
Elei��es e at� mesmo crise sanit�ria s�o fen�menos com impactos na economia conhecidos e j� enfrentados por empresas centen�rias no Brasil. Para o grupo sider�rgico Gerdau, que chegou aos 121 anos neste m�s, a diferen�a, agora, num come�o de ano conturbado com o avan�o do coronav�rus e a tens�o pol�tica na mira do pleito de outubro, est� no n�vel alto de resili�ncia adquirida internamente.
O presidente da empresa, Gustavo Werneck, defensor de uma cultura de transforma��o implementada na Gerdau nos �ltimos anos, afirma que desse aprendizado surgiram simplicidade, agilidade, engrenagem digital e busca incessante de renova��o.
Engenheiro formado pela UFMG, mineiro de Belo Horizonte, 49 anos, ele conduziu a companhia – maior produtora brasileira de a�o e fornecedora da Am�rica Latina –, a lucro recorde no ano passado e refor�a a estrat�gia de diversifica��o para atendimento a setores que despontam, a exemplo das energias renov�veis.
Nesta entrevista ao Estado de Minas, embora confiante na recupera��o da economia, Werneck admite que para crescer o pa�s precisa de mudan�as estruturais. “N�o tenho d�vidas de que uma agenda de reformas � fundamental para o Brasil crescer de forma mais sustent�vel.”
A Gerdau encerrou o 3º trimestre de 2021 com ganho l�quido de R$ 4,6 bilh�es e iniciou no estado ciclo estrat�gico de investimentos de R$ 6 bilh�es previsto para cinco anos. Na semana passada, a companhia se tornou patrocinadora oficial do Campeonato Mineiro de Futebol 2022.
A Gerdau encerrou o 3º trimestre de 2021 com ganho l�quido de R$ 4,6 bilh�es e iniciou no estado ciclo estrat�gico de investimentos de R$ 6 bilh�es previsto para cinco anos. Na semana passada, a companhia se tornou patrocinadora oficial do Campeonato Mineiro de Futebol 2022.
Como o senhor lida com a dificuldade de fazer proje��es e conduzir projetos num cen�rio que, hoje, une crise econ�mica e disputa pol�tica no Brasil?
A Gerdau completou, neste m�s, 121 anos de hist�ria. Ao longo de todas essas d�cadas, passamos por momentos desafiadores no Brasil e no mundo. Foram in�meras elei��es e at� pandemias, como a gripe espanhola (1918). Toda essa experi�ncia e bagagem tornaram a Gerdau muito resiliente pra enfrentar momentos como esse que estamos vivemos. Um dos nossos aprendizados � que precisamos sempre nos reinventar. Por isso, a transforma��o cultural pela qual a Gerdau passou nos �ltimos anos criou uma base s�lida para que pud�ssemos superar os momentos mais desafiadores. Esse ciclo foi determinante para que a companhia se tornasse mais simples, �gil, digital e mais inovadora. Essa estrutura permitiu que tom�ssemos decis�es r�pidas nas mais variadas frentes, desde a prioriza��o da sa�de e da seguran�a das pessoas aos consistentes resultados financeiros. Olhando para o futuro, permane�o otimista e mantenho nossa vis�o de crescimento de longo prazo.
O ano come�ou com revis�es para baixo das previs�es de crescimento do Brasil. Embora com resultado recorde em 2021, o senhor considera que a nova onda de COVID-19 e as dificuldades de recupera��o da economia, como a infla��o alta, podem reverter o cen�rio positivo esperado pela companhia para 2022?
Seguimos acompanhando de perto o impacto da pandemia, e apesar de todos os desafios em curso e daqueles j� mapeados para o ano, seguimos otimistas. Contribui para essa expectativa a previs�o da manuten��o da demanda por a�o em bons patamares, resultado do desempenho positivo dos setores da constru��o civil e industrial, com destaque para a agricultura (m�quinas, tratores, colhedeiras), linha amarela (constru��o rodovi�ria e terraplenagem), m�quinas e equipamentos e energias e�lica e solar. Segundo o Instituto A�o Brasil, a produ��o brasileira de a�o bruto dever� crescer 2,2%, alcan�ando 36,8 milh�es de toneladas em 2022. As vendas internas devem aumentar 2,5% na compara��o com 2021, chegando a 23,3 milh�es de toneladas.
Outro foco de preocupa��o � com o sistem�tico adiamento das reformas e a dificuldade de o governo emplacar concess�es de infraestrutura. Falta prioridade ou for�a pol�tica para conduzir esses temas?
Os investimentos em infraestrutura continuam sendo destravados. Al�m de obras de mobilidade e privatiza��o de estradas, destaco os leil�es para a instala��o de infraestrutura para energia renov�vel. Em 2016, iniciamos a produ��o de chapas grossas em nossa planta de Ouro Branco (MG) e, desde ent�o, estamos trabalhando muito pr�ximos aos nossos clientes no desenvolvimento de novos produtos e solu��es. Em 2021, por exemplo, foram constru�dos 20 parques fotovoltaicos no Brasil e 600 novas torres de energia e�lica, que usam chapa grossa em sua constitui��o. Mas n�o tenho d�vidas de que uma agenda de reformas � fundamental para o Brasil crescer de forma mais sustent�vel.
Como presidente da Associa��o Latino-americana do A�o (Alacero), quais s�o os desafios que o senhor identifica para que os pa�ses da regi�o cres�am?
A ind�stria do a�o na Am�rica Latina tem um papel relevante na gera��o de empregos e riqueza, e os n�meros refor�am sua import�ncia em um cen�rio de retomada econ�mica. Em 2021, ao mesmo tempo em que o PIB deve avan�ar 6%, a produ��o de a�o deve crescer 16%, totalizando 65 milh�es de toneladas. A regi�o j� produz a�o mais limpo e sustent�vel que seus concorrentes e tem condi��es de ser protagonista no combate �s mudan�as clim�ticas. Nesse sentido, a Alacero est� trabalhando em alguns projetos junto ao Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), e uma das frentes � justamente a descarboniza��o do setor. O crescimento da ind�stria do a�o latino-americana tamb�m passa pela corre��o de assimetrias perante outros players globais que afetam o n�vel de competitividade da regi�o, bem como do equacionamento de problemas estruturais dos pa�ses. Vari�veis como uma alta carga tribut�ria, baixa disponibilidade de financiamento local e gargalos log�sticos impedem o a�o latino-americano de competir de igual para igual com demais produtores globais.
Como o senhor tem avaliado o cen�rio da economia do ponto de vista do cronograma que foi definido para projetos da companhia em Minas?
Nosso plano de investimentos de R$ 6 bilh�es para a amplia��o da produ��o e moderniza��o tecnol�gica em Minas, hoje o estado mais importante para as opera��es da Gerdau, segue conforme o previsto. Este ciclo faz parte da estrat�gia global de crescimento da Gerdau e reflete as nossas iniciativas de inova��o e a evolu��o do nosso pilar de sustentabilidade. Estamos contemplando todas as regi�es onde a companhia tem atua��o no estado, beneficiando dezenas de munic�pios mineiros, em atividades de produ��o de a�o, minera��o, produ��o de energia renov�vel e a atividade de florestas plantadas. Um exemplo do que j� fizemos s�o os mais de R$ 75 milh�es investidos, em 2021, em projetos ambientais na usina de Divin�polis, investimento recorde para a unidade, que opera h� 27 anos.
O senhor disse recentemente que a companhia deve trabalhar com alerta m�ximo para se reinventar, investindo em novos neg�cios, para n�o desaparecer. Como Minas se enquadraria nessa pol�tica?
A Gerdau realiza de forma cont�nua estudos voltados para inova��o e novas oportunidades de neg�cios. E, em Minas Gerais, polo estrat�gico para n�s, lan�amos um olhar especial para o mercado de energias renov�veis, com o desenvolvimento de parques fotovoltaicos para gera��o de energia limpa. A inten��o � aprimorar ainda mais a nossa matriz energ�tica e deix�-la mais limpa e diversificada, refor�ando o nosso comprometimento com um futuro cada vez mais sustent�vel. Em Minas, tamb�m estamos apostando no crescimento da nossa base florestal. Hoje, somos o maior produtor mundial de carv�o vegetal. Essa mat�ria-prima renov�vel � uma das nossas apostas, junto com a reciclagem de sucata, para avan�armos na nossa agenda de diminui��o de emiss�es de gases de efeito estufa. A Gerdau j� emite, hoje, menos da metade da m�dia mundial do setor de produ��o de a�o, e nossos investimentos em Minas nos ajudar�o a avan�ar nessa tem�tica.
Que expectativa o senhor tem de acelera��o de startups pela Ventures Gerdau?
Os programas de acelera��o s�o um dos pilares de inova��o, pois possibilitam entender sinergias e selecionar parceiros, reunindo a for�a de uma empresa centen�ria a novas ideias e pessoas. Focado em construtechs (empresas que crescem em escala, atuando na cadeia da constru��o civil), o primeiro batch (ciclo de sele��o) aconteceu no Brasil, a partir de agosto de 2020. Foram 15 as startups selecionadas e cinco empresas efetivamente aceleradas. Tornar a segunda rodada de sele��o internacional e explorar outros mercados foi um passo natural, j� que a Gerdau Next, divis�o de novos neg�cios da Gerdau, passou recentemente a estar presente nos Estados Unidos com uma equipe no Vale do Sil�cio. O segundo ciclo buscou, em 2021, startups focadas em oportunidades sustent�veis e inteligentes, como captura de carbono e CO2 e reciclagem. Em Minas Gerais, participamos de um projeto exclusivo para a acelera��o de startups. Trata-se do Gerdau Challenge Fiemg Lab, um programa de inova��o aberta que tem o objetivo de testar novas solu��es nos desafios das nossas opera��es em Minas. O programa tem sido um sucesso e vamos continuar apoiando.
Qual � o cronograma que o senhor espera para a nova empresa resultado de co- opera��o com a Shell Brasil para atuar em energia solar em Brasil�ndia de Minas?
A Shell Brasil e a Gerdau assinaram um termo de coopera��o para o desenvolvimento de um parque fotovoltaico no munic�pio de Brasil�ndia de Minas, norte de Minas Gerais. O termo estabelece as premissas para a discuss�o e constitui��o de uma joint venture. Com capacidade instalada de 190MWdc, o parque Aquarii fornecer� parte da energia limpa para as unidades de produ��o de a�o da Gerdau e outra para ser comercializada no mercado livre atrav�s da comercializadora de energia da Shell, a partir de 2024. A joint venture, que ter� participa��o igualit�ria das duas empresas, faz parte da estrat�gia de transi��o energ�tica e descarboniza��o de ambas. Trata-se de um passo volunt�rio da Shell Brasil na oferta de mais produtos e servi�os energ�ticos renov�veis e sustent�veis, em total alinhamento com a busca de uma matriz de energia mais limpa pela Gerdau. A Aquarii tamb�m vender� energia para consumidores livres, ajudando a aumentar o parque gerador do estado de Minas Gerais e contribuindo para a seguran�a energ�tica da regi�o com mais energia renov�vel.
Quais s�o as medidas previstas para seguran�a de barragens, tendo em vista a nova for�a-tarefa criada pelo Minist�rio P�blico Federal, o MP estadual e o governo mineiro, que exigem a��es preventivas?
A Gerdau tem apenas uma barragem de rejeitos, a barragem dos Alem�es, localizada em Ouro Preto. No nosso plano de investimento, anunciado em agosto do ano passado, est� prevista uma s�rie de a��es voltadas para a minera��o. Uma delas � a descaracteriza��o dessa barragem, que est� em fase de obras. Al�m disso, em 2021, a Gerdau passou a adotar a tecnologia de empilhamento a seco de rejeitos, que responde por 85% da gera��o, e eliminaremos completamente o uso de barragens nos pr�ximos anos. As nossas estruturas de minera��o est�o est�veis, sem altera��o no n�vel de seguran�a e o monitoramento � realizado 24 horas por dia, sete dias por semana, em tempo real, al�m de inspe��es e auditorias peri�dicas.