Diferentemente de muitos segmentos da economia que sucumbiram � pandemia de forma implac�vel, o setor de tecnologia da informa��o (TI) registra uma trajet�ria de alta. Enquanto a economia como um todo ficou estagnada, com retra��o de 0,1% no segundo trimestre, a atividade de informa��o e comunica��o, que abriga o setor de TI no Produto Interno Bruto (PIB), cresceu 5,6% sobre o primeiro trimestre, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
Em junho, a atividade dos servi�os de tecnologia da informa��o estava 27,8% acima do patamar pr�-pandemia, com reflexos positivos na gera��o de empregos. No primeiro semestre, foram abertos 107 mil postos de trabalho na �rea, incluindo servi�os de telecomunica��es, conforme a Brasscom, associa��o empresarial do setor.
Dados desagregados da Sondagem de Servi�os de agosto, da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), obtidos pelo Broadcast/Estad�o, apontam para a continuidade do cen�rio positivo.
A alavanca para a alta do segmento est� no com�rcio eletr�nico e no trabalho remoto, quando fam�lias e empresas passaram a gastar mais com tecnologia, incrementando a demanda.
O subsetor de telecomunica��es e tecnologia da informa��o chegou a agosto com o maior patamar de confian�a entre todas as atividades do �ndice de Confian�a de Servi�os (ICS) da FGV, aos 106,0 pontos, acima do resultado geral, de 99,3 pontos. O indicador de emprego previsto, um dos componentes do ICS, tamb�m � mais elevado no desagregado para o subsetor de telecomunica��es e tecnologia da informa��o, aos 117,5 pontos, em uma escala de 1 a 200.
Os servi�os de tecnologia da informa��o puxam o movimento, na frente das telecomunica��es, segundo Rodolpho Tobler, respons�vel pela Sondagem de Servi�os da FGV. Desde outubro do ano passado, h� mais empres�rios prevendo novas contrata��es do que demiss�es nesse subsetor. "Esse segmento � o que est� com a confian�a mais alta no setor de servi�os e tem dado uma sinaliza��o de que ainda pode melhorar nos pr�ximos meses", diz Tobler.
Para especialistas e executivos, a pandemia acelerou um movimento que j� vinha de antes. Nas duas primeiras d�cadas do s�culo, as big techs - como Google, Facebook, Microsoft e Apple - atropelaram conglomerados tradicionais - como as petroleiras Exxon e Shell e a rede de supermercados Walmart - nos rankings de companhias mais valiosas do mundo, marcando a ascens�o do setor de tecnologia na economia.
Segundo S�rgio Gallindo, presidente da Brasscom, embora ningu�m tenha "nada o que festejar com a pandemia", a crise teve efeitos "em linha com a era digital", como o incentivo ao trabalho remoto, que favoreceu ferramentas de comunica��o j� dispon�veis. Se a covid-19 tivesse atingido o mundo h� cinco anos, talvez "as redes de celular n�o estariam capacitadas" para permitir essas mudan�as, diz Gallindo. Com a combina��o de nova cultura corporativa e condi��es tecnol�gicas adequadas, parte das mudan�as tende a ser permanente.
"As empresas que atuam nesse segmento acabam se beneficiando do surgimento de novos neg�cios, notadamente a parte de fornecimento de aplicativos de videoconfer�ncia e armazenamento de dados em nuvem", diz Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Servi�os (PMS), do IBGE.
Reuni�es online
Antes da pandemia, em dezembro de 2019, as reuni�es online da plataforma de videoconfer�ncias Zoom tinham 10 milh�es de participantes por dia. Em abril de 2020, o n�mero saltou para 300 milh�es. No Brasil, o n�mero de usu�rios gratuitos cresceu 31 vezes, segundo Alfredo Sestini, chefe do Zoom para a Am�rica Latina. "Pelo que converso com outras empresas e executivos, � uma mudan�a cultural com a pandemia. A forma de trabalhar, de pensar, de viver ser� diferente."
Tamb�m cresceu a demanda por softwares de gest�o, ferramentas de seguran�a cibern�tica e marketing digital, al�m de aplicativos e sistemas para o com�rcio eletr�nico. Tradicional no desenvolvimento de sistemas de gest�o para o varejo, a Totvs j� vinha se preparando para oferecer mais servi�os a seus clientes antes da pandemia.
Quando a crise se instalou, viu crescer a demanda de empresas por digitaliza��o de suas opera��es, diz o presidente da empresa, Dennis Herszkowicz. No segundo trimestre, a receita l�quida foi de R$ 763 milh�es, 22% acima de igual per�odo de 2020. No primeiro semestre, a companhia, que tem em torno de 10 mil funcion�rios, contratou 300 profissionais, para dar conta do crescimento.
A Locaweb tamb�m correu para diversificar os servi�os oferecidos para al�m da hospedagem de sites na internet, de olho na demanda de pequenos e m�dios varejistas que foram impelidos a apostar no com�rcio eletr�nico. Segundo o presidente da empresa, Fernando Cirne, o objetivo � oferecer solu��es para permitir ao cliente criar toda a estrutura de com�rcio eletr�nico em poucos dias. O executivo acredita que a demanda seguir� em alta - mesmo ap�s contratar 425 funcion�rios em 2020, e outros 494 este ano, a Locaweb tem 246 vagas em aberto, informa a empresa.
"A penetra��o do com�rcio eletr�nico no Brasil era de 8%, muito baixo em rela��o aos EUA e a China", diz Cirne, acrescentando que a corrida para o segmento evitou a fal�ncia de muitos neg�cios.
Ritmo de forma��o de profissionais n�o d� conta da demanda
O macrossetor de tecnologia da informa��o e comunica��o (TIC, que inclui servi�os de telecomunica��es, �rea de tecnologia de empresas de outros setores e a ind�stria fabricante de equipamentos) pode empregar menos do que outras atividades, como constru��o civil, com�rcio ou servi�os em geral (bares, restaurante e sal�es de beleza, entre outros), mas tem perspectiva de abertura de oportunidades nos pr�ximos anos.
Estudo de 2019 da Brasscom, associa��o empresarial do setor, estima que, desde aquele ano at� 2024, ser�o gerados em torno de 420 mil novos postos de emprego nessas atividades, uma m�dia simples de 70 mil ao ano. S� que os cursos superiores voltados para a �rea (como an�lise de sistemas e engenharia da computa��o) formam 46 mil alunos por ano, o que fomenta a disputa das empresas pelos melhores profissionais.
"Todos os altos executivos dizem que n�o contratam mais porque n�o h� profissionais talentosos dispon�veis. N�o � um apag�o de m�o de obra, mas � um estresse", diz o presidente da Brasscom, S�rgio Gallindo.
Segundo o representante do setor, a oferta de profissionais, aparentemente, tem sido suprida por trabalhadores formados em outras �reas que buscam cursos e treinamento para se especializar em tecnologia da informa��o. Diversas empresas do setor relatam investimentos em treinamento. A Locaweb, por exemplo, vai criar uma unidade para cuidar do assunto.
"Tem uma quantidade enorme de vagas em aberto com um tempo de preenchimento maior do que gostar�amos", afirma o presidente da Totvs, Dennis Herszkowicz.
Conforme c�lculos da Brasscom com dados oficiais de emprego monitorados pelo governo federal, em maio o sal�rio m�dio do setor TIC era de R$ 4.047 por m�s, o dobro da m�dia nacional, de R$ 1.968.
Executivos do setor cobram uma melhora geral no sistema de ensino do Pa�s, com destaque para o refor�o no curr�culo voltado para tecnologia, mas, para Gallindo, da Brasscom, � poss�vel avan�ar com medidas pontuais. Os cursos universit�rios, por exemplo, podem ajustar seus curr�culos para atender �s necessidades das empresas e um refor�o nas pol�ticas de financiamento ao ensino superior poderia reduzir a desist�ncia ao longo da gradua��o.
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
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