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Estado de Minas QUEM EST� POR BAIXO E POR CIMA

Calculadora de renda: 90% dos brasileiros ganham menos de R$ 3,5 mil; confira sua posi��o na lista

Pesquisa apontou que 3 em cada 4 brasileiros que est�o entre os 10% mais ricos n�o fazem ideia que est�o no 'topo da pir�mide'


13/12/2021 07:26 - atualizado 13/12/2021 12:16


Um ano atr�s, o ator Bruno Gagliasso escreveu em suas redes sociais que precisava "bater um papo com voc�, meu irm�o branco. Um papo reto aqui entre n�s que n�o somos o topo da pir�mide, mas estamos bem distantes da base".

Nos coment�rios, os internautas questionaram o topo da pir�mide ao qual o artista se referia. Se ele, dono de uma pousada na ilha de Fernando de Noronha, de restaurantes e de uma marca pr�pria de roupas n�o estava no topo, quem est�?

Mas n�o � preciso ir t�o longe. A renda mensal m�dia de quem est� entre os 5% mais ricos no Brasil � de R$ 10.313,00, conforme os dados da Pnad Cont�nua - Rendimento de todas as fontes 2019, do IBGE. O corte para estar no 1%, ou seja, com renda m�dia superior � de 99% da popula��o brasileira adulta, � de R$ 28.659,00.

A base da pir�mide � relativamente homog�nea — 90% dos brasileiros t�m renda inferior a R$ 3,5 mil por m�s (R$ 3.422,00) e 70% ganham at� dois sal�rios m�nimos (R$ 1.871,00, para um sal�rio m�nimo de R$ 998,00 em 2019), ainda segundo o levantamento.

Dentro do grupo dos mais ricos, contudo, o espectro � bem diversificado.

Tomando a faixa da pesquisa do IBGE, de R$ 28 mil, o grupo dos 1% mais ricos inclui desde alguns profissionais liberais como advogados e engenheiros e a elite do funcionalismo p�blico — promotores, procuradores, auditores da Receita —, a empres�rios, artistas e, finalmente, os milion�rios e bilion�rios que aparecem nas listas dos mais ricos do pa�s.

Rico, eu?

Talvez por isso, muitos n�o se enxerguem como parte do topo da pir�mide.


Mulher relaxa em cadeira à beira da piscina com vista para grande área verde
'Topo da pir�mide' est� geralmente ligado � ideia de ostenta��o - mas nem sempre � assim (foto: Getty Images)

A pesquisa N�s e As Desigualdades, realizada pela Oxfam em parceria com o Instituto Datafolha, pergunta desde 2017 aos brasileiros, em uma escala de 0 a 100, se eles se acham "muito pobres ou muito ricos".

As tr�s edi��es do levantamento realizadas at� agora apontam na mesma dire��o: quem est� no topo pode ter uma vis�o bastante distorcida da realidade. A pesquisa de dezembro de 2020 apontou que, entre aqueles com renda superior a 5 sal�rios m�nimos, 75% disseram achar fazer parte da metade mais pobre do pa�s.

Para se estar entre os 10% mais ricos do pa�s, contudo, a renda m�dia parte de tr�s sal�rios m�nimos, de acordo com os par�metros da pesquisa.

Isso porque o Brasil � um pa�s em que muita gente vive com muito pouco. Para se estar entre os "mais ricos", do ponto de vista da distribui��o de renda, n�o � preciso tanto.


Pessoas buscando comida entre alimentos descartados, em foto de outubro de 2021
Pobreza e desigualdade fazem com que renda m�dia do brasileiro seja baixa (foto: Getty Images)

S�ndrome da classe m�dia

Esse descolamento entre percep��o e realidade, entretanto, n�o � exclusividade do Brasil.

"Os estudos sobre percep��o mostram que as pessoas tendem a se classificar no meio, como classe m�dia. Pouca gente se classifica como pobre ou como rica", diz o professor de Princeton e pesquisador da desigualdade Marcelo Medeiros.

Mas por qu�?

Estudiosa do tema, Asli Cansunar, professora do departamento de Ci�ncia Pol�tica na Universidade de Washington, nos EUA, ressalta que esses resultados s�o observados pelo menos desde os anos 1970.

A explica��o � relativamente simples. A grande maioria das pessoas n�o consome informa��es sobre estat�sticas econ�micas no dia a dia. Na falta de dados t�cnicos, a maneira de colocar sentido no mundo � por meio de compara��es — � olhar em volta e se comparar aos amigos, familiares, �s celebridades na TV ou, mais recentemente, aos influencers do Instagram.

O problema, nesse caso, � que a amostra � enviesada, j� que o cotidiano est�, de maneira geral, dominado por imagens que nos levam a associar o topo da pir�mide � ostenta��o: algu�m que dirige um carro importado, que faz viagens internacionais, que consome produtos de luxo.

"E quando voc� se compara a essas pessoas, claro, vai dizer: 'Imagina, eu n�o sou rico, sou classe m�dia! Sou apenas algu�m que est� se esfor�ando para comprar um carro novo e conseguir viajar nas f�rias'. Na vida real, entretanto, se voc� olhar as estat�sticas, vai ver que est� ganhando muito mais do que muita gente no seu entorno", destaca a pesquisadora.


Man reading a book in the sunshine
'Linha de riqueza' pode ser um conceito subjetivo (foto: Getty Images)

Mas ent�o quem est� no 'topo' � rico?

Para al�m das percep��es individuais, a pr�pria no��o de riqueza � subjetiva. N�o h� um consenso acad�mico sobre o que seria uma "linha de riqueza", por exemplo. Ser rico � ter dinheiro suficiente para poder parar de trabalhar? � morar em um determinado bairro da cidade? � ter um carro importado?

"A defini��o do que � ser rico � uma ferramenta, depende do que se quer fazer com ela", pontua Medeiros.

Cansunar tamb�m ressalta que a no��o de riqueza � relativa - e pode variar inclusive dentro de um mesmo pa�s. No Reino Unido, ela exemplifica, ganhar mais do que as 80 mil libras por ano (R$ 590 mil), que coloca algu�m entre o 1% no topo da pir�mide, n�o necessariamente significa uma vida confort�vel em Londres para quem tem de pagar aluguel.

A pr�pria pir�mide de rendimentos — que, ali�s, n�o contabiliza a riqueza estocada em patrim�nio, a recebida em heran�a — pode variar, a depender da metodologia. O IBGE usa suas pesquisas domiciliares, que, tradicionalmente, acabam subestimando a renda de quem est� no topo.

Seja por uma quest�o ligada � seguran�a, por constrangimento ou porque realmente n�o sabem quanto ganham na ponta do l�pis, os mais ricos acabam informando valores menores aos recenseadores do instituto.

"O IBGE faz um trabalho fant�stico, mas esse � um fen�meno que acontece no mundo inteiro. Ent�o as pesquisas do IBGE captam muito bem, vamos dizer, os 90% mais pobres da popula��o", pontua o soci�logo e pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada) Pedro Ferreira de Souza.

"Nos 10% mais ricos, quanto mais para cima, maior a subestima��o", afirma o especialista, que � autor do livro Uma Hist�ria da Desigualdade, vencedor do pr�mio Jabuti em 2019.

Por isso, pesquisadores como Souza utilizam tamb�m os dados da Receita Federal do Imposto de Renda, que captam melhor a renda que vem de investimento e aplica��es financeiras, por exemplo.

Entre os 5% mais ricos, conforme os c�lculos que ele fez com dados de 2015, a renda m�dia apontada pelo levantamento do IBGE era 25% menor do que usando o IRPF. Para o 1% mais rico, a linha de corte nos dados do IBGE era 45% menor do que no IRPF — pouco menos da metade.

Ainda que a linha de corte, na pr�tica, seja provavelmente superior aos R$ 28 mil apontados pela Pnad Cont�nua, o topo da pir�mide ainda � formado pelo grupo heterog�neo que inclui dos "super ricos" a profissionais liberais e parte do funcionalismo p�blico.

O teto para o sal�rio dos servidores federais � hoje de R$ 39 mil. Muitos, contudo, recebem valores superiores com a inclus�o de benef�cios como aux�lio alimenta��o e moradia.

"Se voc� ganha um sal�rio muito alto, e em alguns casos muito acima do teto — principalmente no poder judici�rio, a gente v� que � comum — com o tempo vai acumular renda e isso vai virar rendimento de capital", acrescenta o soci�logo.

"O p�blico leigo �s vezes acha que todo funcion�rio p�blico, ou pelo menos todo funcion�rio p�blico federal, est� no 1%. Tem um exagero grande a�, mas tamb�m n�o � de todo falso, certamente tem muita gente da elite do funcionalismo e, vamos ser sinceros, da elite pol�tica [no 1%]."

Como estudioso da desigualdade, encontrada no Brasil em n�vel "extremo", o pesquisador acredita que esse possa ser um bom par�metro para se definir riqueza no Brasil.

"Onde est� a concentra��o de renda que torna o Brasil muito diferente da Europa? Bom, est� no topo. � ali o 1%, os 5% mais ricos, talvez em algum grau voc� possa falar que s�o os 10% mais ricos, alguma coisa assim. Mas a concentra��o grande mesmo � bem no topo, ent�o fazer esse recorte — falar em 1% da popula��o, 5% da popula��o, acho que n�o tem como dizer que n�o � rico, n�? Isso exigiria umas cambalhotas ret�ricas que n�o s�o muito f�ceis", avalia Souza.


Mão segura moeda de um real
90% dos brasileiros t�m renda mensal inferior a R$ 3,5 mil (foto: Getty Images)

Por que isso importa?

Chamar aten��o para o topo, na avalia��o do soci�logo, � importante especialmente por dois motivos.

Primeiro, por uma quest�o pol�tica. Quando uma fra��o pequena da popula��o concentra um percentual grande dos recursos, ela tende a "usar todos os meios poss�veis para converter o poder econ�mico em influ�ncia pol�tica e, assim, conseguir enriquecer ainda mais".

"Isso n�o � uma quest�o necessariamente de car�ter individual, mas uma din�mica social que a gente v� em diversos pa�ses — e atrapalha o funcionamento da democracia."

Segundo, ele acrescenta, porque entender quem tem mais abre caminho para o desenvolvimento de pol�ticas voltadas para melhorar o bem-estar dos mais pobres, como o financiamento de servi�os p�blicos de transporte e sa�de para atender essa popula��o.

"O jeito mais eficiente de fazer isso � pegar de quem tem mais, de onde o dinheiro t� em tese sobrando — pelo menos em algum grau, ningu�m est� falando em confisco, mas do padr�o de Estados Unidos e Europa —, tributar onde tem mais dinheiro concentrado e gastar onde tem mais necessidades", avalia.

"E para isso a gente precisa conhecer os mais ricos — e a� n�o adianta voc� tamb�m ter uma defini��o de riqueza que seja s� o Neymar, n�?"

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