O aux�lio emergencial evitou, temporariamente, o agravamento da pobreza no Pa�s em 2020, em meio ao choque da covid-19, mas parece ter apenas anestesiado o problema. Com o vaiv�m do benef�cio do ano passado para este, a mis�ria espreita os brasileiros mais vulner�veis. Sem os programas sociais, os 10% mais pobres da popula��o teriam sobrevivido o ano passado com apenas R$ 13,00 por m�s, ou R$ 0,43 por pessoa a cada dia.
A conta - excluindo da composi��o do rendimento familiar os valores recebidos com o aux�lio emergencial e com benef�cios estaduais e municipais complementares - divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) � hipot�tica, mas bem poderia descrever as agruras de Daniele, de 23 anos, que ontem, ao lado da m�e, Edinalva, catava alimentos de ca�ambas de descarte na Ceasa, central de comercializa��o de legumes e frutas na zona norte do Rio. M�e de g�meos, Daniele enfrentou a crise da pandemia sem o aux�lio emergencial.
GRAVIDEZ DE RISCO. "Minha gravidez foi de risco, e fiquei a maior parte do tempo internada", disse, enquanto garimpava bons dentes de alho em meio a centenas de outros cujo destino ser� o lixo. "Por causa disso, n�o consegui ir resolver e fiquei sem o aux�lio emergencial. Agora, tenho de colocar meus filhos no Bolsa Fam�lia, n�? N�o consegui resolver ainda."
A m�e de Daniele, que divide a casa com a filha e outras oito pessoas, cata alimentos na Ceasa h� quase duas d�cadas. O aux�lio emergencial no ano passado "ajudou um pouquinho", mas n�o resolveu. "Ganhei R$ 1.600 da primeira vez, depois R$ 600, depois R$ 370... Agora, est� R$ 320. S� foi diminuindo, e as coisas todas aumentando. Voc� leva as coisas daqui, mas tem de cozinhar. Antes, voc� tem de lavar, e o custo da �gua est� um absurdo. O g�s, eu pago R$ 95", disse Edinalva.
Embora estude a desigualdade de renda no Brasil h� anos, Marcelo Medeiros, professor visitante da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, se disse "chocado". Com os benef�cios governamentais, o grupo de 21 milh�es de brasileiros mais pobres sobreviveu em 2020 com R$ 128 mensais por pessoa da fam�lia. Embora ainda insuficiente, o montante representa uma alta de 14,9% ante os R$ 111 mensais de 2019.
A inje��o bilion�ria de recursos extraordin�rios fez o n�mero de brasileiros abaixo da linha de pobreza do Banco Mundial cair, em 2020, ao menor n�vel desde 2014. Ainda assim, praticamente um em cada quatro brasileiros (24,1% da popula��o) viveu abaixo dessa linha no ano passado. S�o quase 51 milh�es de pessoas com menos de R$ 450 por m�s. N�o fossem os programas de transfer�ncias de renda, o contingente seria quase um ter�o da popula��o (32,1%). Em 2019, a propor��o era de 25,9%.
Mesmo com o aux�lio emergencial, 12,046 milh�es (5,7%) viveram abaixo da linha de mis�ria (rendimento m�dio mensal de R$ 155 por pessoa) em 2020, o menor n�vel desde 2015. Sem os benef�cios, seriam mais do que o dobro: 27,313 milh�es (12,9% dos habitantes, ante 6,8% em 2019). As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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