A piora do quadro econ�mico, com aumento da infla��o e um risco pol�tico elevado, tem feito economistas de institui��es financeiras reduzirem as proje��es de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e o ano que vem.
Ap�s o resultado abaixo do esperado do PIB do segundo trimestre, o Ita� Unibanco reduziu nesta ter�a-feira sua expectativa de crescimento da atividade em 2021, de 5,7% para 5,3%. Diante do cen�rio de juros mais elevado, o banco tamb�m diminuiu a proje��o para 2022, de 1,5% para 0,5%.
O Ita� avalia que o risco fiscal tem aumentado com a perspectiva de aumento de gastos p�blicos e, se o materializado, traria efeitos negativos para a economia. O banco observa que o crescimento inesperado dos gastos com precat�rios dificulta os planos de conciliar um aumento do Bolsa Fam�lia e a manuten��o da �ncora fiscal no Pa�s.
Em relat�rio publicado nesta ter�a, o Ita� Unibanco tamb�m elevou suas proje��es da taxa Selic -- a taxa de juros b�sica do Pa�s -- no fim de 2021, de 7,5% para 8,25%, e de 2022, de 7,5% para 9,0%, devido ao cen�rio de infla��o mais pressionado. O banco tamb�m elevou sua proje��o do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, de 7,70% para 8,40%, e do pr�ximo, de 3,90% para 4,20%. O indicador mede a infla��o oficial do Pa�s.
"A situa��o h�drica gera press�o adicional sobre a infla��o corrente, via aumento das contas de luz, e tamb�m sobre a din�mica de pre�os do ano que vem, atrav�s da in�rcia resultante de um IPCA mais elevado e do risco de novas medidas que visem � redu��o do consumo de eletricidade. Adicionalmente, as d�vidas sobre a trajet�ria das contas p�blicas, em especial no que diz respeito ao cumprimento do teto de gastos em 2022, resultam em press�o mais duradoura sobre a taxa de c�mbio, que deve apreciar um pouco menos do que esper�vamos anteriormente", escreve o economista-chefe do Ita�, Mario Mesquita, em relat�rio.
O banco espera tr�s aumentos de 1 ponto porcentual da Selic, de setembro a dezembro, e uma �ltima alta de 0,75 ponto no in�cio de 2022.
A deteriora��o das perspectivas para a infla��o piorou o quadro econ�mico e causou uma s�rie de revis�es no cen�rio tamb�m do banco BV (ex-Banco Votorantim). A proje��o para o IPCA saltou de 7,7% para 8,2% em 2021 e de 3,6% para 3,8% em 2022. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, por sua vez, recuou de 1,8% para 1,5%.
"T�nhamos a vis�o de que o d�lar e as mat�rias-primas geravam choques tempor�rios, mas mudamos a leitura a partir dos dados recentes de infla��o", afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani. "A infla��o de servi�os acelerou pela reabertura, mas a de bens industriais continuou pressionada. Esse ac�mulo de choques jogou o IPCA em um patamar pr�ximo de 10%, e o n�vel importa."
A infla��o acumulada no patamar atual, segundo Padovani, refor�a os reajustes de contratos e gera uma in�rcia que contamina as expectativas para 2022 e 2023. Como a deteriora��o inflacion�ria deve exigir mais do Banco Central (BC), o BV elevou de 7,5% para 9,0% a proje��o da Selic no fim do ciclo. A taxa de juros deve chegar a 8,5% no fim deste ano e atingir o patamar estimado na primeira reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) em 2022.
"O BC vai ter que subir os juros at� 9,0%. O ritmo ele escolhe. Esse aperto monet�rio vai ser refor�ado por uma piora nas condi��es financeiras, que nos fez mudar o cen�rio de crescimento em 2022 [de 1,8% para 1,5%]", afirma o economista.
Mesmo com a rea��o da pol�tica monet�ria para conter o avan�o dos pre�os, Padovani prev� dificuldades no processo de desinfla��o em 2022. Apesar de a alta dos juros moderar varia��es cambiais, deve haver um aumento do risco nos mercados emergentes e tamb�m no mercado local, em fun��o do ciclo eleitoral. Al�m disso, a expectativa � de manuten��o dos desequil�brios entre oferta e demanda, principalmente no setor industrial, ainda afetado pelos problemas na cadeia global.
A crise h�drica, por sua vez, segue no radar. Com a tend�ncia de continuidade do fen�meno La Ni�a, a previs�o � de menos chuvas no per�odo prop�cio a elas, algo que implica em uso das termel�tricas por mais tempo. "Isso impede uma defla��o na energia el�trica. Na melhor das hip�teses, os pre�os v�o ficar onde est�o", projeta o economista.
Risco fiscal elevado
Outra institui��o que reviu suas proje��es nesta ter�a � a XP Investimentos. Os analistas da corretora elevaram a sua proje��o de taxa Selic no fim do ciclo de 7,25% para 8,5% devido � press�o persistente e disseminada observada na infla��o corrente e a incertezas fiscais. A corretora prev� aumentos de 1,0 ponto porcentual dos juros em setembro e outubro, seguidos por uma alta de 0,75 ponto em dezembro e de um ajuste de 0,5 ponto no in�cio de 2022.
Em apresenta��o de relat�rio mensal, o economista-chefe da XP, Caio Megale, afirmou que o risco fiscal e a infla��o mais disseminada foram os principais vetores de revis�o do cen�rio. Diante da incerteza criada pela tramita��o da Proposta de Lei Or�ament�ria Anual (PLOA) de 2022 e da quest�o dos precat�rios, a corretora aumentou a sua proje��o de d�lar no fim de 2021, de R$ 4,90 para R$ 5,20, e no fim de 2022, de R$ 4,90 para R$ 5,10.
"A gente tem um Or�amento no Congresso que n�o para de p�, vai precisar ser ajustado inclusive com aquela altera��o do tema dos precat�rios e uma tramita��o com esse grau de complexidade, �s v�speras de um ano eleitoral e com um ambiente pol�tico como estamos vivendo � sempre um risco para o arcabou�o fiscal", disse Megale.
A XP manteve suas proje��es de infla��o em 2021 (8,40%) e 2022 (3,70%), citando o desemprego elevado e baixo crescimento da massa real de renda como respons�veis por limitar a demanda por servi�os no ano que vem e conter a in�rcia. A corretora tamb�m espera al�vio dos pre�os de energia el�trica e desacelera��o de bens industriais e alimenta��o no ano que vem.
Na esteira do aumento da incerteza e dos juros altos, al�m do aumento de custos causado pela crise h�drica no Pa�s, a XP reduziu a proje��o de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, de 1,7% para 1,3%. Para 2021, a estimativa de expans�o de 5,3% do PIB foi mantida.
Recess�o t�cnica n�o � descartada
Segundo a XP, o principal risco no seu radar para 2022 � a crise h�drica, j� que o seu cen�rio-base n�o considera a ocorr�ncia de racionamento no Pa�s. Os c�lculos da corretora sinalizam que cada 10% de redu��o for�ada no consumo de energia ao longo de um ano teria potencial de retirar at� 1,2 ponto porcentual do PIB.
"Para o pr�ximo ano, tem uma eleva��o das incertezas sobre o desempenho da atividade econ�mica. N�o d� para descartar uma recess�o t�cnica", disse o economista da XP Rodolfo Margato. O cen�rio b�sico da corretora estima crescimento de 0,3% do PIB no primeiro trimestre de 2022, seguido por expans�o de 0,1% no segundo trimestre, queda de 0,2% no terceiro e crescimento de 0,2% no quarto trimestre.
A deteriora��o adicional das condi��es pol�ticas e fiscais, aumentando o grau de incerteza e reduzindo a liquidez da economia, tamb�m � um risco para a atividade. O cen�rio da XP indica uma probabilidade de 10% a 15% que a exclus�o dos precat�rios devidos pelo governo do teto dos gastos ocasione a exclus�o tamb�m de outras despesas, como o Bolsa Fam�lia.
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