
N�o foi o caso na �ltima ter�a-feira, quando a cota��o do fruto n�o passava de R$ 1,40 na pedra, local usado por produtores para negociar com intermedi�rios. Quando chegou ao sacol�o, o mesmo chuchu passou a ser ofertado a at� R$ 2,99 o quilo e em alguns supermercados a dona de casa pagou R$ 3,49 pelo produto, mais de 63% acima da remunera��o paga ao produtor.
Das lavouras �s prateleiras do varejo, os alimentos sofrem reajustes em cascata, press�o que vem assustando os brasileiros desde o ano passado. O Estado de Minas acompanhou esse trajeto do cultivo, passando pelo atacado, ao destino final nos sacol�es e supermercados. A reportagem ouviu produtores e comerciantes sobre a lida na terra, os custos e valores negociados de ponta a ponta.
Em alguns casos, o consumidor pode pagar o triplo do pre�o que remunera os produtores no campo, em boa parte trabalhadores contando apenas com o seu suor nos cuidados di�rios com a planta��o e o esfor�o de suas fam�lias. Estima-se que os agricultores familiares sejam respons�veis por colocar 70% dos alimentos servidos � mesa no Brasil.

Com a disparada da infla��o da comida, os efeitos da crise h�drica, insumos mais caros nas planta��es e outros fatores que influenciam os pre�os, como o d�lar alto, as previs�es para os pr�ximos meses s�o de que alguns produtos devem encarecer 100% a partir de setembro. Parcela dos aumentos de v�rias hortali�as e frutas, que encareceram em julho nos entrepostos da Ceasa de todo o pa�s, v�o alcan�ar, agora, o varejo. Houve alta de pre�os para itens como mam�o, banana, uma das frutas mais consumidas no pa�s, e ma��.
Com varia��es nos sacol�es e supermercados de 35,98% e 13,32%, respectivamente, cenoura e tomate foram os itens que mais pressionaram, na Grande BH, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) deste m�s, pr�via da infla��o oficial do pa�s, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). As despesas com alimenta��o de bebidas subiram, em m�dia, de 0,14% em julho para 0,62% em agosto em BH e entorno, de acordo com o IBGE. A alta foi superior a quatro vezes de um m�s para o outro.
O produtor Edir Catarino Silva, de M�rio Campos, produz em sistema de meeiro, um contrato de parceria com o propriet�rio da terra para divis�o da produ��o ou lucros, com outros tr�s produtores, na Fazenda do Cap�o. Os frutos da colheita s�o acondicionados em caixotes, levados a um galp�o, no qual s�o submetidos a limpeza, sele��o e novamente encaixotados para ser comercializados na Ceasa Minas, em Contagem.

"Os valores variam no dia a dia e fica dif�cil manter a estabilidade do pre�o ao cliente"
Eli Pinto Junior, dono de restaurante
Catarino Silva reclama do pre�o dos insumos, como adubos e fertilizantes, que subiu na esteira da valoriza��o do d�lar frente ao real, j� que boa parte deles depende da importa��o. A dificuldade se combina � baixa remunera��o do chuchu na lavoura. Na ter�a-feira, o fruto podia ser encontrado por valores de at� R$ 2,99 em sacol�es, chegando aos R$3,49 em rede de supermercado de Belo Horizonte.
O br�colis comercializado pelo produtor a R$ 2,08 na Ceasa Minas, por sua vez, era ofertado a R$ 3,99 nos sacol�es e a R$ 6,59 na g�ndola de supermercado. Altamente sens�vel �s varia��es do clima, o produto leva em torno de 45 dias entre plantio e colheita e, em geral, dura por volta de 18 horas ap�s ser colhido.
Perdas e ganhos Fundamentais na produ��o de alimentos, as varia��es clim�ticas nem sempre s�o favor�veis. Tamb�m podem exigir mais aten��o e cuidados de quem trata a terra, semeia, cultiva e colhe diariamente, legumes, frutas e verduras. Na paisagem seca, caracter�stica do inverno, as variadas tonalidades de verde, em ret�ngulos bem-alinhados, chamam a aten��o de quem viaja pelas estradas e caminhos rurais dos munic�pios de M�rio Campos, Brumadinho, Sarzedo e Ibirit�. S�o cidades que, entre outros munic�pios, comp�em o cintur�o verde da Regi�o Metropolitana de BH, respons�vel pelo abastecimento, principalmente de verduras, da capital e de seus vizinhos.
Josinei Andrade Faria, de 30, tamb�m meeiro em M�rio Campos, acorda por volta das 4h, todos os dias, de domingo a domigo. Fa�a chuva ou sol. Do quarto �s hortas, leva 15 minutos no percurso para cultivar alfaces lisa, crespa e americana, al�m de br�colis, couve, agri�o e espinafre.
O produtor diz acompanhar cada oscila��o do clima, para que n�o haja perdas significativas. “No caso do br�colis, a melhor �poca de plantio � entre os meses de mar�o a junho, final do per�odo chuvoso.” Entre as folhosas, o que mais preocupa o agricultor � o agri�o. A verdura precisa ser regada com frequ�ncia. E n�o resiste um dia sem �gua. “� aten��o di�ria, ela morre se n�o mantiver a terra �mida. N�o tem fim de semana nem feriado.”
Andrade Faria comercializa, em sacol�es da Regi�o Metropolitana de BH e na capital, sua produ��o de dois tipos de alface, lisa e crespa, a R$ 15 a caixa com 36 p�s, algo em torno de R$ 0,41 por p�. O pre�o cobrado ao consumidor em sacol�es alcan�a R$ 1,99 a unidade e em supermercado atinge R$ 2,69.

Repasse complicado no pequeno com�rcio
Os ingredientes da salada ficaram mais caros para o comerciante Eli Pinto de Miranda Jr., de 48 anos, dono do Restaurante Cantina de Minas, no Bairro Ipiranga, Regi�o Nordeste de BH. O p� de alface que havia deixado a planta��o na Grande Belo Horizonte por R$ 0,41 foi adquirido, segundo ele, por R$ 3,98. “O mais grave � que os valores variam no dia a dia e fica dif�cil manter a estabilidade do pre�o dos pratos servidos ao cliente.”
Al�m dos efeitos da pandemia de COVID-19 sobre as vendas do com�rcio e do setor de presta��o de servi�os, repassar aumentos se torna uma tarefa arriscada para empreendedores de variados segmentos da economia, perante a perda do poder de compra do consumidor. O IPCA-15 avan�ou de 0,72% em julho para 0,89% neste m�s, maior varia��o medida nos meses de agosto em 19 anos no Brasil. Os pre�os dos alimentos tiveram alta de 1,02%, portanto se descolando da m�dia geral. O resultado do �ndice s� n�o foi pior do que o de agosto de 2002 (1%).
Produtor de cheiro-verde em terreno arrendado no munic�pio de Ibirit�, na regi�o metropolitana da capital, Jos� Carlos da Silva, de 68, produz cebolinha, salsa, hortel�, manjeric�o, alecrim e, algumas vezes, coentro.
A produ��o, que se estende por todo o ano, � comercializada pelo pr�prio agricultor em sacol�es e supermercados da regi�o de BH. Ele emprega em torno de 15 pessoas, entre a manuten��o da horta, os servi�os de amarra��o dos molhos e a embalagem.
Jos� Carlos enumera uma s�rie de dificuldades em continuar produzindo. “O pre�o do molho de cada uma das especiarias est� em torno de R$ 0,40. Com os insumos nas alturas, pre�o do veneno, do adubo e da m�o de obra somados, se apurar na ponta da caneta � pra parar de trabalhar”, reclama. Esses produtos s�o encontrados em sacol�es por valores m�dios variando de R$ 1,49 a R$ 1,69 nos supermercados.
Al�m dos insumos, as intemp�ries geram problemas. Em tempos de seca, a irriga��o precisa ser mais frequente. No ano passado, o produtor perdeu toda a sua planta��o ap�s chuvas de granizo, em duas ocasi�es. As sementes de cebolinha e salsinha, colhidas na pr�pria horta para replantio, precisaram ser compradas. Um quilo de semente da cebolinha foi adquirido por R$ 500, volume que permite produzir 2 mil molhos. Por�m, apenas 60% do plantio vingou, disse o produtor.
Vald�via Alves da Silva, de 49, produz de abobrinha italiana em Igarap�. “A abobrinha italiana est� na metade do pre�o, mant�m agora 60% do pico, que chegou a R$ 110 caixa de 20 quilos. Hoje (26/08) estou vendendo por R$ 50 (o equivalente a R$ 2,50 o quilo).”
O produto, de acordo com levantamento da Ceasa Minas, apresentou a maior varia��o de pre�os entre 1º e 25 deste m�s em rela��o ao mesmo per�odo de 25 dias em julho (44,6%).
Ainda na �ltima quinta-feira, nos sacol�es, o pre�o girava em torno de R$ 6,99 e superava a cota��o nos supemercados, de R$ 4,99 por quilo. (EG)