
Giannetti destaca que n�o h� "nenhuma perspectiva" de um crescimento econ�mico robusto no ano que vem, dado que as reformas prometidas por Guedes n�o foram feitas e o clima de incerteza pol�tica promovido pelo presidente Jair Bolsonaro afasta o investidor. A seguir, trechos da entrevista.
Houve uma mudan�a no humor do mercado neste m�s. Isso se deve a fatores internos ou o cen�rio global tamb�m dificulta?
Predominantemente � deteriora��o da situa��o dom�stica. J� est� bastante claro que o governo n�o tem proposta sequer para as reformas tribut�ria e administrativa. Quase n�o h� mais perspectiva de que alguma coisa relevante aconte�a. Estamos com um cen�rio de infla��o preocupante, que tem obrigado o Banco Central a conduzir um aperto da pol�tica monet�ria. Isso vai frear o n�vel de atividade no ano que vem. Por fim, h� uma amea�a cada vez mais concreta de uma guinada populista fiscal por parte do governo Jair Bolsonaro, � medida que ele fica acuado e que os horm�nios eleitorais come�am a funcionar de maneira mais exacerbada.
Como avalia a atua��o do ministro Paulo Guedes diante desse cen�rio?
A presen�a do Paulo Guedes no Minist�rio da Economia, que at� pouco tempo atr�s parecia uma salvaguarda em rela��o a uma aventura fiscal, j� n�o d� mais essa confian�a. Parece que o apego dele ao cargo � bem maior do que se imaginava e ele n�o teria grande restri��o ou mesmo firmeza para resistir - como ali�s n�o tem resistido - aos impulsos populistas do presidente. As atitudes do presidente, ali�s, n�o s�o novidade nenhuma, porque ele est� mostrando o que sempre foi. S� quem acreditou nele foi o ministro quando aceitou entrar nessa aventura.
O sr. acha que o ministro deveria deixar o governo ou ele ainda pode fazer alguma coisa?
O �ltimo resqu�cio que talvez justificasse a presen�a dele no governo seria manter o m�nimo de responsabilidade na pol�tica fiscal. Se ele continuar cedendo - como vem cedendo at� aqui - a todas as press�es e exig�ncias, que s�o crescentes, do governo e do Centr�o em rela��o � pol�tica econ�mica, n�o vejo mais nenhum sentido. Ali�s, j� n�o vejo nenhum sentido na continuidade dele h� um bom tempo. Ele j� se desmoralizou por completo e vai se desmoralizar ainda mais se continuar.
Em algum momento o sr. viu comprometimento do ministro com a agenda liberal que ele propagou?
Ele dizia que ia zerar o d�ficit prim�rio no primeiro ano do mandato, que ia privatizar R$ 1 trilh�o, que ia fazer reforma tribut�ria e reforma administrativa. N�o fez nada disso. Foi quase tudo ao contr�rio. A privatiza��o praticamente n�o andou. A aprova��o da reforma da Previd�ncia ocorreu muito mais por causa do protagonismo do Congresso. O que se montou no Brasil foi quase um estelionato eleitoral, e pode se chamar assim sem exagero. � lament�vel que boa parte do empresariado, em nome de evitar Lula a qualquer pre�o, mais uma vez tenha embarcado em uma aventura que est� custando muito caro para o Brasil e que p�e em risco a nossa democracia. N�o � a primeira vez que vejo esse enredo de que, contra Lula, vale qualquer coisa. Vimos isso na elei��o do Collor tamb�m.
Recentemente, houve manifesta��es de empres�rios contra posicionamentos do presidente. Acha que o empresariado est� desembarcando do governo?
A� tem havido uma certa injusti�a, porque os empres�rios minimamente l�cidos e informados nunca acreditaram nesse engodo chamado Jair Bolsonaro. Outra parte do empresariado que sempre foi chapa branca e oportunista, agora, muito tardiamente, est� come�ando a se dar conta de que n�s estamos indo por um caminho muito ruim e que estamos vivendo um enorme retrocesso nas mais diferentes dimens�es, que v�o da fiscal � ambiental, passando pelo crescimento econ�mico, pelo ambiente de neg�cios e praticamente por qualquer outro tema.
O governo est� com a popularidade em baixa em meio a uma pandemia. Isso est� antecipando a campanha eleitoral? Qual o risco para a economia?
Esse panorama antecipa a campanha eleitoral e amea�a a ordem institucional da democracia brasileira por dois canais. Um � o enfrentamento entre Poderes. Se voc� tiver uma situa��o em que uma decis�o de um poder soberano, o Judici�rio ou o Legislativo, n�o for acatada pelo Executivo, voc� estar� no meio de uma crise institucional grav�ssima. E n�s j� caminhamos para a vizinhan�a de situa��es desse tipo. O outro canal � o desespero de um poder que est� derretendo a olhos vistos levar o presidente a uma tentativa de excitar a opini�o p�blica de modo a provocar uma situa��o muito an�rquica e conflituosa, que lhe d� meios e legitimidade para algum tipo de Estado de emerg�ncia, para algum tipo de demanda de poderes extraordin�rios para estabelecer a ordem. � muito perigoso excitar uma popula��o que est� claramente polarizada, porque ela pode descambar para algum tipo de enfrentamento e descontrole da ordem p�blica, que cairia como uma luva para algu�m que tem um impulso autorit�rio, que nem o esconde.
Qual cen�rio o sr. est� vendo para a economia em 2022?
N�o h� nenhuma perspectiva de o Pa�s ter um crescimento satisfat�rio no ano que vem. O n�vel de investimento continua no piso hist�rico. A capacidade de investimento do setor p�blico est� comprometida. N�o criamos um ambiente de neg�cios institucional para infraestrutura. Com essa incerteza pol�tica e econ�mica, nenhum empres�rio vai querer comprometer recursos em investimento de longo prazo. Ent�o, a gente est� caminhando para, depois de uma pequena recupera��o c�clica (em 2021), um ano de crescimento baixo, que talvez mal alcance 2%.
E no panorama pol�tico?
O presidente j� declarou que n�o aceita outro resultado que n�o seja sua vit�ria eleitoral. Ele questiona a legitimidade do sistema eleitoral de antem�o, sem nenhuma evid�ncia e n�o muito diferente do que Trump tentou fazer nos EUA quando, ao ser derrotado, entrou com aquele discurso de que a elei��o tinha sido fraudada, sem nenhuma base ou evid�ncia. Isso levou � invas�o do Capit�lio, e o que se desenha por aqui � um enredo n�o muito diferente. Espero que tenha o mesmo desfecho de l�.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.