
No m�s, o recuo foi maior, de 3,78%. Especialistas apontam que a instabilidade das bolsas dos Estados Unidos, a alta no d�lar e a escalada da infla��o no pa�s devem colaborar para manter o sobe e desce do mercado dom�stico de a��es e deixar os operadores com alerta redobrado.
- Mercado prev� nova alta da infla��o e Selic a 8%
O �ltimo feriado, citado por Zanlorenzi, foi marcado por discursos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). O mercado financeiro reagiu com queda de 3,78% no Ibovespa no dia seguinte. Bolsonaro se reuniu com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e redigiu uma carta em tom pacificador, que trouxe um otimismo tempor�rio para os investidores e fez a Bolsa subir 2% na quinta-feira, mostrando recupera��o parcial do tombo do dia anterior. Contudo, na sexta-feira, a B3 voltou fechar em queda de quase 0,93%.
D�vidas
"A carta trouxe um pouco de probabilidade de avan�o das agendas em Bras�lia, cruciais para a tomada de risco aqui no Brasil", pontua o analista do BTG. Para ele, o otimismo durou pouco, ap�s Bolsonaro afirmar que n�o estava "recuando" das suas afirma��es nas manifesta��es. "No resumo da �pera, o mercado entende que decis�es complexas precisam de alinhamento entre os Poderes. E a percep��o foi de que esse alinhamento ficou mais dif�cil, colocando muita d�vida entre os investidores. O p�nico criado na quarta-feira se dissipou, mas, logicamente, as dificuldades de avan�o das agendas continuam", afirma Zanlorenzi.
�tore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que � natural que o restabelecimento da confian�a no cen�rio de investimentos seja mais vagaroso do que a sua destrui��o. "O mercado reagiu muito mal e demorou um pouco para anular os efeitos que foram causados", destaca. Na avalia��o de Sanchez, n�o houve p�nico no mercado, apenas uma reprecifica��o das possibilidades. "A principal preocupa��o � que essa rusga entre judici�rio e executivo impacte o legislativo. O Brasil precisa aprovar reformas, como as de privatiza��es, para que possa ter melhor capacidade fiscal. Mas a possibilidade hoje � m�nima de a gente ter um avan�o robusto quanto a isso", diz.
Para Caique Coutinho, especialista em renda fixa da Velha Investimentos, um dos principais problemas que assolam o mercado financeiro, hoje, al�m dos ru�dos pol�ticos, � a persist�ncia da infla��o. Divulgado na �ltima quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto registrou aumento de 0,87% em compara��o com julho - dado acima das proje��es dos investidores - e acendeu mais um alerta no mercado. Com o novo resultado, a infla��o oficial acumula alta de 9,68% em 12 meses, aumentando a press�o sobre o Banco Central para elevar a taxa b�sica de juros (Selic), atualmente em 5,25%, a fim de conter essa alta dos pre�os que est� persistente e bastante disseminada.
Ainda na quinta-feira, os juros negociados nos Dep�sitos Interfinanceiros (DI) saltaram quase meio ponto percentual, fechando as taxas em 7,4% ao ano nos contratos com vencimento em janeiro de 2022. Nos contratos para 2023 e 2025, o ajuste foi ainda maior, para 9,375% e 10,45%, respectivamente. O reajuste � equivalente �s proje��es de 10% at� 2024 que os agentes de mercado esperam para a Selic.
O aumento dos juros, segundo Coutinho, tem tornado o mercado de renda fixa mais atrativo para parte dos investidores. "A alta infla��o e a necessidade de elevar os juros para conter o aumento dos pre�os tornam os investidores avessos ao risco e eles migram para a renda fixa, que est� favor�vel, com as taxas sendo indexadas para cima, assim como a infla��o", avalia.
Paci�ncia
Se, para alguns investidores da Bolsa, a crise � motivo de inseguran�a, para quem tem sangue frio e paci�ncia, o mercado de a��es pode ser uma oportunidade, segundo Zanlorenzi. "Nesses momentos de grandes estresses, investidores acabam tomando decis�es emocionais e n�o racionais, e aqueles que t�m mais sangue frio conseguem aproveitar melhor as oportunidades", diz o especialista da BTG Pactual Digital. Ele explica que a oportunidade surge no momento em que aqueles investidores que entram no "modo p�nico" passam a vender os ativos a qualquer pre�o. "Quem olha com olhar mais matem�tico acaba tendo um bom resultado. Eu sempre falo que, no momento de p�nico, a melhor decis�o � n�o fazer nada. Nessa situa��o, n�o fazer nada � fazer muita coisa", refor�a.
Olhar matem�tico e paci�ncia � o que n�o falta para o servidor aposentado Altair Gon�alves, 59 anos. Ele investe na Bolsa desde 2007 e busca n�o se apavorar com o sobe e desce ao sabor das not�cias, mas ressalta que, em momentos barulhentos, como o atual, "a Bolsa � algo para investir aquilo que sobra um pouco. N�o � para investir o leite das crian�as, o dinheiro que voc� precisa, pois � de risco", alerta.
Altair conta que, ap�s o aumento recente das incertezas pol�ticas e fiscais, realizou algumas movimenta��es na Bolsa, mas, em nenhum momento, pensou em retirar o dinheiro de l� para aplicar em outro tipo de mercado, como o de renda fixa. "Eu segurei algumas a��es que j� estavam em queda e, na quarta-feira, como o tombo foi quatro vezes maior do que se eu tivesse vendido no in�cio, ao observar a tend�ncia, vendi mesmo assumindo o preju�zo para aplicar em outras empresas que acredito serem mais vantajosas", explica o morador de Vicente Pires, no Distrito Federal.
O investidor da bolsa, que j� teve uma experi�ncia frustrante por n�o ter sido mais paciente, diz que n�o comete esse erro novamente. "Eu comprei a��es de uma companhia a R$ 70 com a inten��o de vender quando chegasse a R$ 90. Mas, quando o papel ficou perto do valor que eu queria, come�ou a cair e foi at� a R$ 32, devido a boatos envolvendo donos da empresa. N�o vendi, pois estava focado nos R$ 90. Quando chegou ao valor que eu queria, depois de dois anos, tive um lucro de R$ 20 mil. Esse foi meu erro. Mais dois anos se passaram, e a mesma a��o passou a valer R$ 4 mil. Eu teria lucrado mais de R$ 4 milh�es", relembra.

Garimpo de a��es
T�o importante quanto a paci�ncia, � preciso fazer uma an�lise das tend�ncias para saber investir na Bolsa de Valores, segundo o respons�vel pela mesa de a��es e derivativos do BTG Pactual Digital, Jerson Zanlorenzi. "A paci�ncia funciona quando n�o h� um problema estrutural, ou pode acabar se tornando equivocada", diz o especialista, ao lembrar de um investidor que segurou a��es do grupo do empres�rio Eike Batista, at� a fal�ncia. "N�o d� para falar que esse cara foi paciente e posicionado. Nesse caso, quem saiu primeiro preservou o capital", afirma.
Tamb�m investidor da Bolsa, o m�dico cearense Luan Cavalcante Marques, 30 anos, afirma que viu na queda da semana passada uma oportunidade de investimento. "Fiz boas compras de a��es de empresas s�lidas, como o Magazine Luiza, a Vale, o Ita� Unibanco e a Petrobras", afirma. Ele acredita que, a curto prazo, ainda haver� grande volatilidade em raz�o da crise pol�tica e econ�mica no Brasil. "Existe uma apreens�o muito grande quanto � situa��o pol�tica no pa�s, que vem afastando muitas pessoas do mercado de a��es, que migram para a renda fixa. Mas, a m�dio e longo prazos, acredito numa boa recupera��o, com bons retornos aos investidores mais pacientes", pontua.
Caique Coutinho, especialista em renda fixa da Velha Investimentos, explica que, enquanto quem investe na renda fixa busca mais prote��o, o acionista da Bolsa quer rendimentos maiores mesmo em um mercado muito mais vol�til e inseguro. "Na Bolsa, o investidor vira acionista da empresa, e a tend�ncia a longo prazo � que o retorno de ativos de renda vari�vel seja maior que o de renda fixa", resume.
Hist�rico de quedas
Uma queda na Bolsa de Valores de S�o Paulo (B3) como a da �ltima quarta-feira (8) n�o era vista desde mar�o deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condena��es do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), tornando-o eleg�vel. Na ocasi�o, a Bolsa tamb�m despencou quase 4%. Mas a Bolsa teve tombos maiores em seu hist�rico. No in�cio da pandemia causada pela covid-19, em mar�o de 2020, o �ndice Bovespa (IBovespa) chegou a desabar 40% no m�s, e 18,8% em uma �nica semana. O indicador fechou o ano de 2020 com alta anual de 2,92%, abaixo da infla��o oficial de 4,52%.