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Estado de Minas DESEMPREGO

As profundas cicatrizes da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho

Al�m da perda de mais de 600 mil brasileiros, o baque nas atividades econ�micas far� com que a taxa de desemprego fique em dois d�gitos por muito tempo


18/10/2021 08:00 - atualizado 17/10/2021 21:58

Ilustração
ilustra��o (foto: Gomez/CB/D.A Press)


Apesar do avan�o da vacina��o contra a COVID-19 no pa�s, com 101,3 milh�es de brasileiros totalmente imunizados – conforme dados do Minist�rio da Sa�de –, a atividade econ�mica patina em meio �s incertezas conjunturais e a pandemia vai deixando suas cicatrizes, que devem ser profundas. Al�m das perdas de pouco mais de 600 mil brasileiros e das inevit�veis sequelas nos recuperados, o mercado de trabalho tamb�m sofre um baque forte com a COVID-19 e a taxa de desemprego deve demorar para ficar abaixo de dois d�gitos, alertam os especialistas ortodoxos e heterodoxos.

Analistas avaliam que, mesmo ap�s o recuo recente para 13,7% na m�dia do trimestre m�vel encerrado em julho, quando o pa�s atingiu 14,1 milh�es de desocupados, a tend�ncia � que a taxa de desemprego ainda deve subir e n�o dever� ficar abaixo de 10% nesta d�cada. Eles refor�am que a pandemia agravou um quadro que j� era ruim e, portanto, os futuros candidatos � presid�ncia em 2022 precisar�o olhar para essa quest�o com cuidado e elaborar um bom plano de governo, caso contr�rio, o pa�s n�o mudar� a realidade que � continuar com o desemprego elevado at� o fim desta d�cada.

O emprego s� vai crescer se a atividade econ�mica voltar a se aquecer, de acordo com os especialistas. Mas as recentes estimativas do mercado n�o s�o nada animadoras, porque est�o em queda e mostram que, devido �s suas mazelas da volta da infla��o e �s incertezas em rela��o � pol�tica, o PIB n�o tem f�lego para crescer de forma robusta, ou seja, acima do seu potencial, que encolheu e hoje est� abaixo de 2%. As novas estimativas do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) para o PIB brasileiro, por exemplo, prevendo expans�o do PIB de 1,5% em 2022 em vez de 1,9%, s�o criticadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse que o FMI "vai continuar errando as proje��es".

PIB BAIXO

O cen�rio previsto por especialistas brasileiros, no entanto, � pior do que o estimado pelo organismo multilateral, pois j� h� estimativas para o PIB abaixo de 0,5% e muitos n�o descartam um cen�rio de estagfla��o – o pior dos mundos na teoria econ�mica, porque n�o h� crescimento e o custo de vida continua elevado, corroendo ainda mais a renda da popula��o. O Fundo, por exemplo, prev� o desemprego abaixo de 10% em 2026, cen�rio improv�vel, de acordo com especialistas.

Um exerc�cio matem�tico feito por economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Get�lio Vargas (FGV Ibre) revela que, se o PIB do pa�s crescer 3,5% entre 2023 e 2026, o desemprego ficar� em 10,1% no fim do per�odo, em uma proje��o sem ajuste sazonal. Na s�rie ajustada sazonalmente, a taxa passaria para 9,8%, considerando essa mesma expans�o. Mas, se o PIB avan�ar 1,5% nos pr�ximos cinco anos, o desemprego chegaria a 11,6% em 2026.

“A taxa de desemprego j� vinha subindo desde 2014, com a primeira recess�o da �ltima d�cada e estava em dois d�gitos antes da COVID-19 e piorou com a pandemia. Apesar de o pa�s j� ter voltado a criar emprego, o ritmo n�o � suficiente para fazer a taxa de desocupa��o voltar a um d�gito t�o cedo. Isso j� era dif�cil antes, e, agora, ser� bastante desafiador”, afirma o economista e pesquisador do Ibre Fernando de Holanda Barbosa Filho, um dos respons�veis pelo levantamento. Para ele, a queda na taxa de desemprego ser� lenta e gradual, porque um crescimento de 3,5% no pa�s nos pr�ximos anos � pouco prov�vel na atual conjuntura.“Esse foi apenas um exerc�cio que fizemos para mostrar o como o combate ao desemprego ser� desafiador para quem estiver no pr�ximo governo”, explica.

Vale lembrar que 2021 � um ponto fora da curva na trajet�ria do PIB brasileiro. As previs�es de avan�o do PIB, em torno de 5%, ap�s o tombo de 4,1%, em 2020, precisam de um desconto do carregamento estat�stico do ano anterior – que varia de 3,6% a 4,9% –, dependendo do c�lculo utilizado. Isso s� confirma a tend�ncia de baixo crescimento do pa�s, o que faz analistas n�o apostarem em uma taxa de desemprego de um d�gito t�o cedo.

“O desemprego n�o dever� ficar abaixo de 10% nesta d�cada. A n�o ser que tenha um milagre, o PIB n�o vai conseguir crescer 3,5% nos pr�ximos anos e isso significa que o desemprego vai continuar muito alto e a massa salarial n�o retoma o valor real de 2014”, frisa o economista Sim�o Silber, professor da Universidade de S�o Paulo (USP). Ele lembra que o desemprego deu um salto entre 2015 e 2016 e a m�dia atual dos �ltimos sete anos � ascendente e, sem um crescimento robusto da atividade, o desemprego n�o tem como diminuir.

Alessandra Ribeiro, s�cia da Tend�ncia Consultoria, refor�a o racioc�nio de Silber. “Por mais que a economia esteja se recuperando, a taxa de desemprego ainda est� elevada e, provavelmente, o pa�s dever� recuperar a taxa de ocupa��o no n�vel pr�-pandemia em maio do pr�ximo ano. Mas o desemprego vai persistir em dois d�gitos em um horizonte mais longo”, afirma.  Ela lembra que a informalidade no pa�s – de 40,8% da popula��o ocupada, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBGE) – � elevada e a retomada do setor de servi�os ajuda a melhorar as perspectivas para o mercado de trabalho, apesar de grande parte das vagas nesse segmento serem na informalidade. “As pessoas devem come�ar a voltar a procurar trabalho, mas o volume de vagas geradas n�o dever� ser suficiente para absorver o contingente que come�a a procurar trabalho de novo.

POBRE PAGA O PATO

Na avalia��o do professor da USP, o pa�s caminha para mais uma d�cada perdida do ponto de vista do poder de compra do assalariado. “Em poucas palavras, uma das cicatrizes da pandemia � a piora na distribui��o da renda, porque quem vai pagar o pato ser� o mais pobre. Primeiro, porque perdeu renda com o desemprego e, segundo, porque a infla��o triplicou. Isso significa que temos hoje 20 milh�es de pessoas com n�vel de acesso � calorias t�pico de campos de concentra��o nazistas”, lamenta Silber.

O economista Jos� Luis Oreiro, professor da Universidade de Bras�lia (UnB), � um dos analistas que n�o descartam o cen�rio de estagfla��o para a economia em 2022. Ele ressalta que, sem investimento p�blico, n�o h� como o PIB crescer de forma mais robusta. “O crescimento de 1,5% previsto pelo FMI seria o teto. Mas, com essa pol�tica de destrui��o do investimento p�blico e com a incerteza gerada pelo governo, n�o vejo como recuperar, no curto prazo, o desemprego”, afirma.

Para Oreiro, com a infla��o atual, tamb�m acima de dois d�gitos (10,25% at� setembro) corroendo o poder de compra do brasileiro, o sal�rio real n�o para de encolher, o que compromete outro motor do PIB: o consumo. “N�o tem como o consumo puxar o crescimento a curto prazo. O pa�s tem uma crise energ�tica contratada e precisa investir pesado em infraestrutura, mobilidade urbana e em uma economia descarbonizada, como os pa�ses desenvolvidos est�o fazendo”, destaca.

RISCO DE HISTERESE

O professor da UnB tamb�m alerta para o risco de a crise da COVID-19 provocar uma histerese no mercado de trabalho, como na f�sica, criando a tend�ncia de o sistema n�o conseguir mudar a forma adquirida. Oreiro explica que os danos da pandemia nesse segmento podem ser definitivos sem uma boa pol�tica industrial, porque, como uma barra de ferro que, aquecida, entorta e n�o volta mais � sua forma normal, o mercado de trabalho pode seguir o mesmo rumo.

“O risco da pandemia � o desemprego de longa dura��o tornar permanente e, com isso, a taxa de desocupa��o n�o volta mais ao patamar inicial. E h� v�rios mecanismos que explicam essa histerese. O primeiro � o sucateamento do capital, porque quando a economia entra em recess�o, as empresas deixam de investir na moderniza��o do estoque e o n�vel de emprego diminui por conta do sucateamento. O segundo fator � a desqualifica��o, quando os trabalhadores ficam muito tempo sem emprego e ocorre uma deprecia��o nas habilidades”, frisa.

No entender do economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o cen�rio n�o � t�o desolador para falar em estagfla��o, mas ele reconhece que o desemprego no pa�s permanecer� elevado por um per�odo prolongado. Para ele, sem mudan�as estruturais na economia, como a reforma tribut�ria e a administrativa, n�o h� como o desemprego voltar para menos de um d�gito no pa�s. “Houve poucos avan�os em plena pandemia e a reforma tribut�ria, que poderia ajudar o emprego industrial, n�o vai avan�ar e o pa�s vai continuar crescendo no mesmo ritmo pr�-pandemia, de 1%”, lamenta.

Costa critica a reforma do Imposto de Renda, que � a escolhida pelo governo, que fatiou a reforma tribut�ria, porque “n�o vai ajudar nesse sentido de melhorar o crescimento do pa�s e do PIB per capita, passada a pandemia”. “Para reduzir o desemprego, o governo precisar� avan�ar com medidas que melhorem as regras tribut�rias e a burocracia, ainda muito engessada, o que � fundamental para um crescimento maior da atividade, que continua muito travada”, afirma.


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