Emprego cresce em grandes cidades de Minas, mas ritmo � lento
BH, Contagem, Betim, Nova Lima, Uberl�ndia, Uberaba e Ipatinga puxam rea��o, com volta a 10,1 milh�es de ocupados no estado, embora ainda abaixo de 2019
Isabele Vit�ria Gomes, estudante de enfermagem e confeiteira (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Ap�s ter enfrentado a dura vida sem trabalho durante dois anos e meio, o vendedor Victor Hugo Solano, de 24 anos, foi beneficiado pela recupera��o do emprego neste ano, em Belo Horizonte. “Gosto muito da �rea de vendas e espero dar o meu melhor a partir de agora, que voltei a trabalhar”, diz ele, entusiasmado com o trabalho conquistado numa sapataria instalada na Savassi, Regi�o Centro-Sul da capital.
Grandes munic�pios, al�m de BH, a exemplo de Contagem, Betim e Nova Lima, na Regi�o Metropolitana; Uberl�ndia e a vizinha Uberaba, no Tri�ngulo; e Ipatinga, no Vale do A�o mineiro, tiveram dinamismo para impulsionar as vagas no estado. Com o f�lego dessas cidades que t�m expressiva participa��o na produ��o mineira de bens e servi�os, Minas chegou � marca de 10,1 milh�es de pessoas ocupadas de janeiro a setembro, �ltimo dado dispon�vel em estudo sobre o mercado de trabalho feito pela Funda��o Jo�o Pinheiro e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese)
A popula��o ocupada em Minas cresceu 10,8% frente ao �ltimo trimestre do ano passado. Apesar disso, o total de empregados no estado ainda est� 2,2% abaixo do universo do terceiro trimestre de 2019, per�odo pr�-pandemia de COVID-19, quando 10,3 milh�es estavam trabalhando, o que leva a um cen�rio de incertezas no pr�ximo ano. Ouro Preto e Jeceaba, na Regi�o Central do estado; Pedra do Indai�, no Centro-Oeste; Porteirinha, no Norte; e Guap�, no Sul, ainda vivem consequ�ncias negativas da crise econ�mica e foram as cidades que demitiram mais que contratam at� setembro.
O avan�o da gera��o de empregos resultou, em boa parte, do aumento da informalidade. Esse fen�meno ocorreu depois de expressivo crescimento do universo de trabalhadores sem carteira em 2020 no estado, equivalente a 221 mil pessoas a mais, representando acr�scimo de 20,6%. Enquanto isso, foram criados 203 mil postos de trabalho com carteira, eleva��o de 5,8% no ano passado. Neste ano, de julho a setembro, Minas registrou mais 81 mil empregos formais e 102 mil sem registro, em compara��o com o per�odo de abril a junho.
"� muito mais dif�cil e cansativo trabalhar na rua"
Isabele Vit�ria Gomes, estudante de enfermagem e confeiteira
“A informalidade � uma preocupa��o. Percebemos muitas fal�ncias de empresas durante a pandemia e ainda n�o sabemos o quanto isso afeta os trabalhadores de baixa qualifica��o. A maioria perde empregos e vai para a informalidade, o que agrava a disparidade no mercado de trabalho”, afirma Denize Maia, pesquisadora da Funda��o Jo�o Pinheiro.
Segundo ela, as atividades com maior n�vel de qualifica��o ser�o as que ter�o mais ofertas de emprego no futuro. “Alguns estudos indicam que as ocupa��es que v�o se expandir mais s�o as de m�o de obra especializadas, como ci�ncia, tecnologia, sa�de e engenharia. Por outro lado, as que ter�o menor demanda s�o as voltadas para servi�os como alimenta��o, atividades administrativas e de atendimento ao p�blico”, destaca a pesquisadora.
A estudante de enfermagem Isabele Vit�ria Gomes, de 21 anos, precisou recorrer ao trabalho informal para pagar os estudos. Demitida no in�cio do ano de uma loja de roupas masculinas, ela busca recursos por meio da venda de doces caseiros pelas ruas do Centro de Belo Horizonte.
“Quando era mais nova, fiz o curso de confeitaria. Tinha que conseguir uma forma de ganhar meu dinheiro para pagar a mensalidade da faculdade, j� que fiquei sem trabalho. At� procurei emprego com carteira assinada, mas n�o encontrei. E minha fam�lia me sugeriu eu investir na atividade. Estou satisfeita, mas � muito mais dif�cil e cansativo trabalhar na rua”, afirma a estudante, que espera conquistar vaga de est�gio na �rea que escolheu em 2022 e tamb�m investir no neg�cio pr�prio.
Fernando de Jesus Silva, pedreiro sem carteira de trabalho (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
"Preciso aumentar minha renda, porque minha situa��o n�o est� f�cil"
Fernando de Jesus Silva, pedreiro sem carteira de trabalho
Onde encontrar
Em Minas Gerais, Belo Horizonte � l�der no ranking de admiss�es formais (400,7 mil) e demiss�es (344,8 mil) de janeiro at� outubro, segundo os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Minist�rio do Trabalho e Previd�ncia. O saldo de empregos com carteira assinada na capital, que comanda o carro-chefe dos mai- ores munic�pios em rela��o ao Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produ��o de bens e servi�os do estado), foi de 56.926 oportunidades.
Por sua vez, em Uberl�ndia, respons�vel pelo segundo PIB de Minas, a diferen�a entre contrata��es e dispensas somou 12.559 postos de trabalho. O munic�pio foi seguido por Contagem (10.868), Betim (8,5 mil) e Ipatinga (5.860). Na dire��o oposta, o pior desempenho do emprego formal foi observado em Ouro Preto, na Regi�o Central do estado, onde 930 vagas foram eliminadas a mais que as admiss�es. Em Porteirinha, no Norte, o saldo de oportunidades no mercado de trabalho ficou negativo em 329 vagas.
Apesar do aumento da popula��o ocupada no estado, neste ano, o n�mero de desempregados em Minas permanece elevado, de 1,2 milh�o, de acordo com a edi��o de julho a setembro �ltimo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) Cont�nua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). A taxa de desemprego recuou de 12,6% entre abril e junho para 10,7% no trimestre terminado em setembro. Houve queda de 13,2% no n�mero de desocupados.
Regina Farah, empres�ria do setor de moda (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
"Se tudo evoluir, podemos refor�ar nosso quadro no futuro"
Regina Farah, empres�ria do setor de moda
F�lego curto das vagas para incluir 1,2 milh�o
Com mais de 1,8 milh�o de contrata��es no acumulado de janeiro a outubro, Minas Gerais teve saldo l�quido positivo de 300,6 mil empregos formais, descontadas 1,4 milh�o de demiss�es. Ainda que os resultados sinalizem esperan�a para os desempregados, a fila de 1,2 milh�o de pessoas que est�o em busca de emprego � gigantesca. Nela est� o pedreiro Fernando de Jesus Silva, de 32 anos, que sobreviveu os �ltimos anos exercendo atividades sem carteira assinada.
A meta de Fernando Silva, agora, � conquistar emprego formal. “Preciso aumentar minha renda, porque minha situa��o n�o est� f�cil, pelo contr�rio, est� muito complicada. Temos que buscar sempre uma melhora. H� alguns anos vivo de servi�os sem carteira assinada, mas um amigo teve um acidente de trabalho e isso me motivou a conseguir um trabalho fixo”.
Quem teve a sorte de voltar ao mercado foi o vendedor Victor Hugo Solano, de 24, contratado em meados de outubro. O professor de economia da UFMG M�rio Rodarte avalia que o Brasil ainda tem desafios para atingir um patamar satisfat�rio de recupera��o dos empregos perdidos durante a crise. “A pandemia foi um momento excepcional, com redu��o da taxa de admiss�es e a distribui��o do aux�lio emergencial para pessoas que sa�ram do mercado de trabalho. Mas, quando voc� compara ao per�odo pr�-pandemia, ainda temos um n�vel de ocupa��o menor, at� porque houve taxa de crescimento zero no Brasil. Mas a recupera��o ainda se mostra t�mida.”
Segundo ele, as a��es praticadas pelo Minist�rio da Economia para frear a retra��o podem tomar efeito contr�rio em 2022. “O aumento da taxa b�sica de juros praticada pelo governo, que alguns analistas acreditam ser uma medida correta para o controle da infla��o, tende a inibir o consumo e o investimento. H� um certo pessimismo de que essa recupera��o continue sendo lenta, podendo ser convertida em nova contra��o devido � pol�tica monet�ria”.
Para quem tem a incumb�ncia de contratar, o sentimento ainda � de cautela. Propriet�ria da rede de lojas Betina, a empres�ria Regina Farah diz que s� vai readmitir funcion�rios se o faturamento tiver aumento consider�vel no pr�ximo ano. “Ficamos dois anos com o com�rcio fechado e tivemos de reduzir o quadro de trabalhadores. Estamos vendo uma melhora na economia com a reabertura das atividades e esperamos seguir nesse ritmo. Se tudo evoluir, podemos refor�ar nosso quadro no futuro”, afirma.