
As previs�es do mercado s� pioram e indicam que a infla��o oficial dever� estourar o limite da meta neste ano, de 5,25% e de 5%, respectivamente, com o cen�rio fiscal cada vez mais preocupante. Os dados do �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) da �ltima semana confirmam os progn�sticos nada animadores, ap�s a surpresa com a alta de 1,25% do indicador no m�s de outubro — a maior varia��o para o m�s desde 2002. Com isso, o IPCA subiu 10,67% no acumulado em 12 meses, consolidando o patamar de dois d�gitos pelo segundo m�s seguido, tend�ncia que deve prosseguir at� dezembro, pelo menos.
Na �ltima reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom), o Banco Central acelerou o ritmo de alta da taxa b�sica de juros (Selic), para 7,75% ao ano, e sinalizou juro b�sico de 9,25% em dezembro. Contudo, devido � piora no cen�rio fiscal e ao aumento das press�es inflacion�rias, as apostas do mercado indicam a necessidade de um aperto monet�rio maior e de uma Selic mais perto de 10% no fim do ano.
E o custo dessa inseguran�a maior ser� alto para os contribuintes. Conforme dados do BC no relat�rio fiscal de outubro, a cada ponto a mais na Selic, a d�vida p�blica bruta aumenta R$ 32,2 bilh�es por ano, quase um Bolsa Fam�lia, que, no Or�amento de 2022 estava previsto em R$ 34,7 bilh�es. Mas essa fatura tende a aumentar em, pelo menos, R$ 322 bilh�es, se considerarmos as altas da Selic desde mar�o at� 12%, considerado piso para o in�cio do pr�ximo ano.
Com a Selic voltando a ficar acima de 10%, o consumidor precisar� se programar melhor, pois os empr�stimos no mercado custam muito mais do que a taxa b�sica. E, como o n�vel de endividamento das fam�lias vem batendo recordes, o cr�dito ficar� cada vez mais escasso e mais caro no mercado, tanto para os consumidores quanto para as empresas, o que vai travar qualquer crescimento da economia no ano que vem, avisam os analistas.
F�bio Gallo, professor de Finan�as da Funda��o Getulio Vargas (FGV), lembra que, para quem est� endividado ou na beira do endividamento, "vai ser complicado sair dessa bola de neve diante dessa alta dos juros". "A situa��o est� terr�vel para todos, principalmente para as pequenas empresas conseguirem manter seus neg�cios. Muitos empres�rios n�o conseguiram os aux�lios do governo para redu��o dos custos da folha e acabaram demitindo ou fechando. Agora, com a Selic em dois d�gitos vai ser muito mais dif�cil", afirma.
Analistas reconhecem que esse ciclo de alta dos juros, iniciado em mar�o deste ano, seguir� at� a primeira metade do ano que vem, na melhor das hip�teses. "As condi��es de cr�dito est�o piorando e esse quadro n�o deve melhorar em 2022, quando a Selic voltar para dois d�gitos, pressionada pela infla��o mais alta e essa press�o em torno do teto de gastos", destaca Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade (Anefac).
Ele lembra que, conforme pesquisa da entidade, houve nove altas consecutivas de juros praticados no com�rcio e no mercado financeiro, e, com os juros mais altos, o custo do cr�dito para o consumidor e para as empresas tamb�m fica mais caro, o que vai contribuir para o aumento da inadimpl�ncia daqui para frente.
"Do ponto de vista das empresas, o juro mais alto na economia desacelera o crescimento. E, como o pa�s pode entrar em recess�o no ano que vem, as empresas n�o investem nesse ambiente, porque n�o tem sentido aumentar a produ��o se n�o vai haver aumento do consumo", explica Ribeiro.
"E, por outro lado, como o custo do cr�dito para as empresas e para as fam�lias fica mais caro, os bancos passam a ser mais seletivos no cr�dito e reduzem o prazo dos financiamentos. Eles n�o querem empr�stimos de longo prazo, porque n�o sabem o que vir� pela frente na economia e na pol�tica. Logo, com o cr�dito mais restrito, haver� desacelera��o econ�mica e aumento do desemprego. O consumidor desempregado n�o paga d�vida e a inadimpl�ncia aumenta. E a inadimpl�ncia aumenta. E ficamos nessa roda", lamenta.
Recorde de endividados
O n�mero de fam�lias endividadas atingiu um novo recorde em outubro, chegando a 12,1 milh�es, conforme dados da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC). Pesquisa recente da entidade indica que o percentual de fam�lias que est�o endividadas com cheque pr�-datado, cart�o de cr�dito, cheque especial, carn� de loja, cr�dito consignado, empr�stimo pessoal, presta��o de carro e da casa chegou a 74,6%, em outubro, dado 8,1 pontos percentuais acima do mesmo m�s de 2020, "o segundo maior aumento da s�rie hist�rica".
Enquanto isso, as concess�es de cr�dito �s pessoas f�sicas j� est�o caindo. Em setembro, recuaram 2% na compara��o com agosto, conforme dados do Banco Central. "A evolu��o do endividamento das fam�lias e das empresas n�o surpreende dado o aperto monet�rio do Banco Central. Esse dado eleva a dificuldade do equil�brio do or�amento das fam�lias em um momento em que a infla��o est� alta e o desemprego relativamente elevado", destaca F�bio Bentes, economista da CNC.
Ele reconhece que os juros mais altos t�m atingido de forma mais forte as fam�lias com renda abaixo de 10 sal�rios m�nimos. "Com a infla��o e os juros em alta, a tend�ncia � que o endividamento permane�a elevado por algum tempo. Mas isso depender� do grau de repasse das institui��es financeiras aos tomadores finais", destaca Bentes. Para ele, neste ano, o crescimento do com�rcio est� garantido, com alta de 4,6%. Mas no ano que vem, "a tend�ncia � de um crescimento menor".
Planejar � essencial
Diante da escalada dos juros e do endividamento elevado das fam�lias, especialistas orientam os consumidores a programarem bem as despesas ao longo do m�s para n�o ficarem ainda mais no vermelho. O recomend�vel � n�o comprometer mais do que 30% da renda familiar com d�vidas, para come�ar.
Ricardo Rocha, professor de Finan�as do Insper, recomenda que � preciso fazer um bom planejamento para n�o cair na bola de neve do endividamento elevado. Ele lembra que a chegada da primeira parcela do 13º sal�rio poder� ajudar na quita��o daquelas d�vidas mais caras. "� preciso come�ar 2022 com o uso adequado do 13º, fazendo um or�amento para as despesas de in�cio de ano, com meta de reduzir o endividamento ou alongar, se for a melhor alternativa", sugere.
Contudo, esse sal�rio extra pode n�o ser uma garantia para muitos brasileiros, uma vez que pesquisa feita pelo Datafolha, a pedido do Sindicato das Micro e Pequenas Empresas do Estado de S�o Paulo (Simpi), revela que uma em cada cinco empresas dever� atrasar o 13º deste ano. O levantamento indica que 26% das micros e pequenas ind�strias t�m mais dificuldade para pagar o benef�cio neste ano do que tinham em 2020.
"� importante fazer um bom planejamento financeiro, saber administrar o or�amento familiar de forma r�gida e n�o esquecer de fazer previs�o de gastos futuros para o pr�ximo ano", refor�a F�bio Gallo, professor de Finan�as da Funda��o Getulio Vargas (FGV). Ele recomenda colocar tudo no papel e separar os gastos por quatro grupos: A (Alimenta��o), B (B�sicos), C (Contorn�veis) e D (Desnecess�rios).
"� preciso determinar um valor fixo para cada uma dessas despesas no m�s, inclusive, para a alimenta��o, que � mais essencial, e, assim, evitar comprar itens sup�rfluos. � poss�vel substituir os produtos mais caros pelos mais baratos. Muitas fam�lias j� est�o trocando a carne pelo ovo. Mas o importante � n�o gastar al�m do valor destinado na planilha", afirma.
No segundo grupo, est�o os itens b�sicos, como contas de luz, g�s e telefone. O jeito � tentar economizar o m�ximo poss�vel. A terceira categoria possui aqueles gastos que fazem a vida melhor, mas podem ser cortados no caso de emerg�ncia, como TV a cabo, servi�os de streaming, de banda larga e at� academia. "Eu j� vi desempregado pagando academia. A banda larga pode ser necess�ria para algumas pessoas, mas � preciso colocar tudo isso no sinal amarelo, pois podem ser cortados", conta Gallo.
Finalmente, no �ltimo grupo, est�o aquelas despesas que o consumidor nem lembra que est� comprando. Como exemplo, o professor orienta sempre conferir a fatura do telefone celular, porque pode aparecer algum pacote ou item que n�o foi contratado ou esquecido. Outro gasto desnecess�rio � a anuidade de cart�o de cr�dito. "Hoje em dia n�o tem sentido pagar para uma bandeira se voc� pode ter cart�o gratuito", ressalta.