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Estado de Minas ECONOMIA

Infla��o p�s-pandemia � fen�meno global, mas atinge Brasil com mais for�a


22/11/2021 17:05

Dados da infla��o de outubro em v�rios pa�ses deixam claro que o problema � global. Efeitos colaterais da covid-19 sobre a economia, combinados com choques clim�ticos e tecnol�gicos explicam o quadro, segundo economistas ouvidos pelo Estad�o. No Brasil, por�m, as remarca��es de pre�os s�o mais fren�ticas - � um problema hist�rico da economia nacional, agravado agora pela taxa de c�mbio e pela crise h�drica. S� que, desta vez, at� americanos e europeus, acostumados com uma infla��o baix�ssima h� d�cadas, t�m motivos para preocupa��o. A infla��o em 12 meses nos Estados Unidos � a maior desde 1990. No Reino Unido, a maior desde novembro de 2011. Na zona do euro, a maior em 13 anos.

Ainda assim, o Brasil se destaca e integra o pequeno grupo das na��es com infla��o acumulada em 12 meses acima de dois d�gitos, como mostra uma compila��o do Banco de Compensa��es Internacionais (BIS, que � uma esp�cie de "banco central dos bancos centrais"). Com taxa de 10,7%, o Pa�s est� no time da Argentina, com 51,7% em um ano at� setembro, e da Turquia, com 19,6%, no mesmo per�odo.

Em quase todos os pa�ses, a infla��o acelerada se deve a uma combina��o "at�pica", "in�dita" e "ex�tica", dizem economistas. Muitos desses choques est�o relacionados � covid-19, outros j� vinham de antes, e podem ter sido acelerados ou potencializados pela pandemia. O que chama a aten��o � o fato de todos ocorrerem ao mesmo tempo.

Choques s�o vil�es contumazes da infla��o. Em condi��es normais, a din�mica de pre�os � marcada pela rela��o entre oferta e demanda. Quando a segunda varia em ritmo mais r�pido do que a primeira, os pre�os sobem, e vice-versa - justamente por isso, a pol�tica monet�ria de v�rios pa�ses atua para aquecer ou esfriar a demanda, de olho no controle da infla��o. Nas crises, esse equil�brio pode ser desbalanceado repentinamente se uma seca ou uma praga derrubar a oferta de determinado produto agr�cola. Ou se demiss�es em massa afundarem a capacidade de consumo das fam�lias, no lado da demanda.

CHOQUES SIMULT�NEOS

Ao se espalhar rapidamente pelo mundo, a covid-19 provocou, ao mesmo tempo, choques de demanda - fam�lias em casa, com a renda comprometida, consumiram menos - e de oferta, com f�bricas que pararam e neg�cios como bares, restaurantes e sal�es de beleza fechados. Nos primeiros meses da pandemia, a recess�o segurou a infla��o. A partir de meados do ano passado, a recupera��o come�ou. Os choques seguiram atuando e se tornaram inflacion�rios.

Do lado da oferta, a ind�stria enfrenta gargalos em suas cadeias, com problemas no transporte mar�timo e escassez de insumos. Do lado da demanda, medidas de transfer�ncia de renda, com recursos p�blicos, adotadas por diversos pa�ses para mitigar a crise, impulsionaram o consumo, especialmente de bens e de comida, pois as fam�lias vinham restringindo gastos com servi�os por causa da covid-19.

"Pa�ses mais ricos, com grana no cofre, socorreram a economia com dinheiro. Essa ajuda aqueceu a economia", diz Andr� Braz, coordenador do �ndice de Pre�os ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, destaca que os choques de oferta e demanda foram simult�neos em praticamente todos os pa�ses, tanto na recess�o quanto na retomada. "Nunca teve essa recupera��o concentrada ao mesmo tempo", afirma Cunha.

Esse desequil�brio entre oferta e demanda espalhou a infla��o, mas, para Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista s�nior da gestora de recursos Asset 1, a culpa n�o � s� da pandemia. Os choques da covid-19 se juntaram a outros, que j� vinham de antes.

� o caso da demanda por microchips - com o avan�o tecnol�gico, todos os produtos, de carros a geladeiras, j� vinham usando cada vez mais essas pe�as. Outra quest�o � a demanda da China por carnes e outros alimentos - cujo avan�o passa pela transi��o no modelo econ�mico chin�s, que pretende trocar de motor, de investimentos em infraestrutura para o consumo.

Freitas Filho cita tamb�m a transi��o global para uma economia de baixo carbono. A necessidade de abandonar fontes de combust�vel f�ssil restringe investimentos na produ��o de petr�leo, g�s e carv�o, diminuindo a perspectiva de oferta de curto prazo dessas mat�rias-primas, o que pressiona pre�os para cima. Nos Estados Unidos, os pre�os da energia ao consumidor sobem 30% em 12 meses. Combust�veis, eletricidade e calefa��o s�o vil�es da infla��o.

CRISE H�DRICA

Combust�veis, g�s de cozinha e conta de luz tamb�m s�o vil�es por aqui, mas, no caso da eletricidade, h� uma especificidade. A maior estiagem em d�cadas levou os reservat�rios das usinas hidrel�tricas - principal fonte de energia el�trica do Pa�s - aos n�veis m�nimos da hist�ria, exigindo o acionamento de usinas t�rmicas. Movidas a g�s natural, �leo combust�vel ou carv�o, elas t�m custo maior. As regras do setor el�trico repassam esse custo a mais para a conta de luz.

Para Freitas Filho, a seca � mais um choque coincidente, que vinha de antes da pandemia. Desde 2019, o clima est� mais seco no Brasil por causa da Oscila��o Decenal do Pac�fico (PDO, na sigla em ingl�s, definido como um ciclo prolongado de El-Ni�o). Segundo o economista, j� havia alertas de menos chuvas para abastecer as hidrel�tricas e, por isso, houve "m� gest�o" das autoridades do setor ao encarar o problema. A situa��o pode se arrastar por anos - por isso, � cedo para comemorar o bom volume de chuvas desde outubro.

D�LAR

A taxa de c�mbio - outra particularidade que agrava a infla��o no Brasil, ao encarecer importados em geral e mat�rias-primas exportadas - tamb�m est� com comportamento at�pico, dizem economistas. Tradicionalmente, nos pa�ses exportadores de mat�rias-primas, as cota��es do d�lar andam de forma inversamente proporcional aos pre�os das commodities. Nos mercados globais, quando sobem os pre�os das mat�rias-primas, o d�lar cai perante as moedas dos exportadores.

Na crise da pandemia, as cota��es das commodities v�m em forte alta desde meados do ano passado, mas o d�lar n�o para de subir ante o real. Alguns economistas j� ressaltaram que isso tem ocorrido em outros pa�ses, mas muitos apontam para um descolamento maior no caso do Brasil. A alta simult�nea de d�lar e pre�o de commodities faz explodir os pre�os da gasolina e de alguns alimentos.

Com o impulso dado �s exporta��es brasileiras pelas cota��es em alta, a taxa de c�mbio deveria estar abaixo da atual. Para explicar o d�lar alto, economistas citam as perspectivas de aumento no desequil�brio das contas do governo, as incertezas pol�ticas e o descontrole no enfrentamento da pandemia.

Diante do ineditismo da combina��o de choques que causam infla��o no mundo todo, as d�vidas recaem sobre a dura��o do fen�meno. Autoridades dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa t�m repetido que a carestia tem data para acabar, quando os gargalos associados � covid-19 se dissiparem, mas economistas do setor privado e da academia lan�am d�vidas sobre isso. Uma das inc�gnitas s�o os efeitos no mercado de trabalho. Uma eleva��o permanente de sal�rios poder� realimentar a infla��o.

No Brasil, o mercado de trabalho segue com indicadores ruins, mas os problemas n�o parecem de r�pida solu��o, com a estiagem e o c�mbio no radar. "Vamos entrar em campanha eleitoral", lembra Braz, do Ibre/FGV.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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