Desde o in�cio do segundo semestre de 2020, quando a alta das commodities (produtos b�sicos) no mercado internacional passou a impulsionar os pre�os de alimentos no Brasil, o Banco Central vem errando seguidamente, para baixo, suas proje��es de infla��o de curto prazo.
De julho de 2020 a julho de 2021, o BC subestimou a infla��o em suas proje��es em 9 dos 13 meses considerados. No epis�dio mais recente, calculou uma infla��o de apenas 0,39% em julho, enquanto o IBGE revelou nesta ter�a-feira, 10, uma taxa de 0,96%.
As press�es sobre a infla��o no Brasil se intensificaram a partir do segundo semestre do ano passado, com a alta de produtos como soja e milho no mercado internacional, na esteira da pandemia de covid-19. Al�m do avan�o nos pre�os de alimentos, os brasileiros passaram a enfrentar ainda em 2020 reajustes nos combust�veis, com impactos crescentes sobre o IPCA, o �ndice oficial de infla��o.
Apesar disso, o BC, comandado por Roberto Campos Neto, manteve o discurso de que as eleva��es nos pre�os dos alimentos eram transit�rias. No comunicado de pol�tica monet�ria de setembro do ano passado, por exemplo, o Banco Central citou uma "alta tempor�ria" nos pre�os de alimentos. Em outubro, defendeu que haveria um "arrefecimento".
Com o passar do tempo, foi ficando claro que as press�es n�o seriam tempor�rias. Ainda assim, o BC se manteve otimista, subestimando o avan�o dos pre�os. Nos seis �ltimos meses de 2020, a institui��o projetou infla��o menor que a efetivamente registrada em cinco oportunidades. Para outubro, por exemplo, o BC calculou infla��o de 0,30%, mas o �ndice foi de 0,86%. Para novembro, a proje��o era de 0,27%, mas o IPCA foi de 0,89%.
Os erros "para baixo" continuaram em 2021. O BC projetou para fevereiro, por exemplo, infla��o de 0,36%, mas o �ndice ficou em 0,86%. Em outro caso que chama a aten��o, a infla��o projetada de maio era de 0,31%, mas a alta de pre�os efetiva foi de 0,83%.
Em 4 dos 13 meses considerados, as proje��es de infla��o ficaram acima do efetivamente registrado pelo IBGE, mas foi por pouco. Um exemplo � o m�s de julho de 2020, quando a institui��o projetava infla��o de 0,43%, mas o �ndice foi de 0,36%. Em janeiro deste ano, o BC calculava 0,27% e a taxa foi de 0,25%. Na pr�tica, quando a infla��o oficial fica abaixo da proje��o do BC, a margem � reduzida; quando fica acima do projetado, a margem � ampla.
As proje��es de curto prazo para infla��o do BC s�o atualizadas a cada tr�s meses por meio do Relat�rio de Infla��o. Quando o documento � divulgado, o presidente do BC e o diretor de Pol�tica Econ�mica, Fabio Kanczuk, concedem entrevista coletiva � imprensa. A �ltima vez em que isso ocorreu foi em 24 de junho.
Na ocasi�o, o BC j� citava, al�m da press�o mais duradoura dos alimentos, duas outras fontes de preocupa��o: a alta nos pre�os de energia el�trica, em fun��o da estiagem no Pa�s, e a retomada do setor de servi�os, que poderia abrir espa�o para a remarca��o de pre�os.
Durante a entrevista, o Estad�o/Broadcast chegou a questionar Campos Neto sobre a infla��o de curto prazo projetada pela autarquia para os meses seguintes: 0,62% em junho, 0,39% em julho e 0,26% em agosto. A reportagem perguntou, especificamente, o que justificaria uma infla��o de apenas 0,26% em agosto, sendo que j� havia em junho um risco crescente trazido pelos pre�os de energia e pela possibilidade de acelera��o dos servi�os. Em sua resposta, Campos Neto disse: "No Brasil ainda temos uma infla��o de servi�os bastante baixa".
Em dois meses, a percep��o parece ter mudado. Na semana passada, quando elevou a Selic (a taxa b�sica de juros) em 1 ponto porcentual, para 5,25% ao ano, o BC j� havia citado uma "composi��o mais desfavor�vel" da infla��o.
"Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da infla��o de servi�os e a continuidade da press�o sobre bens industriais, causando eleva��o dos n�cleos (de infla��o)", disse o BC em sua linguagem t�cnica. A institui��o tamb�m citou uma "piora recente em componentes inerciais dos �ndices de pre�os, em meio � reabertura do setor de servi�os".
"Novas press�es"
Nesta ter�a, o BC publicou a ata da reuni�o da semana passada. Nela, a institui��o afirma que h� "novas press�es" inflacion�rias causadas pela bandeira tarif�ria de energia el�trica - que eleva o custo da conta de luz dos consumidores - e por novos aumentos nos alimentos, na esteira dos problemas clim�ticos.
Com a geada em algumas regi�es do Pa�s, h� tend�ncia de novos aumentos nos pre�os dos alimentos. "Em conjunto, esses fatores acarretam revis�o significativa das proje��es de curto prazo", justificou o BC.
A escalada da infla��o, m�s a m�s, fez o BC sinalizar na ata que, em setembro, pode elevar a Selic em mais 1 ponto porcentual, para 6,25% ao ano. Ao mesmo tempo, a institui��o deixou aberta a possibilidade de aplicar aumento ainda maior nos juros para controlar os pre�os, se necess�rio. O objetivo fundamental do BC � assegurar a estabilidade de pre�os no Brasil. Para isso, a institui��o tem como ferramenta justamente a Selic.
A batalha para segurar a infla��o em 2021 j� est� perdida. O pr�prio BC projeta um IPCA de 6,5% este ano, mas a meta � de 3,75%. Nem mesmo com a margem de 1,5 ponto porcentual (infla��o at� 5,25%) o BC conseguir� ficar dentro dos par�metros. Isso n�o ocorre desde 2016, no primeiro ano do governo Temer.
Para 2022, a proje��o atual do BC � de 3,50% - exatamente a meta perseguida. O mercado financeiro j� projeta IPCA de 3,84% no pr�ximo ano. O porcentual vem subindo h� tr�s semanas, conforme o Relat�rio de Mercado Focus.
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