(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

'Infla��o ser� mais persistente do que prev� o mercado'

Economista-chefe do Credit Suisse no Brasil diz que isso ocorrer� porque in�rcia inflacion�ria, em que infla��o atual se reflete na futura, voltou a crescer


01/09/2021 08:05 - atualizado 01/09/2021 08:55

Alimentos estão ajudando a fazer o índice subir(foto: PxHere)
Alimentos est�o ajudando a fazer o �ndice subir (foto: PxHere)


A infla��o alta ser� mais persistente do que o mercado financeiro e o Banco Central est�o considerando, segundo Solange Srour. De acordo com a an�lise da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, isso ocorrer� porque a in�rcia inflacion�ria (processo em que infla��o atual se reflete na futura) voltou a crescer. "O mercado e o BC acreditavam que a in�rcia havia sido quebrada depois de a infla��o convergir para a meta em 2017 e 2018. Isso se mostrou errado. A in�rcia ainda � muito elevada e anda com a infla��o. Quando a infla��o come�a a subir muito, a in�rcia aumenta", disse ela ao Estad�o.

Um estudo recente do Credit Suisse mostra, inclusive, que desde 1999 a infla��o nunca havia surpreendido tanto o mercado quanto agora. O �ndice de "surpresa da infla��o" do banco alcan�ou 4,6% em julho. O n�mero � 1,1 ponto porcentual superior ao segundo mais alto da s�rie, os 3,5% registrados em janeiro de 2016. Confira, abaixo, trechos da entrevista.

Dadas as surpresas constantes na infla��o, por que o mercado ainda est� com uma expectativa relativamente baixa para a infla��o do ano que vem?

A infla��o deste ano est� sendo bastante surpreendente para o Banco Central e para o mercado. � a maior surpresa da hist�ria do regime de metas para a infla��o (instaurado em 1999). E � uma surpresa alta e persistente. Quando voc� tem uma surpresa por alguns meses consecutivos, teoricamente as pessoas deveriam se surpreender menos, mas isso n�o est� acontecendo. Outro fato � que o Focus (pesquisa feita pelo BC com bancos e consultorias para saber as expectativas do mercado) reage muito lentamente. Quando voc� pensa em proje��o para 12 meses, o mercado ainda acredita que a infla��o vai convergir para a meta no ano que vem. Ele n�o tem ajustado a expectativa. Isso mostra uma certa in�rcia do Focus e do mercado. As expectativas no Focus est�o demorando para se mexer, e s�o essas expectativas que o Banco Central foca. Mas � quest�o de tempo para o Focus come�ar a subir as expectativas para 2022. O choque no pre�o da energia vai aumentar significativamente a infla��o neste ano e, pela in�rcia inflacion�ria, deve come�ar a afetar os pre�os no ano que vem. Mas tem outra vari�vel importante para o ano que vem, o c�mbio. O mercado agora est� muito estressado com a quest�o dos precat�rios e do Bolsa Fam�lia. O mercado espera hoje uma solu��o menos pior para esses pontos.

Qual o impacto das crises pol�tica e fiscal nessas surpresas na infla��o?

Pelos fundamentos da economia e pela valoriza��o das commodities, a taxa de c�mbio deveria estar mais apreciada. Ent�o, tem um pr�mio de risco, sim, ligado � incerteza pol�tica e fiscal. Quando a pandemia come�ou, a taxa de c�mbio depreciou bastante, porque a avers�o ao risco aumentou globalmente. Todas as moedas depreciaram. O real foi a moeda que ficou mais depreciada por mais tempo. Isso est� relacionado ao fiscal, � d�vida em rela��o � manuten��o do teto. A� o c�mbio influencia a infla��o. � claro que isso surpreendeu o mercado e o BC tamb�m. Quando o BC jogou a Selic (a taxa b�sica de juros) para baixo, imaginou que a deprecia��o do c�mbio seria tempor�ria. O que acabou n�o ocorrendo. Mas eu diria que essa n�o � uma surpresa do m�s a m�s. A surpresa do c�mbio aparece no m�dio prazo. J� essa surpresa que aparece m�s a m�s est� relacionada � pandemia, � quebra de cadeia produtiva que ningu�m conseguiu prever. Isso est� se prolongando. Outro ponto que explica essa surpresa � a in�rcia inflacion�ria. O mercado e o BC acreditavam que a in�rcia inflacion�ria da economia tinha sido quebrada depois de a infla��o convergir para a meta em 2017 e 2018. Isso se mostrou errado. A in�rcia ainda � muito elevada e anda com a infla��o. Quando a infla��o come�a a subir muito, a in�rcia aumenta.

Por que isso ocorre?

Como a infla��o est� se mantendo alta por muito tempo, as pessoas come�am a tentar se adaptar a esse ambiente. O empres�rio tenta recompor sua margem aumentando os pre�os. Os funcion�rios barganham sal�rios maiores. Todo mundo come�a a projetar que o futuro vai ser parecido com o momento atual, de infla��o alta. Com o choque inflacion�rio, logo depois de abril do ano passado, quando as surpresas come�aram a aparecer, a in�rcia virou rapidamente. Com a infla��o acumulada pr�ximo a 9%, � natural esperar que a in�rcia aumente. Foi um erro apostar que ela tinha se quebrado estruturalmente.

Qual ser� o impacto dessa infla��o mais alta do que o esperado na economia?

H� dois canais aqui. O juro vai ter de ir para um patamar mais restritivo para levar a infla��o para a meta e ter� de ficar mais alto por mais tempo. Isso impacta no crescimento. Outro lado � que o consumidor perde poder de compra. Se a economia estiver crescendo, esse poder de compra � reposto, e a infla��o n�o � um grande problema. Mas, com a economia come�ando a desacelerar porque o juro de longo prazo j� est� mais alto devido �s incertezas eleitoral, pol�tica e fiscal, o poder de compra pode ser corro�do de maneira mais forte. Isso tamb�m freia a economia. Por isso, baixamos nossa expectativa de crescimento para 2% no ano que vem e ainda achamos que o vi�s � de baixa.

Como voltar a uma in�rcia menor?

O Banco Central ter� de continuar apertando juros. Essa � a maneira mais direta de controlar a expectativa. Se os agentes perceberem que o Banco Central n�o est� mirando a meta, todo mundo aumenta a expectativa de infla��o. Agora, o BC vai precisar da ajuda do fiscal. Se o fiscal n�o estiver ancorado e o BC sobe o juro, tendo 40% da d�vida atrelada � Selic, isso come�a a gerar temor de domin�ncia fiscal (quando o aumento do pagamento do juro da d�vida agrava o desequil�brio fiscal, o que afugenta investidores, deprecia o c�mbio e eleva, novamente, a infla��o). O BC, portanto, n�o vai conseguir fazer o trabalho sozinho.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)