Em um mercado dif�cil como o do Brasil, onde per�odos de crescimento s�o seguidos de duros momentos de recess�o, uma empresa sobreviver por um s�culo � uma prova clara de compet�ncia e de capacidade de adapta��o. Apesar de todas as dificuldades de se fazer neg�cios no Pa�s, h� v�rios exemplos de companhias que at� hoje s�o relevantes para a economia e tamb�m para o consumidor, incluindo casos de neg�cios centen�rios na ind�stria pesada, na fabrica��o de alimentos, em moda, higiene e beleza e tamb�m no segmento de m�dia, como � o
Estad�o
, fundado em 1875.
Mas existe um segredo para a sobreviv�ncia no longo prazo? Os seis casos analisados abaixo pela reportagem mostram que, se h� uma receita para a longevidade, uma delas � a disposi��o em mudar e em se adaptar �s novas realidades de mercado sem abrir m�o daquilo que faz a empresa ser singular e garante a fidelidade de seus consumidores.
Parece - e � - um equil�brio dif�cil de atingir, tanto que s�o raros os neg�cios que conseguem se perpetuar para al�m do primeiro s�culo. N�o h� estat�sticas oficiais no Brasil sobre a quantidade de empresas centen�rias em atividade, mas consultores dizem que chegar aos 100 anos tem ficado cada vez mais dif�cil.
"A empresa precisa se manter moderna, com tecnologia de ponta. Precisa responder r�pido �s mudan�as. Poucos neg�cios conseguem esse dinamismo na gest�o", afirma o presidente da consultoria Corporate Consulting, Alberto Paiva.
Em algum momento, as companhias centen�rias citadas nesta reportagem tiveram de dar um "salto" fora de sua zona de conforto. Algumas delas j� trocaram de dono algumas vezes - caso da Alpargatas, dona das tradicionais sand�lias Havaianas - ou enfrentaram severas dificuldades financeiras antes de mudar de m�os, como ocorreu com a fabricante de higiene e beleza Granado, que ficou na fam�lia fundadora por um longo per�odo, at� ser comprada por um empres�rio ingl�s nos anos 1990.
Por outro lado, h� neg�cios que conseguiram prosperar sem abandonar sua origem. � o caso das ind�strias Klabin (de papel e celulose) e da sider�rgica Gerdau. A primeira continua sendo controlada pelas fam�lias originais (Klabin e Lafer), enquanto a segunda s� deixou suas mais profundas ra�zes familiares recentemente. Foi s� h� quatro anos que a companhia, que ainda � controlada pelos descendentes dos fundadores, escolheu pela primeira vez ter um presidente sem o sobrenome Gerdau Johanpetter - o atual CEO, Gustavo Werneck.
O executivo, al�m de trazer inova��es para o neg�cio (leia no texto abaixo), adotou um toque pouco associado a uma ind�stria. Adaptando-se ao discurso dos novos tempos, a Gerdau passou a abra�ar com for�a a causa da diversidade.
Adequar-se �s mudan�as da sociedade - que, em um s�culo, s�o muitas - � fundamental para a sobreviv�ncia. Por mais que os neg�cios permane�am basicamente os mesmos, os desafios de se administrar uma estrutura gigante imp�em nova forma de pensar.
O presidente da consultoria Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, lembra que o sucesso do passado n�o garante mais a sobreviv�ncia de qualquer companhia e que o processo de inova��o precisa ser cont�nuo. "Todas as empresas precisam constantemente avaliar seu mercado, o comportamento dos seus clientes, as tend�ncias de transforma��o nos h�bitos de consumo, os movimentos dos seus concorrentes e o surgimento de novos players", diz o especialista.
Marcatti destaca que muitas empresas t�m a hist�ria, al�m do seu tempo de vida, atrelados ao per�odo mais produtivo dos seus fundadores e, por essa raz�o, muitas acabam n�o conseguindo seguir em frente. "A administra��o dos neg�cios costuma ter uma marca personificada nos donos. As empresas mais longevas s�o aquelas que conseguem avaliar seu ciclo de vida e desempenho, e t�m a coragem de se transformar para viver novos ciclos produtivos."
Gerdau mira em inova��o
Com 120 anos, a Gerdau come�ou como uma f�brica de pregos e se transformou na maior sider�rgica do Pa�s, com forte presen�a nos EUA e faturamento de mais de R$ 40 bilh�es. Representante tradicional da "velha ind�stria", a empresa direcionou o neg�cio para a inova��o e caminha para os servi�os ligados ao a�o.
Segundo o presidente da empresa, Gustavo Werneck, h� alguns anos, a companhia passou por uma reflex�o profunda para se adaptar �s novas demandas do mercado. "Para sobreviver nos pr�ximos 120 anos e por medo de n�o acompanhar o mercado, decidimos ouvir nossos parceiros, clientes e o mercado de capitais", diz.
Essa reflex�o j� gerou frutos, como a Gerdau Graphene, focada no desenvolvimento e na comercializa��o de produtos com a aplica��o do grafeno, material ao mesmo tempo forte e leve. Lan�ou ainda a Juntos Somos Mais, em sociedade com a Votorantim Cimentos e a Tigre. Outra empresa criada foi a G2L, de log�stica. Para Werneck, a prova de que a sider�rgica est� no caminho certo � o pr�prio balan�o, que bateu recorde no segundo trimestre de 2021. "Chegamos aos 120 anos com os melhores resultados financeiros da hist�ria, com as pernas fortes", diz o executivo, o primeiro nome de fora da fam�lia Gerdau Johannpeter a chefiar o neg�cio criado h� mais de um s�culo.
Klabin quer ser a 'Ambev do papel'
Fundada em 1899 como fabricante e importadora de artigos de escrit�rio, a Klabin hoje � uma das maiores produtoras e exportadoras de papel e celulose do mundo, com faturamento anual de quase R$ 12 bilh�es.
Apesar de estar na Bolsa desde 1979, o controle do neg�cio continua nas m�os das fam�lias Klabin e Lafer. A influ�ncia familiar, que para muitos analistas pode ser um risco de governan�a, para Cristiano Teixeira, presidente da empresa, � um dos segredos da longevidade.
"Muitos podem pensar que a governan�a de uma empresa familiar � pior do que a de uma corpora��o, mas j� estive em todos os tipos de empresa e n�o vejo dessa maneira", diz Teixeira.
Segundo o executivo, a fam�lia teve participa��o na decis�o de atuar com todos os tipos de celulose: fibra curta, longa e fluff (usada para materiais higi�nicos). Os herdeiros dos fundadores tamb�m encamparam um programa de sustentabilidade que permitiu a redu��o das emiss�es de carbono da empresa em 60% desde 2004.
Teixeira cr� que o futuro da Klabin � ser uma "Ambev do papel". Ou seja: procurar s�cios no exterior e criar uma empresa ainda mais global, mesmo que isso leve as fam�lias fundadoras a abrir m�o do controle ap�s mais de cem anos. "A empresa tem pernas para continuar sendo l�der n�o s� no Brasil, mas tamb�m no mundo."
Raia Drogasil est� de olho na sa�de
Uma das tarefas semanais de Ant�nio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da Raia Drogasil (RD), � se reunir com os novos gerentes da varejista farmac�utica, que tem 2,3 mil lojas pelo Pa�s. Nesses encontros, Pipponzi conta a hist�ria da Droga Raia, fundada pelo seu av� Jo�o Baptista Raia, em 1905, em Araraquara (SP) - sem se esquecer, claro, da fus�o com a ent�o rival Drogasil, em 2011.
L�der do setor, com faturamento de R$ 21 bilh�es, a empresa tem uma vantagem de R$ 10 bilh�es sobre a segunda colocada. Para Pipponzi, isso s� foi poss�vel porque a companhia conectou os ensinamentos de seu av�, que sempre primou pelo atendimento, com as li��es de gest�o das gera��es seguintes e os aprendizados vindos da Drogasil. "O meu av� estaria realizado, pois o que estamos fazendo � uma multiplica��o do que ele fazia, que era ter o foco nas pessoas", diz
Para Pipponzi, o futuro da RD � se tornar mais uma empresa de sa�de do que de varejo. Um dos passos dessa estrat�gia foi o lan�amento da plataforma de sa�de Vitat, visando � expans�o de servi�os como orienta��es nutricionais, psicol�gicas e f�sicas.
No entanto, a expans�o continuar� forte. Atualmente, a Raia Drogasil abre uma loja no Brasil a cada dia �til. Contando este ano e 2022, a empresa deve alcan�ar 480 novas unidades. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
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ECONOMIA
Marcas com mais de cem anos fazem aposta na inova��o
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