Essencial no dia a dia de fam�lias e empresas, um grupo de produtos do setor de energia est� corroendo a recupera��o da economia. Os pre�os da energia el�trica, da gasolina e do �leo diesel deram um salto no fim do ano passado e, desde ent�o, n�o param de subir. Em julho, eles foram os principais respons�veis pela infla��o, segundo o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) - �ltimo divulgado pelo IBGE. O cen�rio vislumbrado para 2022 � ainda mais preocupante, segundo especialistas, principalmente diante da crise energ�tica e da perspectiva de reajustes que impactam a conta de luz.
"O cont�gio da alta dos pre�os da energia el�trica e dos combust�veis � amplo na economia. � dif�cil de medir porque muitas vari�veis influenciam, como a concorr�ncia e a press�o nos custos. Mas uma certeza n�s temos: o impacto � muito maior do que o materializado no or�amento familiar e na infla��o", diz Andr� Braz, coordenador adjunto do �ndice de Pre�os ao Consumidor, da Funda��o Get�lio Vargas (FGV).
A energia el�trica � usada pela ind�stria e tamb�m pelas empresas prestadoras de servi�o. A ind�stria automobil�stica, por exemplo, utiliza muita energia em seus rob�s para montar os carros. "Se a energia fica mais cara, a ind�stria aumenta o seu custo e uma parte disso vai para o pre�o final. A mesma coisa acontece com o combust�vel", afirma Braz. Ele lembra que o �leo diesel movimenta a frota dos caminh�es que trazem os produtos para os centros urbanos. O combust�vel movimenta tamb�m os �nibus urbanos, que transportam as pessoas para o trabalho.
Entre todos os produtos do grupo de energia, a gasolina e o diesel s�o, atualmente, os grandes vil�es de pre�os, com altas de 39,65% e 36,35%, respectivamente, no per�odo de 12 meses at� julho deste ano. Nesse intervalo de tempo, os dois combust�veis se valorizaram mais do que o fil� mignon (33,56%), considerado um produto de luxo. J� a eletricidade aumentou 20,09%, maior alta desde setembro de 2018.
"A press�o dos pre�os desse grupo de produtos funciona como um imposto, porque afeta todo mundo. Por enquanto, h� acesso a cr�dito. As pessoas est�o pegando dinheiro emprestado para manter as contas em dia. Mas, no ano que vem, a inadimpl�ncia tende a crescer e a�, sim, podemos perder bastante", diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC).
Na ind�stria, a alta dos pre�os, especialmente da energia el�trica, pode comprometer os planos de recupera��o ap�s um per�odo cr�tico em raz�o da pandemia de covid-19. O setor estava retomando os n�veis de produ��o de 2013, quando foi pego pela crise h�drica e pela alta da tarifa de eletricidade.
"A principal preocupa��o � o aumento de custos, repassado para o pre�o dos produtos. Isso diminui a demanda. Por isso, pode afetar a retomada da economia e a recupera��o da produ��o e do emprego industrial", afirma Paulo Pedrosa, presidente da Associa��o Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres.
Margem menor
Gustavo Cardoso, s�cio da f�brica DM Vidros, no interior de S�o Paulo, conta que j� tinha energia contratada a um pre�o mais baixo para todo o ano de 2021. Mas vai ser obrigado a comprar novo suprimento para o ano que vem, justamente neste momento de sobrevaloriza��o do megawatt-hora (MWh). Na tentativa de conseguir um pre�o melhor, tem apresentado uma proposta de contrata��o num prazo maior, at� 2025. Mesmo assim, n�o tem tido muito sucesso nas negocia��es.
"Vamos reduzir a margem, porque n�o conseguimos repassar o aumento de custo para nossos clientes. Tivemos de mudar nossa estrat�gia no curto prazo. Com o combust�vel mais caro, fomos obrigados tamb�m a priorizar os clientes mais pr�ximos", disse ele.
No or�amento das fam�lias, al�m da eletricidade e dos combust�veis automotivos, tem pesado o pre�o do g�s de cozinha, que, em algumas cidades, j� custa mais de R$ 100. O botij�o de g�s ficou 29,29% mais caro no per�odo de 12 meses at� julho, segundo o IPCA. Essa � a maior alta registrada desde maio de 2003. Como consequ�ncia, est� subindo tamb�m a infla��o do carv�o vegetal (6,64%), utilizado por fam�lias mais pobres para cozinhar, principalmente, quando o pre�o do botij�o de g�s sobe.
A valoriza��o do botij�o afeta, por exemplo, trabalhadores que recorreram ao com�rcio de refei��es para sobreviver � crise. Andr� Lu�s Silva vende quentinhas em cal�adas no centro do Rio. Neste ano, come�ou a perder dinheiro com combust�vel. Duas vezes por semana, ele pega carona com um amigo para trabalhar.
O lucro diminuiu tamb�m com a alta do g�s de cozinha. "Cheguei a ficar sem trabalhar porque n�o tinha dinheiro para o comprar o g�s. Tive de pegar emprestado com o vizinho para poder fazer dinheiro", disse Silva.
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
ECONOMIA