Um grupo de empresas brasileiras com a��es na B3 - entre elas, Banco Inter, Locaweb, Americanas e Natura - se prepara para negociar seus pap�is nos EUA. Depois de o Pa�s ter visto um movimento de companhias abrindo capital diretamente em Nova York, como a XP e a Stone, agora empresas tradicionais, que j� t�m pap�is listados no mercado de S�o Paulo, buscam migrar para o exterior.
Por tr�s dessa movimenta��o, est� a busca por estabilidade e menor exposi��o ao risco Brasil, al�m da facilidade de acesso a novos investidores para financiar ambi��es de internacionaliza��o. At� sexta-feira, o �ndice S&P; 500 registrava alta de 22% no ano, enquanto a Nasdaq exibia varia��o de 20%. Na contram�o, o Ibovespa amargava baixa de 14%.
Para fazer esse movimento rumo a Nova York, as empresas ter�o de abrir uma sede l� fora - a Natura, por exemplo, deve optar por uma holding. Na semana passada, o conselho do Inter deu o aval para a mudan�a. J� a Locaweb, de servi�os digitais, e a gigante Americanas est�o se organizado para trilhar o mesmo caminho.
Mas o que muda na pr�tica? As empresas passariam a ter uma dupla listagem em Bolsa - com recibos de suas a��es (os chamados BDRs) oferecidos na B3, mas tendo os EUA como o mercado principal para a negocia��o dos seus pap�is. E passariam a se reportar tamb�m ao regulador americano.
Do lado dos investidores, em vez de ter nas m�os diretamente a��es da companhia, passariam a ter acesso aos BDRs. E a�, al�m do risco da varia��o do mercado, teriam de enfrentar as flutua��es do c�mbio. Se alguma empresa vier realmente a mudar seus pap�is para os EUA, o investidor local ter� dois caminhos: receber o valor equivalente ao papel em BDR ou, ent�o, vender a a��o.
As empresas brasileiras com planos engatilhados para mudar a listagem de suas a��es para os Estados Unidos afirmam que o movimento poder� agilizar a capta��o de recursos para avan�ar em estrat�gias de internacionaliza��o. Mas, al�m disso, a migra��o pode servir a outro prop�sito: fugir da avers�o do mercado internacional ao Brasil em tempos de turbul�ncia pol�tica e econ�mica.
Segundo o s�cio do PGLaw e professor na USP, Carlos Portugal Gouv�a, a imagem do Brasil hoje n�o � boa. "Muitos investidores internacionais deixaram de admitir a compra de a��es de companhias brasileiras em raz�o das fragilidades de nosso sistema societ�rio", afirma. "Precisamos de reformas para proteger os direitos dos minorit�rios de forma urgente. Do contr�rio nosso mercado vai gradualmente desaparecer ou virar algo apenas para investidores locais menos sofisticados."
Tanto � assim que a lista de empresas de malas prontas para Nova York n�o para de crescer. Na semana passada, o banco Inter pavimentou o caminho para ir ao exterior. Os acionistas aprovaram uma reorganiza��o societ�ria para que o neg�cio se reposicione como uma companhia global de tecnologia, e n�o um concorrente local do setor financeiro.
A ideia � acessar o "mercado de capitais mais maduro do mundo, com mais liquidez e volumes negociados", divulgou a empresa. O Inter abriu capital na Bolsa brasileira em 2018, em um momento em que empresas com pegada digital escolhiam os Estados Unidos - a PagSeguro, por exemplo, chegou � Nasdaq na mesma �poca.
Testando as �guas
Outro caso de migra��o de a��es � o da empresa de tecnologia Locaweb, que abriu capital na B3 no in�cio de 2020, atraindo fundos estrangeiros para o setor brasileiro de tecnologia.
A oferta abriu as portas para que outras empresas do setor vissem a Bolsa local como op��o para acelerar os neg�cios. A Locaweb j� fez diversas aquisi��es no mercado desde a abertura de capital. Agora, com mais musculatura, quer avan�ar fora das fronteiras - por ora, a companhia diz que a migra��o est� apenas em fase de estudo.
Para a Natura, uma eventual troca refletiria o fato de que boa parte de suas receitas est� fora do Pa�s - a companhia � dona das marcas The Body Shop, Avon e Aesop. "O grupo Natura &Co; est� pronto para se dedicar � organiza��o de sua estrutura corporativa, de modo que ela reflita melhor a atual distribui��o geogr�fica e seu n�vel global de exposi��o", disse a empresa, em nota.
Do lado das Lojas Americanas, controlada pelo trio de investidores Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, a explica��o por tr�s do movimento pode ser mais complexa. No Brasil, a companhia anunciou que unificar� suas classes de a��es - o que far� com que eles tenham de abrir m�o do controle. Caso a listagem migre para os EUA, � poss�vel que o trio volte ao comando. L�, o mercado usa a ferramenta chamada a��o plural, que permite que seu detentor tenha mais direitos (como mais votos, por exemplo).
Tend�ncia
Apesar de o grupo de empresas com planos de migrar suas a��es para Nova York ainda ser pequeno, haveria mais empresas estudando a possibilidade. Para o s�cio da �rea de mercado de capitais do escrit�rio Mattos Filho, Caio Cossermelli, a elei��o de 2022 ajuda a acelerar a tend�ncia. "Esse movimento n�o � � toa. Muitas empresas enxergam que pode valer a pena estar listada em um mercado com mais estabilidade", frisa.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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