, para cada R$ 100 recebidos por m�s, R$ 30 foram usados para pagar parcelas dos empr�stimos.
J� levantamento do Cemec-Fipe mostra que o conjunto de d�vidas das companhias n�o financeiras no Brasil atingiu 61,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em mar�o de 2021, patamar tamb�m hist�rico. No fim de 2019, antes da pandemia, essa rela��o era de 50,1% (mais informa��es nesta p�gina).
O aperto no bolso das fam�lias, especialmente em um momento em que desemprego e infla��o est�o elevados, pode atrapalhar a retomada do crescimento econ�mico, avaliam economistas. "Os juros v�o subir, e as fam�lias que j� est�o endividadas ter�o op��es de cr�dito ainda mais caras, o que pode comprometer a retomada do consumo no ano que vem", afirma S�rgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele calcula que a economia crescer� somente 1,8% no ano que vem e que a retomada dos empregos ser� lenta.
Isso, na vis�o dele, ter� impacto direto na renda dos brasileiros, que j� est� em baixa. Segundo dados do IBGE, a massa de sal�rios em circula��o caiu R$ 12 bilh�es em um ano, o que representa um recuo de 5,4% no trimestre encerrado em abril em compara��o ao mesmo per�odo de 2020. Ou seja, o brasileiro est�, al�m de mais endividado, mais pobre.
Para completar, a taxa de poupan�a das fam�lias vem em forte queda desde o segundo trimestre do ano passado. Segundo c�lculos do Ita� Unibanco, o indicador chegou a ser de 31,1% no per�odo entre abril e junho do ano passado, muito por causa do fechamento de com�rcios em geral no in�cio da pandemia, e j� voltou para 11,8% no primeiro trimestre deste ano.
"Muitas fam�lias de renda baixa deixaram de receber o aux�lio emergencial no come�o do ano e precisaram procurar outras formas de cr�dito", diz o coordenador do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe), Carlos Antonio Rocca, que avalia como uma das principais caracter�sticas da atual crise a maior diferencia��o entre as classes de renda.
Na vis�o de Gustavo Ribeiro, economista-chefe do Asa Bank, a diminui��o da renda do brasileiro n�o permite uma expans�o da economia por meio de cr�dito, afinal muitos sequer est�o conseguindo pagar as contas do dia a dia.
Cr�dito dif�cil
O endividamento pode ser positivo para uma pessoa, caso ela esteja se planejando para uma grande compra, como um im�vel, ou at� para alavancar o seu neg�cio. Mas n�o � isso o que tem acontecido com muitos brasileiros de baixa renda durante a pandemia, que procuram empr�stimos para pagar contas b�sicas. Elas, inclusive, t�m dificuldade de conseguir uma linha de financiamento.
Um levantamento divulgado pelo Serasa aponta que os bancos negam 44% das solicita��es de empr�stimos para pessoas que recebem menos de cinco sal�rios m�nimos por m�s.
Um desses casos � o da diarista Eveline da Silva, de 39 anos. Ela viu a sua renda cair quase um ter�o durante a pandemia, para R$ 600, e o sal�rio do seu marido ser reduzido pela metade. No m�s passado, fez um cart�o de cr�dito para conseguir fazer uma festa de anivers�rio para a sua filha. Conseguiu um cart�o com limite de R$ 500 e gastou R$ 250 para comprar ingredientes para doces e salgados.
"Vou pagar a fatura no pr�ximo dia 5, pois n�o quero me complicar com os juros. Depois disso, vou deixar o cart�o guardado", diz Eveline.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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