A economia brasileira seguiu estagnada na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Mesmo com a normaliza��o de algumas atividades, a infla��o pressionada e o mercado de trabalho ainda dif�cil impediram um impulso mais forte da demanda, enquanto desequil�brios provocados pela pandemia ainda atrapalham a ind�stria.
O resultado foi uma ligeira queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB, o valor de todos os produtos e servi�os produzidos na economia em determinado per�odo) no terceiro trimestre ante o segundo, informou nesta quinta-feira, 2, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
Ap�s nove meses de avan�os, do terceiro trimestre de 2020 ao primeiro deste ano, a economia parou a partir de abril. No segundo trimestre, o PIB caiu 0,4% ante os tr�s primeiros meses do ano, conforme revis�o anunciada tamb�m nesta quinta-feira, pelo IBGE.
Com isso, a economia brasileira entrou em "recess�o t�cnica", como economistas de mercado chamam a situa��o em que ocorrem dois trimestres seguidos de retra��o no PIB.
No terceiro trimestre, a economia foi puxada, pela �tica da oferta, pelo setor de servi�os, com avan�o de 1,1% sobre o segundo trimestre. "H� uma normaliza��o das atividades presenciais. Estamos colhendo os frutos da vacina��o", disse Alessandra Ribeiro, s�cia e diretora de Macroeconomia da Tend�ncias Consultoria, lembrando que essa "normaliza��o" das atividades aparece no mercado de trabalho, com a recupera��o de postos de trabalho, especialmente nos servi�os presenciais.
Como responde por pouco mais de 70% do PIB, o setor de servi�os puxa a atividade como um todo, mas, no terceiro trimestre, a ind�stria e a agropecu�ria seguraram o impulso, impedindo um crescimento maior.
Sob efeito de quebras de safra provocadas pela estiagem hist�rica no meio do ano, a agropecu�ria registrou queda de 8% sobre o segundo trimestre.
O PIB industrial ficou estagnado, ainda afetado pelos gargalos nas cadeias globais de produ��o, marcados pelo travamento do transporte mar�timo e pela escassez de pe�as e componentes.
"Essa quest�o das cadeias globais de fornecimento continua. � um problema superrelevante. O tempo de entrega de insumos e pe�as, inclusive, est� acima do primeiro momento da pandemia", afirmou Alessandra Ribeiro.
Pela �tica da demanda, o motor da economia no terceiro trimestre foi o consumo das fam�lias, que cresceu 0,9% sobre o trimestre imediatamente anterior. Parte desse crescimento tamb�m tem a ver com a "normaliza��o" da economia, uma vez que os consumidores de maior renda, menos afetados pela crise causada pela covid-19, puderam voltar a consumir, com a flexibiliza��o de restri��es impostas pela pandemia. Para quem teve a renda pouco ou nada afetada pela crise, a simples reabertura de neg�cios como sal�es de beleza, cinemas, bares e restaurantes j� leva, quase que automaticamente, a um aumento do consumo.
Por outro lado, para o conjunto das fam�lias como um todo, o consumo � mais diretamente ligado � din�mica de emprego e renda. Embora o mercado de trabalho venha apresentando recupera��o, com gera��o de vagas, a retomada ainda n�o foi suficiente para repor todos os empregos perdidos na crise. Para piorar, as vagas que est�o sendo abertas t�m sal�rios menores, e a acelera��o da infla��o nos �ltimos meses corr�i a renda, segurando o apetite para o consumo entre as fam�lias de renda menor.
Na vis�o do professor Gilberto Tadeu Lima, pesquisador do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP, o quadro � agravado pela indefini��o, desde 2020, em torno dos rumos do aux�lio emergencial. O benef�cio tempor�rio foi reduzido no fim do ano, demorou a ter a renova��o garantida em 2021, chegando a ficar suspenso nos primeiros meses deste ano, e terminou no m�s passado sem que se tenha um desenho claro, com valores, para o Aux�lio Brasil, novo nome do Bolsa Fam�lia, ap�s uma reformula��o.
Como o aux�lio emergencial ajudou a sustentar o n�vel da atividade econ�mica, ajudando o consumo das fam�lias e evitando um "colapso" maior no PIB do ano passado, a indefini��o em torno da continuidade, e em que moldes, dos programas federais de transfer�ncia de renda tem, agora, o efeito oposto. Em vez de impulsionar o ritmo do consumo, tira f�lego para um crescimento para al�m do processo de "normaliza��o" das atividades.
"Sem d�vidas, o aux�lio emergencial jogou um papel essencial (na retomada da economia desde meados de 2020), mas a pr�pria defini��o de algo t�o essencial est� sujeita a um processo capenga, de vaiv�m e indefini��o", diz Lima, criticando a falta de coordena��o entre o governo federal e as demais esferas no enfrentamento da crise causada pela covid-19.
Ainda na �tica da demanda, a forma��o bruta de capital fixo (FBCF), conta dos investimentos no PIB, caiu 0,1% na compara��o com o segundo trimestre. Frequentemente associada por economistas �s perspectivas futuras para os neg�cios, a din�mica de investimentos � a primeira a ser atrapalhada pelas incertezas em torno dos atritos pol�ticos envolvendo o governo federal, sobre o tamanho dos desequil�brios nas contas p�blicas e, a partir de 2022, sobre as elei��es gerais. O agravamento desses pontos de incerteza refor�a o quadro de estagna��o.
A estagna��o n�o impedir� um crescimento econ�mico expressivo neste ano, mas a perda de f�lego aponta para um desempenho bem abaixo disso em 2022. A pesquisa do Proje��es Broadcast com analistas do mercado financeiro, feita antes da divulga��o dos dados desta quinta-feira pelo IBGE, apontava para um crescimento de 4,8% no PIB de 2021 ante 2020, desacelerando para apenas 0,5% em 2022 ante este ano.
Economistas come�aram a revisar para baixo suas proje��es para o crescimento de 2022 em setembro, quando a persist�ncia da infla��o mais elevada ficou clara - para enfrentar a alta de pre�os, o Banco Central (BC) dever� subir mais os juros b�sicos da economia, medida que visa esfriar a demanda e, portanto, tirar impulso do crescimento econ�mico.
O processo se aprofundou em outubro, ap�s o governo dar sinais de que pretendia pagar parte do Aux�lio Brasil com gastos que ficariam fora do "teto" (a regra fiscal que limita o crescimento das despesas p�blicas, de um ano para o outro, apenas � infla��o).
De l� para c�, a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) dos Prec�rios passou na C�mara dos Deputados e est� prestes a ser aprovada no Senado Federal, com n�meros apontando, cada vez mais, para aumento de gastos - n�o s� com o novo Aux�lio Brasil, mas tamb�m com emendas parlamentares no Or�amento. Como resultado, as cota��es das a��es negociadas na Bolsa v�m despencando, a taxa de c�mbio disparando, assim como as taxas de juros do mercado futuro, sinalizando para juros b�sicos ainda mais altos e, portanto, ainda menos impulso para a economia.
"O governo deu est�mulos, a economia foi (desde meados de 2020), mas, agora, diante dos desequil�brios, com infla��o e todo o risco ligado ao desequil�brio fiscal (das contas do governo), vamos pagar a conta com menos crescimento econ�mico", disse Alessandra Ribeiro, da Tend�ncias.
E h� mais chances de piora do que de melhora, na avalia��o da economista. O processo eleitoral pode elevar ainda mais as cota��es do d�lar, levando a juros ainda mais altos e menos crescimento econ�mico. Al�m disso, a economia mundial est� em desacelera��o, incluindo a China, principal compradora das exporta��es brasileiras.
O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, acrescenta aos riscos para a economia brasileira em 2022 uma poss�vel nova onda da covid-19, por causa da variante �micron, e uma eventual antecipa��o na alta dos juros nos Estados Unidos. O aperto na pol�tica monet�ria americana, ap�s o grande afrouxamento para apoiar a economia em meio � pandemia, tende a elevar juros no mundo todo e retirar recursos dos mercados emergentes, um motivo a mais para as cota��es do d�lar subirem.
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