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Estado de Minas Reinven��o das nossas tradi��es

Encomendas do artesanato de Minas s�o renovadas e turistas retornam

Mestres da arte em madeira de Prados, na Regi�o Central do estado, t�m pedidos para os pr�ximos meses e os clientes come�am a voltar aos ateli�s e �s lojas


22/08/2021 04:00 - atualizado 22/08/2021 08:19

(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

''N�o tive folga e tenho encomendas para os pr�ximos quatro meses''

Jo�o Juli�o, escultor

Prados – O longo e tenebroso inverno de incertezas, baque na economia e fuga de turistas parecem ter chegado ao fim em destinos mineiros privilegiados em atrativos hist�ricos, primorosos na hospitalidade e donos de patrim�nio rico em arquitetura, gastronomia e artesanato. Na Regi�o do Campo das Vertentes, a cidade de Prados � um desses roteiros que recebem de volta os viajantes e oferecem a eles o seu melhor: a arte nascida das m�os e lapidada nas tradi��es.

Dono de n�mero expressivo de artes�os, o munic�pio com 9,5 mil habitantes apresenta na sede, na Vila Carassa e no distrito Vitoriano Veloso, mais conhecido como Bichinho, distante 12 quil�metros do Centro, um polo colorido de arte em madeira. Esculturas de animais em surpreendente movimento, imagens de santos, orat�rios, objetos utilit�rios e pe�as decorativas fazem a festa para os sentidos: tudo � bom de ver atrav�s das portas abertas para a cultura popular genu�na.

Na hist�ria do artesanato em madeira, h� um nome emblem�tico em Prados: Itamar In�cio de P�dua, o Itamar Juli�o, morto em 2001. “Tudo come�ou com ele”, conta o irm�o Jo�o de P�dua Lisboa, o Jo�o Juli�o, de 52 anos. Seguidor do of�cio, o escultor diz que n�o parou de trabalhar um s� dia durante a pandemia, e que tem encomendas para os pr�ximos quatro meses. “N�o tenho folga”, resume com satisfa��o e sem cansa�o.

O tradicional artesanato em madeira e a arte trabalhada no ferro, mais recente, ocupam o segundo lugar na gera��o de emprego e renda em Prados, depois das ocupa��es na avicultura. Cerca de 30% dos moradores, – em torno de 3 mil pessoas –, se encontram ligados direta ou indiretamente � atividade criativa.

“Antes da pandemia, est�vamos iniciando o cadastramento dos artes�os para conhecer melhor essa realidade. Esperamos continuar o trabalho t�o logo seja poss�vel, e fazer uma feira de artesanato”, informa o secret�rio municipal de Turismo e Cultura, Gilcimar de Andrade Santos. A meta � formar parcerias com institui��es estaduais e federais para dinamizar a atividade.

Na mira est� o Sebrae Minas, que, conforme sua dire��o, desenvolveu um projeto de capacita��o dos artes�os em design, produ��o e gest�o de neg�cios e est�mulo para acesso a novos mercados, incentivando a participa��o em feiras e eventos do segmento. A �ltima a��o foi em 2020, com rodada de neg�cios, no sentido de levar os artes�os para conversar com grandes redes varejistas e vender seus produtos.

Artes�o nascido em fam�lia dedicada ao setor, Gilcimar afirma ser comum haver v�rias pessoas trabalharem com a madeira num mesmo n�cleo familiar. “Aprendemos e come�amos cedo, l� pelos 15, 16 anos. A maioria, no entanto, se encontra na informalidade.” A estimativa � de que existam em torno de 180 estabelecimentos, entre lojas, ateli�s e espa�os no fundo das casas dedicados � elabora��o das pe�as, sendo 100 na sede municipal e 80 em Bichinho. O of�cio, portanto, � madeira de lei – forte em cultura, frondoso nas oportunidades e nobre para dar as boas-vindas aos turistas.

Diante do patrim�nio que exporta pe�as para estados do Sul ao Nordeste do Brasil e pa�ses como Israel, os moradores desejam ver Prados reconhecida como capital do artesanato em madeira, como ocorreu este ano com a cidade vizinha de Resende Costa, j� ostentando o t�tulo de Capital Estadual do Artesanato T�xtil. Al�m da visibilidade nacional, ser� um certificado da qualidade dos produtos.

(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

''Vendi para quem veio aqui e pela internet. Trabalhei o tempo todo''

Jo�o Tiago da Silva, escultor



Simp�tico e de conversa boa, Jo�o Juli�o est� totalmente entretido na pe�a que tem em m�os, quando a equipe do Estado de Minas chega ao ateli� instalado em dois c�modos pintados de amarelo, na estrada que liga Vila Carassa a Prados. Ele esculpe uma namoradeira, personagem simb�lica da regi�o, integrante do circuito Trilha dos Inconfidentes.

“Meu irm�o trabalhava muito, tem pe�a dele  at� na Pinacoteca de S�o Paulo”, orgulha-se Jo�o Juli�o, explicando que o sobrenome Juli�o vem do bisav�. O talento e o dom para o of�cio s�o “coisas de Deus”, mas, como nada cai do c�u, � preciso se devotar � fun��o de corpo e alma, pois “o servi�o rendendo traz satisfa��o”.

S�o 16h de uma tarde ensolarada, quando, com o macete e o form�o moldando a ma�aranduba, Jo�o Juli�o finaliza a namoradeira. E em tom de confid�ncia, revela que o melhor parte do trabalho surge da hora de pegar a madeira bruta e tirar as formas l� de dentro. “Aprendi com meu irm�o... olhando e prestando aten��o”.

Surpreendentemente, o artes�o confessa n�o ter parado de trabalhar nem um dia sequer durante a pandemia. “N�o tive folga e tenho encomendas para os pr�ximos quatro meses. Vendi muito, principalmente para S�o Paulo.” Mais tranquilo por ter tomado as duas doses da vacina contra o novo coronav�rus, Jo�o Juli�o mostra, num canto, tr�s esculturas de  macacos quase prontas para enviar a Rond�nia.

Para aguentar v�rias horas do dia sentado, ocupado com as ferramentas e a madeira, Jo�o Juli�o faz, diariamente, uma caminhada de 3 quil�metros. Mas, no trabalho, � dedica��o exclusiva, com alguns momentos para contemplar o c�u e dar asas � imagina��o. “Gosto de avi�es, de ficar olhando para eles l� no alto. Mas tenho medo, s� voei uma vez num bimotor, para nunca mais”, brinca. Se o artista transforma o sonho em beleza, pode tamb�m tocar o inalcan��vel: e foi assim que ele fez um avi�o com todos os detalhes e posicionado bem na frente dos seus olhos.

Sensibilidade faz morada 

Na Vila Carassa, a dois quil�metros do Centro de Prados, os irm�os Jo�o Tiago da Silva, conhecido como Tiago Carassa, e Jos� Augusto da Silva, o Guto, esculpem a madeira para ganhar a vida e encantar os visitantes. Com espa�os pr�prios, um diante do outro, ambos mant�m tradi��o familiar na arte. “N�o precisa chamar de ateli�, n�o, pode ser de barrac�o mesmo”, diz Tiago, de 38, com um jeito bem mineiro.

Finalizando uma leoa, pe�a de grande porte em cumaru, Tiago, pai de dois meninos de 15 e 10 anos, tamb�m n�o tem do que se queixar. Se no in�cio houve o susto geral com a pandemia, depois serenou. “Vendi para quem veio aqui comprar. Teve tamb�m a comercializa��o pela internet. Mas sei que trabalhei o tempo todo”, afirma. Os olhos curiosos vasculham o ambiente e encontram animais, a exemplo de uma on�a. Com certeza, vale o trocadilho de que a turma � mesmo “fera” no of�cio, sem perder a sensibilidade, que faz a diferen�a.

Para acolher visitantes,Bichinho prev� obras

Em 1ª viagem ao distrito, Gabriella Vieira, com Bruno Hudson, confessa que o casal se apaixonou pelo lugar histórico
Em 1� viagem ao distrito, Gabriella Vieira, com Bruno Hudson, confessa que o casal se apaixonou pelo lugar hist�rico (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
As estradas, principalmente as vicinais, que cortam o interior mineiro ainda sofrem de um s�rio problema: a falta de sinaliza��o. Ent�o vale a dica para o viajante: quem for do Centro de Prados a Bichinho, trajeto de 12 quil�metros, ou se aventurar em outras rotas de terra, deve ficar atento. Se ficar na d�vida, mesmo com GPS, o melhor � perguntar a algu�m para n�o se perder. O caminho mais usado pelos visitantes � passando por Tiradentes, dist�ncia de 3 quil�metros em estrada cal�ada, mas o distrito fica em Prados, localiza��o que muita gente ainda confunde.

Para facilitar a vida dos viajantes, h� algumas novidades. Est� previsto, pela administra��o municipal, o cal�amento do Centro de Prados at� Bichinho, e tamb�m a sinaliza��o do caminho, desta vez a cargo do Circuito Trilha dos Inconfidentes. “Estamos satisfeitos com a volta do turismo presencial, que j� est� crescendo. Eventos ainda n�o est�o em pauta, acreditamos que s� em 2022”, diz o secret�rio Gilcimar Santos.

Comércio de artesanato e gastronomia típica, já conhecida pelo frango com quiabo, se completa como principais atrativos
Com�rcio de artesanato e gastronomia t�pica, j� conhecida pelo frango com quiabo, se completa como principais atrativos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
O turismo retorna a Bichinho, onde a comida faz sucesso, principalmente o frango com quiabo e angu feito na hora. Em viagem de f�rias, o casal de Belo Horizonte Bruno Hudson, administrador, e Gabriella Vieira, publicit�ria, curtiu a gastronomia local e visitou o com�rcio de artesanato. Na loja do Vantuir de Figueiredo, os dois admiraram os pav�es feitos pelo escultor Ed�sio Moreira de Carvalho, os orat�rios e as imagens de santos. “Viemos de Ouro Preto...”, contou Hudson, enquanto Gabriella completou sobre a primeira vez em Bichinho: “...e estamos apaixonados por este lugar”.  


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