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Estado de Minas ECONOMIA

Mesmo com vacina, retorno ao trabalho presencial � parcial


15/08/2021 17:00

Nos �ltimos meses, a vacina��o no Brasil se acelerou. Atualmente, mais da metade da popula��o tomou, pelo menos, a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Os n�meros de casos e mortes, que ainda est�o altos, tiveram redu��o desde o pico no per�odo entre abril e junho. Mesmo com um cen�rio mais positivo pela frente, as empresas e os seus funcion�rios n�o est�o t�o animados para voltar ao trabalho presencial: o retorno est� sendo a "conta-gotas".

O desejo das companhias em retomar as atividades presenciais, mesmo que de maneira h�brida, � claro. Segundo estudo realizado pela consultoria KPMG no primeiro semestre, 66% das empresas estavam interessadas em voltar ao trabalho presencial ainda em 2021, e os 34% restantes em 2022.

A situa��o, por�m, j� mudou desde o levantamento. "Agora estamos vendo que est� em um patamar de 50% para voltar neste ano e 50% no ano que vem", afirma Luciene Magalh�es, s�cia da KPMG. N�o por acaso, 74% das empresas ouvidas pela consultoria afirmam que os planos da volta ao trabalho presencial mudaram em algum momento por causa do surgimento de novas cepas. Al�m disso, a vacina��o completa ainda est� na casa dos 20%, o que tamb�m atrapalha retomada.

A empresa de benef�cios Ticket � uma das que est�o bem conservadoras com a volta ao escrit�rio. A companhia j� possu�a um programa de trabalho h�brido - misturando presencial e home office - desde 2018. Mas, com a pandemia, 100% dos funcion�rios foram para casa e por l� ficaram. Agora, a empresa come�a a desenhar um retorno dos 600 colaboradores em tr�s fases. A primeira delas, que deve ocorrer ainda neste ano, contemplar� apenas volunt�rios vacinados e deve alcan�ar cerca de 10% dos funcion�rios, sendo que ser�o dois dias no escrit�rio e tr�s em casa.

J� a segunda ter� um aumento consider�vel, de at� 50%, respeitando os protocolos de distanciamento. A terceira fase, que s� deve acontecer no ano que vem, ter� 100% dos funcion�rios, mas trabalhando no modelo h�brido. Segundo Jos� Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos da Ticket, tudo est� sendo feito em contato com os empregados. "E a quantidade de dias trabalhados em casa e no escrit�rio vai variar de �rea para �rea", diz.

O modelo h�brido � visto tanto por empresas quanto por especialistas como um caminho sem volta. Uma pesquisa realizada pela companhia de coworking WeWork com a consultoria Workplace Intelligence aponta que 53% dos funcion�rios desejam trabalhar tr�s ou mais dias em casa por semana.

O Mercado Livre vai apostar nesse modelo, mas hoje vive uma dualidade. Enquanto h� mais de 6 mil colaboradores trabalhando presencialmente nos centros log�sticos, a sede, em Osasco (SP), com mais de 33 mil m�, est� vazia. Nesse segundo caso, mesmo sem prazo para voltar, h� uma certeza: o retorno ser� no esquema h�brido. A empresa criou um comit� para avaliar a volta e definiu que, quando tudo estiver normalizado, 50% da carga hor�ria dos funcion�rios ser� de casa e a outra metade, na sede.

"Entre os indicadores que avaliamos para a volta est� a evolu��o dos �ndices pand�micos e de vacina��o das equipes, acompanhado a partir de um formul�rio em que o colaborador pode informar se j� foi vacinado", diz Patr�cia Monteiro, diretora de pessoas do Mercado Livre no Brasil.

Novatos. Existem os casos de pessoas que foram contratadas durante a pandemia e sequer tiveram contato com os colegas. Beatriz de Oliveira, analista de marketing da startup de entregas Daki, � uma delas. Para ela, seria interessante voltar a trabalhar pelo menos dois dias da semana no escrit�rio. Mas existe um problema: a Daki, que foi fundada em janeiro deste ano e j� recebeu um aporte de quase R$ 1 bilh�o, sequer tem sede.

De l� para c�, a empresa j� contratou 150 pessoas - um n�mero que cresce todos os dias. Segundo Rafael Vasto, presidente da Daki, a maior parte est� trabalhando de casa e alguns poucos ficam em salas dentro das "dark stores" (lojas ocultas) que a empresa utiliza como estoque.

A pandemia fez com que a procura por um escrit�rio central ficasse para depois, mas a empresa j� est� em busca de espa�os que comportem um n�mero ainda maior de funcion�rios, pois tem mais vagas abertas. "Montar um time e construir uma cultura sem que ningu�m se conhe�a � mais dif�cil e, agora que a vacina��o est� andando, estamos pensando em um escrit�rio, que adotar� modelo h�brido", afirma Vasto.

Saudade do escrit�rio

No entanto, ainda existe uma fatia de 34% que gostaria de trabalhar todos os dias do escrit�rio, seja por falta de estrutura em casa ou por se concentrar melhor no escrit�rio, segundo o estudo da WeWork e da Workplace Intelligence. Esse cen�rio � cada vez mais distante, mas h� empresas que querem 100% da sua for�a de trabalho em alguns dias da semana. � o caso da Simpress, que faz loca��o de equipamentos e solu��es para gest�o de documentos.

A empresa viu a demanda para seus neg�cios, especialmente para a loca��o de computadores e notebooks, disparar durante a pandemia. Com um crescimento de 35% no primeiro semestre, a empresa chegou a faturar R$ 1 bilh�o em 2020. Para dar conta da demanda, o presidente da empresa, Vittorio Danesi, esperava que essa volta fosse ser mais r�pida.

Hoje, o escrit�rio da companhia est� completamente vazio. Danesi, por�m, espera que at� dezembro todos os seus 1,9 mil funcion�rios estejam vacinados e trabalhando presencialmente de ter�a a quinta - j� segunda e sexta, todos far�o home office. A partir de setembro, todos os funcion�rios que tiverem tomado as duas doses ser�o convocados a voltar � sede. "H� um desejo grande de as pessoas voltarem ao escrit�rio. O home office n�o substitui a troca di�ria que acontece na empresa", afirma o executivo.

Empresas �tech� se expandem

A pandemia de covid-19 foi um baque para o mercado de escrit�rios em S�o Paulo - maior centro corporativo do Pa�s. No fim de junho, um quarto dos pr�dios comerciais estava sem locat�rio. No entanto, um alento surgiu nesse cen�rio dif�cil: empresas ligadas � tecnologia, muitas delas capitalizadas ap�s rechear o caixa com rodadas de investimento ou aberturas de capital, est�o em busca de mais espa�o. Mesmo com o home office, algumas dessas companhias t�m contratado tanta gente que est�o precisando de escrit�rios novos - de prefer�ncia, nos melhores e mais caros endere�os da capital paulista.

No momento, a PagSeguro, a Kavak, a Stone e a chinesa Shopee, entre outras, est�o em busca de novos espa�os, apurou o Estad�o. Dentro dessa tend�ncia, um movimento que agitou o mercado imobili�rio veio do Facebook: o aluguel de um espa�o de 20 mil metros quadrados em um novo pr�dio na Faria Lima - apesar de a empresa estar hoje em regime 100% remoto.

Al�m das empresas 100% "tech", companhias mais tradicionais da ind�stria, como a SaintGobain, segundo fontes, est�o buscando ampliar seus espa�os para regi�es mais centrais. No caso da multinacional francesa, isso reflete a expans�o da �rea de inova��o.

"Muitas empresas de tecnologia cresceram muito, e houve um aquecimento da busca por escrit�rios", diz Mariana Hananina, diretora de pesquisa e intelig�ncia de mercado da Newmark, consultoria especializada no setor corporativo. Esse movimento come�ou h� 18 meses e continua at� hoje. Na maior parte dos casos, essa procura por novos espa�os se refere a uma demanda futura - uma vez que, por enquanto, o trabalho remoto domina as rotinas das grandes companhias.

Entre os exemplos de empresas de forte crescimento buscando escrit�rios est� a 1m2, uma plataforma de venda de loteamentos. Aproveitando-se de um espa�o que ficou vago pr�ximo ao local onde mantinha seus escrit�rios, a startup decidiu mudar de endere�o e ampliar seu espa�o. "Crescemos em 50% o n�mero de funcion�rios. Percebemos uma vac�ncia muito grande e detectamos uma oportunidade", diz o presidente da 1m2, Rodrigo Gordinho. A empresa espera encerrar este ano com um crescimento de vendas de 200%.

Apesar desse aquecimento entre empresas de tecnologia, os n�meros do mercado imobili�rio corporativo ainda mostram um elevado �ndice de vac�ncia. Isso � reflexo da pandemia e tamb�m do aumento de lan�amentos em S�o Paulo.

Segundo dados da Newmark, a taxa de espa�os vazios na capital paulista atingiu 25,1% no fim de junho no mercado de pr�dios de alto padr�o. No entanto, uma an�lise mostra um desempenho desigual entre as regi�es. No Itaim, s� h� 1,4% de espa�o livre. Na Faria Lima, a oferta est� em cerca de 15%. Na contram�o, a �rea pr�xima � Chucri Zaidan, na zona sul, tem mais de 35% de vac�ncia.

Recorde de entregas

O que chama a aten��o, diz a presidente da Newmark, Marina Cury, � que neste ano muitas outras obras ser�o entregues, chegando a um volume de aproximadamente 250 mil metros quadrados em lan�amentos de lajes corporativas - um recorde. Ela lembra que essas decis�es de investimento, que se refletem em novos edif�cios entregues hoje, foram tomadas cinco anos atr�s. Por isso, o estoque continuar� subindo nos pr�ximos anos: ser�o 63 mil m� em 2022 e mais 66 mil m� em 2023.

Segundo Caio Castro, s�cio da gestora de fundos imobili�rios RBR, que tem uma s�rie de edif�cios corporativos no portf�lio, o mercado imobili�rio tem passado, em um ano de pandemia, por situa��es distintas. Regi�es como Faria Lima, Paulista e Pinheiros est�o com o �ndice de vac�ncia mais baixo - o que tem ajudado a manter o pre�o dos alugu�is em alta.

J� em outras �reas, caso da regi�o da Chucri Zaidan e da Berrini, passam por um movimento oposto, principalmente por estarem longe de esta��es do metr�, segundo Castro. Para as empresas de tecnologia, a localiza��o se tornou um trunfo na hora da contrata��o. O especialista afirma que, em �reas consideradas melhores, o funcion�rio se mostra mais disposto a abandonar o home office e voltar ao regime presencial.

A diretora na divis�o de Escrit�rios da JLL, Yara Matsuyama, afirma que, apesar de a taxa de ocupa��o no segundo trimestre ter crescido em rela��o ao per�odo anterior, o �ndice de absor��o tamb�m cresceu, mostrando que houve um maior movimento de empresas montando ou ampliando escrit�rios.

"Agora vemos no horizonte uma vacina��o em massa, e isso faz com que as empresas comecem a considerar um retorno", afirma. Dentre os destaques, ela confirma a maior busca das empresas de tecnologia por espa�os. Muitas startups t�m procurado escrit�rios na regi�o de Pinheiros, bairro que j� atraiu a fintech Nubank, por exemplo.

Empresas optam por educar funcion�rios sobre a vacina��o

A discuss�o em torno da volta aos escrit�rios ganha mais corpo com o avan�o da vacina��o. Por�m, tamb�m cresce o debate a respeito de como as empresas podem cobrar dos funcion�rios a imuniza��o para que a volta ao trabalho presencial seja segura para todos. A maior parte das companhias se posiciona de maneira mais educacional: querem convencer os seus trabalhadores da import�ncia da vacina��o.

A multinacional de tecnologia Intuit s� ir� retornar aos trabalhos presenciais quando 70% da popula��o estiver completamente imunizada - ou seja, tenha tomado as duas doses necess�rias. Mesmo assim, a companhia est� apenas mandando comunicados e mensagens falando sobre vacina��o para os funcion�rios.

"Nossa mentalidade � de n�o obrigar ningu�m a fazer nada. Apoiamos que as pessoas se vacinem e facilitamos para que isso ocorra", afirma Davi Viana, diretor geral da Intuit no Brasil, que tem mais de 100 colaboradores e est� com a sede fechada desde o in�cio da pandemia.

A startup Nuvemshop, que � um marketplace para pequenos e m�dios varejistas, vai seguir o mesmo caminho. Para Santiago Sosa, presidente da empresa que saiu de 100 pessoas para mais de 600 colaboradores (sendo 300 no Brasil) durante a pandemia, trata-se de uma escolha individual.

"A vacina��o � bem importante, e vejo que a maioria vai se proteger para proteger o restante. Mas, como defendo as liberdades individuais, n�o vamos obrigar. Vamos apenas mostrar os v�rios benef�cios que a vacina��o tem", afirma. Empresas como Ticket e Mercado Livre tamb�m seguem esse padr�o.

Nos Estados Unidos, onde mais de 70% das pessoas com 12 anos ou mais j� se vacinaram, mas que come�a a sofrer com a prolifera��o da variante Delta, um grupo de empresas j� determinou a obrigatoriedade da vacina para a equipe. Entre as companhias que podem demitir colaboradores sem vacina est�o gigantes como Google, Netflix, McDonald�s, Uber, Apple e Facebook.

Toler�ncia zero

A Simpress quer seguir o mesmo caminho. De acordo com o presidente da companhia, Vittorio Danesi, trata-se de uma obriga��o dos funcion�rios. Ele, que pretende que 100% da sua for�a de trabalho, de 1,9 mil pessoas, j� esteja apta a trabalhar presencialmente no fim do ano, diz que ser� "toler�ncia zero" com quem n�o optar por tomar o imunizante.

"A regra � clara desde o in�cio. A Simpress vai ter toler�ncia zero. O desejo individual n�o pode prevalecer � sa�de do coletivo. Se a pessoa quiser ter um tratamento diferente da ci�ncia e n�o tomar a vacina, ser� demitida", afirma Danesi.

Juridicamente, os empregadores podem exigir que os funcion�rios tomem a vacina contra a covid-19. Como a vacina��o � uma medida de prote��o individual e coletiva ao mesmo tempo, o artigo 158 da CLT afirma que pode haver demiss�o de justa causa nesses casos.

"O empregador tem o dever legal de manter um ambiente sadio. A liberdade individual n�o � absoluta, pois o direito da coletividade se sobrep�e a ela. Entendo que, se existir a recusa do empregado (em vacinar-se) mesmo depois de a empresa fazer um informativo com vi�s educativo, isso poder� levar � demiss�o por justa causa", afirma Leonardo Jubilut, do escrit�rio Jubilut Advogados.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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